Diplomatas e economistas da França e da Alemanha estariam negociando uma reforma radical da zona do euro para contornar a crise das dívidas na Europa e acelerar a integração econômica na
União Europeia (UE).
A reportagem é de
Andrei Netto e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 10-11-2011.
A revelação foi feita ontem pelas agências de notícias France Presse e Reuters e envolveria a hipótese de abandono da moeda única por países não favoráveis à federalização da política macroeconômica no bloco.
Pelo acordo, uma nova zona do euro seria formada com "países centrais" - ou core countries -, que seriam seguidos de nações dispostas a abrir mão da soberania econômica.
De acordo com as agências de notícias, as negociações são tratadas como secretas em Paris e Berlim em razão da instabilidade nos mercados financeiros e da gravidade do tema.
Em linhas gerais, o projeto em discussão envolveria a criação de um "núcleo federal" na
União Europeia, formado por países da zona do euro dispostos a integrar radicalmente suas políticas fiscais e econômicas.
O objetivo seria reduzir os desequilíbrios de desenvolvimento entre diferentes países, minimizando também o risco de crises nacionais que ponham os 17 países da moeda única em perigo.
A nova zona do euro seria formada de países "voluntários", ou seja, que aceitem as condições para ingressar no clube. E as regras seriam duras.
Entre as exigências, estaria uma alteração no sistema de voto da
União Europeia, que hoje toma decisões por unanimidade. Com a reforma, a importância do voto de cada país seria definida por sua importância econômica para o bloco.
A zona do euro contaria também com um secretário-geral, com sede em Bruxelas, que reuniria regularmente os chefes de Estado e de governo para as deliberações mais relevantes.
Há pelo menos quatro meses o presidente da França,
Nicolas Sarkozy, protesta contra o sistema de voto da União Europeia, que trava decisões estratégicas e urgentes.
No mês passado,
Sarkozy também anunciou, ao lado da chanceler da Alemanha,
Angela Merkel, a convergência das políticas fiscal e macroeconômica dos dois países.
A executiva alemã, por sua vez, vem pregando a reforma total dos tratados europeus, de forma a promover uma maior integração econômica no bloco.
"Políticas domésticas"
Ontem, em declaração a correligionários,
Merkel comentou os resultados obtidos pelo G-20 em Cannes e afirmou: "O que conseguimos em
Cannes foi um sentimento de que não há mais "políticas domésticas". O "doméstico" quer dizer dentro da zona do euro". Para exemplificar, a chanceler completou: "A
Grécia não pode mais decidir sozinha se deve ou não convocar um referendo".
As informações obtidas pelas duas agências de notícias se baseiam em fontes cuja identidade até aqui não foram reveladas. Os dois governos não confirmam as negociações.
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Nova zona do euro é debatida em sigilo na UE - Instituto Humanitas Unisinos - IHU