09 Novembro 2011
O venerável Samdhong Rinpoche representou o Dalai Lama na recente reunião interreligiosa em Assis convocada pelo Papa Bento XVI.
Íntimo colega do Dalai Lama, Lobsang Tenzin (foto) nasceu no leste do Tibete em 1939, mas com 5 anos foi reconhecido, segundo a tradição budista tibetana, como a reencarnação do 4. º Samdhong Rinpoche e foi lhe outorgado o título com o qual é conhecido até hoje. Dois anos depois, fez os seus votos como monge. Foi para o exílio com o Dalai Lama em 1959, após a ocupação do Tibete pelos chineses, e agora vive com ele em Dharamsala, na Índia.
O Rinpoche Samdhong foi eleito primeiro-ministro da Administração Central Tibetana (Governo Tibetano no Exílio), em 2001, permanecendo no cargo até abril de 2011. Nesta função, viajou muito para obter apoio a causa tibetana e para explicar as propostas do Dalai Lama para uma solução negociada com a China sobre a questão da autonomia para o Tibete.
Destacado acadêmico tibetano do budismo, também é uma autoridade sobre os ensinamentos de Mahatma Gandhi. Nesta entrevista, concedida em 28 de outubro, fala sobre o encontro de Assis, a dramática situação no Tibete, a auto-imolação dos monges em protesto contra a repressão da China. Sua convicção é de que é possível chegar a um acordo amigável com a China sobre autonomia do Tibete e o Dalai Lama retornará um dia para casa.
A entrevista foi concedida à Gerard O’Connell e publicada pelo Vatican Insider, 06-11-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O que significou para você o encontro de Assis, como o interpreta?
Foi maravilhoso! Muitos praticantes de diferentes religiões e líderes religiosos se reuniram em uma plataforma, oraram juntos, interagiram com o público e voltaram a se comprometer com a paz e a não-violência, que é o que mais se precisa neste momento. Foi iniciativa apropriada por sua santidade, o Papa Bento XVI. Após a primeira iniciativa em 1986, que foi inovadora, agora se viu sua continuidade e fortalecimento. Creio que todos sentiram que isso é muito útil.
O Dalai Lama participou da reunião de 1986, mas não pôde comparecer desta vez. Por quê?
Sua santidade, o Dalai Lama foi convidado desta vez, teria gostado muito de participar, porque mantém uma memória afetuosa de 1986, mas o convite veio um pouco tarde e já havia se comprometido a viajar para o Japão, então pediu que o representasse.
Você tem desempenhado um papel importante na história de seu país. O que significou para você que o Vaticano e o Papa tenham convidado representantes religiosos do povo tibetano para esta reunião?
É muito consideração do papa, apesar das possíveis retaliações por parte de algumas pessoas na China. Ele se dispôs receber sua antidade o Dalai Lama, assim como os seus predecessores o convidaram em 1986. O Vaticano tem uma atitude de apoio para com a causa e o povo tibetano, e, portanto, desta vez também convidaram sua santidade o Dalai Lama. Por esta razão, creio que é um verdadeiro gesto de relação interreligiosa harmoniosa.
Você me disse que vê o convite do Vaticano como um sinal de compreensão da situação do seu país, onde recentemente jovens monges se imolaram em protesto contra a repressão chinesa.
Sim, de fato, a situação no Tibete está piorando a cada ano. Desde 2008, as medidas repressivas aumentaram e agora é quase impossível viver sob elas, particularmente para os monges e as monjas. A liberdade de culto tem sido brutalmente violada e desespiritualizada. Desde março, nove jovens se imolaram, seis monges e três leigos, incluindo uma monja. O maior não tinha ainda 30 anos, e o mais novo apenas 17. Isso mostra que as novas gerações já não podem tolerar medidas repressivas, a tortura e a injustiça. Mas, em função de que estão comprometidos com a não-violência, não recorrem a resistência violenta contra outra pessoa, simplesmente se condenam ao auto-sofrimento e se imolam para mostrar o seu ressentimento e sua insatisfação.
Espero que a comunidade internacional amante da paz e compreensiva com a nossa causa nos ajude. Apesar de toda a injustiça , há pouca oposição no campo político. No entanto, não estamos decepcionados porque acreditamos que a verdade prevalecerá, mais cedo ou mais tarde, e que a questão tibetana será resolvido amigavelmente.
Esses jovens que se imolam, são considerados mártires na tradição budista?
Na tradição budista não é algo que se recomende, é uma espécie de suicídio. Dar a vida não é algo apreciado. Mas nesta situação, não há saída, de modo que o sacrifício não será em vão, cedo ou tarde, trará resultados. As pessoas os honram porque vêem isso como o sinal supremo do amor destes jovens para o seu país, sua cultura, e por sua santidade o Dalai Lama. Os nove que se imolaram fizeram dois pedidos: que o Dalai Lama retorne ao Tibete e que o Tibete tenha liberdade religiosa.
Você prevê o retorno do Dalai Lama e algum dia a conquista da liberdade religiosa por parte do Tibete?
Sim, sim! Pode demorar um longo tempo. Mas se você olhar para a Índia, você vê que, como país, viveu sob a ocupação estrangeira 400 anos, e nós (no Tibete) apenas 60. Na história de um país, 100 anos não é um período tão longo, então você pode ter certeza que iremos retornar.
Você não tem medo de que a cultura do seu país seja destruída antes de que se chegue a esse momento?
O genocídio cultural tem acontecido no Tibete, mas a cultura tibetana ainda está viva, particularmente na diáspora, sob a liderança de sua santidade o Dalai Lama e vários líderes religiosos da tradição tibetana. Portanto, a cultura está mais do que viva, espalhados por todo o mundo e pelo que é impossível que desapareça.
Você se sentiu feliz em ver os dois monges da China continental, na reunião em Assis?
Claro, claro. Pelo menos eles puderam sair, e se reuniram com líderes religiosos livres para ver como no mundo exterior, pelo menos, no mundo ocidental, há liberdade de consciência e de expressão. É importante que eles tenham essa experiência. Por um longo tempo, houve medidas repressivas sobre a religião (na China continental), mas agora as pessoas voltam a ter sede de religião, de espiritualidade, e se vê um ressurgimento religioso ali. Muitos monges budistas chineses vieram para a Índia em peregrinação, e nós os recebemos. Na China, antes da chegada do comunismo, a maioria era budista e outras religiões eram uma minoria, mas eu não conheço plenamente a situação atual.
Minha última pergunta é sobre o panchen lama Gedhun Choekyi Nyima (o segundo lama mais alto na hierarquia depois do Dalai Lama), que foi sequestrado pelas autoridades chinesas em 17 de maio de 1995, com a idade de seis anos, e não foi visto em público desde então. Ainda estão procurando ele? Vocês sabem onde se encontra?
Existem muitas dúvidas sobre se ele está vivo ou não. Muitas pessoas acreditam que ainda está vivo. E sim, nós estamos procurando. Pode estar na prisão, mas é um líder budista.
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"O Dalai Lama regressará um dia ao Tibete" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU