18 Outubro 2011
Em comparação, os elogios fúnebres dos dois inovadores. As lágrimas pelo fundador da Apple são o triunfo do capitalismo pós-moderno fundado sobre a simpatia.
A reportagem é de Marco d"Eramo, publicada no jornal Il Manifesto, 09-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Ele tornou este mundo um lugar melhor para se viver e levou aqueles que uma vez eram considerados luxos para a vida dos trabalhadores. Ninguém na longa lista daqueles que beneficiaram a humanidade fez mais para tornar a existência mais fácil e cômoda". Não é sobre Steve Jobs que se está falando, mas sim sobre Thomas Alva Edison, e essas frases não foram escritas anteontem, mas sim há 80 anos, exatamente no dia 18 de outubro de 1931 no elogio fúnebre escrito por Bruce Rae, que foi publicado então pelo New York Times, intitulado "O mundo tornado melhor pela magia de Edison (Ele mais do que qualquer outra pessoa para inserir os luxos nas vidas das massas)".
É interessante comparar as duas retóricas que correspondem não só a dois tipos diferentes de inovação tecnológica, mas também a duas fases diferentes da civilização dos mass-media por dois inovadores/capitalistas, isto é, por empresários que personificam a ideia do prometeico industrial schumpeteriano, mas de um modo totalmente divergente.
Certamente, uma diferença crucial, que explica pelo menos em parte os tons diferentes, é que Edison (1847-1931) morreu depois de uma vida longa e muitos anos depois que as suas invenções haviam se tornado invisíveis pelo hábito, enquanto Steve Jobs morreu relativamente jovem (56 anos), depois de uma longa e pública batalha contra um tumor no pâncreas, quando as suas inovações ainda causavam um grande entusiasmo pela sua "novidade".
Mas não é só pela idade avançada que falta no obituário de Edison a lacrimosidade versada abundantemente (e em uma medida absolutamente bipartidária, de direita e de esquerda) sobre Steve Jobs, uma comoção barata que lembra outras ondas de (efêmeros) tormentos, como as de Lady Diana e que, portanto, corresponde a uma figura nova para os capitalistas ou para os industriários, a do "divo".
Nem Edison, nem Henry Ford (outro grande inovador) jamais foram estrelas: certamente, eram muito famosos em seu tempo, mas a natureza da sua fama era muito distante da fama de um divo, justamente. Assemelhava-se mais a de um grande general (um Sheridan ou um von Moltke) do que a de um artista de sucesso.
Nesse sentido, pode-se dizer que o ritual fúnebre de Edison esteve totalmente imerso na ideia de progresso, enquanto o de Jobs é o triunfo do capitalismo pós-moderno (baseado na elegância, no fato de ser cativante, além da sua praticidade). Depende em parte da natureza das inovações de Edison, que também foram, como as de Jobs, em grande parte, melhorias de invenções pré-existentes: Edison não fabricou a primeira lâmpada elétrica incandescente, mas sim a primeira lâmpada incandescente comercial. Nesse sentido, ele contribuiu para aquela vitória contra o terror da noite e da escuridão que, de acordo com Wolfgang Schivelbusch (Luce. Storia dell"illuminazione artificiale, Ed. New Press, 1994), caracterizou o final do século XIX (Paris, la ville lumière).
Mas o fonógrafo, este sim Edison inventou totalmente sozinho. Escreve o New York Times: "E depois veio o fonógrafo – primeiro uma novidade, depois um gênero de luxo, por fim um objeto comum. Ele levou as grandes árias da ópera aos casarios populares. A voz de Caruso se elevou para os tibetanos de face plana nos vilarejos de Darjeeling. Os comerciantes perceberam que, graças a isso, africanos ainda armados com lanças tinham a possibilidade de ouvir o jazz da Broadway... E, em 50 anos, a voz de Caruso e dos seus contemporâneos será ouvida por aqueles que ainda não nasceram".
As inovações de Edison estão, por assim dizer, à frente da estética, geram as condições para que possa se produzir uma experiência estética (graças não só ao fonógrafo, mas também à câmera), enquanto o que mais chama a atenção nos elogios fúnebres de Jobs é que se fala dele como de um Dior ou de uma Coco Chanel da informática (o iPod como o equivalente daquela que foi a introdução do tailleur para a elegância das mulheres), ou seja, que o seu capitalismo está totalmente imerso na dimensão estética: também nisso se pode falar dele como de um "capitalista pós-moderno"; não que ele explore de menos, ao contrário (como lembrava Benedetto Vecchi a propósito dos bens produzidos nas fábricas asiáticas). Mas a exploração se integra na cultura do gratuito do qual ele se beneficia.
A última coincidência que chama a atenção é que ambas as mortes ocorreram em um período em que a crise econômica não parece diminuir: Edison morreu dois anos depois da Terça-feira Negra do dia 29 de outubro de 1929, enquanto Jobs morreu pouco mais de três anos do fracasso da Lehman Brothers (15 de setembro de 2008). Aqui também, no entanto, a morte de Edison está embebida de progresso ("as suas invenções deram trabalho – além de luz e diversão – para milhões", porque criaram do nada toda a indústria elétrica); enquanto na outra, só há traços de postos de trabalho (como observado por Alberto Piccinini) no nome jobs (que em inglês significa "empregos") ou na China e no Sudeste Asiático.
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Steve Jobs e Edison: divergências paralelas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU