21 Outubro 2011
Diante de 1.000 pessoas, entre as quais encontravam-se representantes da Assembleia Nacional do Quebec e de grupos de mulheres, o episcopado do Quebec soube fazer um ato de arrependimento. "Oremos para que essas declarações dos bispos do Quebec em 1990 posam inspirar as nossas Igrejas", afirma o Comité de la Jupe.
O texto dos bispos foi publicado no sítio do Comité de la Jupe, 17-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O episcopado do Quebec, neste ano que marca o 50º aniversário da obtenção do direito de voto das mulheres no Quebec, quer celebrar, em um encontro de amizade e de festa, este acontecimento histórico que reconheceu às mulheres do Quebec o seu pleno direito como cidadãs. Essa festa também terá, digamo-lo, uma dimensão reparadora, já que, naquele tempo, o episcopado e o governo haviam manifestado uma longa oposição à atribuição desse direito. (...)
Essas mulheres nem sempre foram reconhecidas em seu tempo. Suas inovações, muitas vezes inspiradas diretamente no Evangelho, nem sempre foram acolhidos com a necessária disponibilidade. Às vezes, foram até freadas pela desconfiança e pelos preconceitos dos seus chefes políticos e religiosos. Quem poderá contar os sofrimentos de uma Marguerite Bourgeois, desejosa de levar a educação às indígenas americanas nômades, e à qual Dom De Saint-Vallier se obstinou por muito tempo a querer impor o véu e a clausura? As de uma Marie Lacoste-Gérin-Lajoie, militante comprometida com a causa nacional e eclesial, mas à qual os seus líderes espirituais tiraram o apoio quando pretendeu estender à esfera política a ação dos membros da Federação Nacional São João Batista? (...)
Henri Bourassa, assim como os bispos do Quebec (...) estigmatizando o feminismo, estavam convencidos de denunciar uma heresia perigosa. (...) Foi em 1940 que o Governo do Quebec (...) se rendeu enfim aos argumentos das mulheres. (...) Mas se sente bem nos comentários reservados do episcopado que o feminismo vitorioso dessas pioneiras está longe de ser reconhecido pela Igreja como uma força positiva de mudança social. (...)
A análise feminista da história e da tradição cristã (conduzida especificamente pelas teólogas) perturba às vezes as nossas certezas e as nossas formas seculares de ver. Mas cada vez mais teólogos homens se sentem solidários com o caminho das mulheres e buscam participar dele. Porque, nesse caminho coletivo, adquirimos a convicção de que a Igreja, assim como a sociedade, deve reconhecer o lugar das mulheres.
Senão, ela mesma se empobrece e falha ao seu dever de agir, segundo as palavras de Paulo VI, como "especialista em humanidade". Essa convicção inspira largamente a criação, depois de dez anos nas nossas dioceses, de uma rede de referência à condição das mulheres. E, mais recentemente, a implementação de fóruns diocesanos de reflexão sobre a parceria homens-mulheres na Igreja.
Certamente, todas essas mulheres que participam ativamente – muitas vezes voluntariamente – na missão da Igreja ainda são muito pouco numerosas. Mas, acima de tudo, seu status na Igreja continua profundamente ambíguo. Obstáculos de ordem canônica, que dependem principalmente da força da inércia e do hábito, devem ser removidos. Outros, muito mais fundamentais, por serem de ordem teológica, devem ser abordados com humildade e coragem. A universalidade da Igreja e a diversidade das culturas que se encontram representadas não devem servir de pretexto para manter, com relação à mulher e à sua missão, uma posição minimalista. Posição que, mesmo que encontre alguma indulgência histórica junto a uma minoria de cristãos, é cada vez mais considerada como um anacronismo, se não até como um obstáculo insuperável, junto aos fiéis da geração posterior. (...)
Não escondamos a nós mesmos: é, com efeito, a uma autêntica conversão evangélica que somos chamados. Ele diz respeito a todos nós, fiéis do Quebec, para que vamos ao encontro do Espírito que reconhecemos em ação no movimento de afirmação das mulheres, que caracteriza esta última década do nosso século. Nós queremos contribuir, como sinal de reconciliação e de paz, com o projeto de Deus para o casal humano, que se estende não só à família, mas também à sociedade e à Igreja. (...)
"Obedecer – dizia o teólogo dominicano Marie-Dominique Chenu – também é resistir". Resistir à desesperança de jamais ver um dia todas as desigualdades abolidas, todas as competências reconhecidas, a justiça enfim realizada entre os homens e as mulheres, na Igreja assim como em toda a sociedade.
(19 de abril de 1990)
Extraído de: Dom Gilles Ouellet, Mensagem do Presidente da Assembleia dos Bispos do Quebec por ocasião do 50º aniversário do direito de voto das mulheres no Quebec, Assembleia dos Bispos do Quebec, 1990. Veja aqui o texto completo, em francês.
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"A Igreja fracassaria em seu dever se não reconhecesse o lugar das mulheres" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU