Diferente de
Luiz Inácio Lula da Silva, no estilo, na simpatia que desperta nas elites, mas chefe de um governo de continuidade e conservador. Foi assim que o cientista político
Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília (UnB), sintetizou os dez primeiros meses da presidente
Dilma Rousseff, no debate de anteontem à noite sobre a conjuntura política, no encontro da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
"A principal qualidade da presidente em relação ao antecessor é sua reação aos escândalos. É sua marca distintiva. Todos que caem são homens do
Lula. Mas as demissões seguem a lógica de um governo limpo com política suja que depende do loteamento de cargos", disse
Miguel.
A reportagem é de
Cristian Klein e publicada pelo jornal
Valor, 27-10-2011.
O professor da UnB afirmou que
Dilma enfrenta pouca oposição, seja pelo enfraquecimento dos partidos ou por ter origem na classe média. Enquanto
Lula ainda causava temor ou teria pouca identificação com as elites,
Dilma não seria alvo da mesma antipatia. Mostra disso seria o destaque dado pela imprensa a suas visitas a museus nas viagens ao exterior, em contraste com o anti-intelectualismo do ex-presidente.
Essa característica que a diferenciaria de
Lula, porém, não altera, defendeu
Miguel, o caráter de continuidade de seu governo, que também estaria sendo marcado mais por políticas de inclusão do que de transformação.
"Por isso,
Dilma é lulista, apesar das diferenças de estilo. É um lulismo que traz a vantagem de não exigir que se engulam sapos. É um lulismo, podemos dizer assim, frogless [sem sapo]", ironizou, em menção ao apelido de sapo barbudo, dado a
Lula pelo governador do Rio,
Leonel Brizola, morto em 2004.
Renato Lessa, da Universidade Federal Fluminense, criticou a coalizão de governo que viveria em estado de natureza, de uma luta de todos contra todos, como descreveu o filósofo inglês
Thomas Hobbes (1558-1679), no clássico "
Leviatã".
"Hoje vemos a política como predação, o que naturaliza o fogo amigo e práticas mafiosas, expressas em frases como "vou contar para todo mundo"", disse, em referência às chantagens dos aliados para manter ou ampliar o poder.
Lessa considerou a demissão de Orlando Silva como consequência desse modelo: "Foi a vez do
PCdoB. É lamentável porque os comunistas deram o sangue na ditadura. É uma erosão do patrimônio democrático brasileiro."