Sem direção e pressionada pelo mercado, a Europa troca as elites políticas locais por tecnocratas, adia eleições e dá prioridade à aprovação de medidas de austeridade para enfrentar a pior crise nos últimos 70 anos.
A reportagem é de
Jamil Chade e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 11-11-2011.
Na Itália, manobras para tirar imediatamente do poder o primeiro-ministro
Silvio Berlusconi ganhavam força ontem, na esperança de acalmar os mercados e evitar a convocação de eleições proposta pelo premiê. Um governo de transição liderado pelo economista
Mario Monti já poderia assumir na segunda-feira.
Enquanto isso, em
Atenas, partidos chegaram a um consenso para passar o poder ao ex-vice-presidente do Banco Central Europeu,
Lucas Papademos, com a missão de evitar a interferência de partidos locais e aprovar o pacote de resgate da UE ao país.
A crise da dívida, que já era profunda, ganhou nova dimensão diante da crise política que passou a dominar os países afetados pela dívida.
Christine Lagarde, que comanda o Fundo Monetário Internacional, alertou que a incerteza sobre o sucessor de
Berlusconi estaria deixando os mercados nervosos. "Ninguém sabe exatamente quem surgirá como líder. Essa confusão é particularmente séria para a volatilidade", disse. "Clareza política conduz a mais estabilidade."
Diante da pressão, as tratativas para a formação de um novo governo indicavam que os italianos seguiriam um padrão parecido com o dos gregos, de formação de um governo de união nacional liderado por um tecnocrata e vigiado de perto por Bruxelas. O país tem uma dívida pública de 120% do PIB e se transformou no epicentro da crise europeia. O temor de Bruxelas é de que uma quebra da Itália signifique o desmonte da zona do euro.
Berlusconi havia aceitado renunciar diante da pressão do mercado por medidas de austeridade. Mas o faria após a aprovação das reformas e convocando eleições. Tudo indica que o pacote pode ser aprovado entre hoje e amanhã. Mas a ideia de eleições ainda não atendia à urgência do mercado e da UE.
Ontem, o projeto de convocar eleições começava a ser enterrado, assim como a era Berlusconi.
Monti, atual reitor da Universidade Bocconi, surgia com força. Ele foi o comissário de Concorrência da UE e fez fama ao ignorar o lobby político e bloquear a fusão da GE com a Honeywell.
Em Bruxelas, a esperança é de que sua nomeação ocorra já antes da segunda-feira, para tranquilizar os mercados.
Monti teria o apoio do partido de
Berlusconi, o PDL, e do presidente
Giorgio Napolitano, que nos últimos dias tomou as rédeas do país, mesmo com 86 anos.
Grécia
Nos últimos dias, a Grécia viveu parte daquilo que pode ocorrer na Itália. Ontem, depois de dias de impasse, os principais partidos chegaram a um acordo para a formação de um governo que atendesse as exigências da UE e do mercado.
George Papandreou pôs fim a seu governo de apenas dois anos, depois de ter perdido a confiança dos demais líderes europeus.
Mas a escolha do novo governo levou quatro dias, com partidos brigando pelo poder e alimentando as incertezas mundiais. A opção foi por
Papademos, que jamais foi eleito para nenhum cargo e deixou claro que não é um político. Porém, é o homem de confiança dos bancos internacionais e de Bruxelas.
Papademos foi professor da Universidade Columbia entre 1975 e 1984, trabalhou no Fed e foi presidente do BC grego ao preparar o país para adotar o euro. De lá para cá, foi vice-presidente do BCE por oito anos e, na prática, conduziu o banco europeu até o ano passado.
Ao Estado, políticos gregos admitiram por telefone que nunca, nos últimos 20 anos, a pressão feita por Bruxelas foi tão intensa na política local como agora. "É como se estivéssemos vivendo uma intervenção", disse o político, que pediu para não ter o nome revelado.
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Itália e Grécia terão governos tecnocratas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU