O presidente da Bolívia,
Evo Morales, sofreu no domingo sua pior derrota eleitoral em quase seis anos de governo, depois de uma avalanche de votos nulos em uma histórica eleição de juízes nacionais por sufrágio universal, segundo resultados extraoficiais.
A notícia é da
Reuters e publicada pelo
portal Uol, 17-10-2011.
A tradicional base de
Morales na população de origem indígena parece ter imposto o revés a ele por causa de seu impopular plano de construir uma estrada de US$ 420 milhões - financiada na maior parte pelo Brasil - através da região Amazônica do país e também a repressão policial aos manifestantes que protestavam contra a obra.
Se as projeções extraoficiais forem confirmadas, essa terá sido a primeira derrota eleitoral de
Morales - o primeiro indígena a ocupar o cargo de presidente na Bolívia - em quase seis anos no poder.
Mas
Morales, que dias antes se vangloriava de haver obtido seis vitórias consecutivas nas urnas, não admitiu publicamente a derrota. Ele considerou a eleição válida e afirmou que o resultado mostra a "nova justiça para a Bolívia".
No único resultado extraoficial divulgado horas depois do fechamento das urnas, a emissora privada de televisão ATB disse, com base em contagem rápida feita pela empresa
Ipsos Apoyo, que os votos nulos superavam amplamente os válidos e que a abstenção estava em torno de 20%.
Os bolivianos votaram para eleger os 28 membros dos quatro tribunais nacionais, em uma consulta vista como medição de forças entre o governo, que fez um chamado pelo voto válido, e uma dispersa oposição que promovia o voto nulo.
BRANCOS E NULOS
Os votos brancos e nulos somaram quase 60% do total nas eleições, segundo uma pesquisa de boca de urna divulgada pelo canal de televisão ATB.
Os votos válidos nos candidatos para quatro instâncias do Judiciário se situaram entre 40 e 43% do total, destacou a ATB.
O presidente do Tribunal Eleitoral boliviano, Wilfredo Ovando, já afirmou que os votos brancos e nulos são apenas dados estatísticos e não anularão o resultado.
O ex-candidato presidencial de centro-esquerda
Samuel Doria Medina afirmou que a soma "dos votos brancos e nulos invalidam" a eleição dos juízes.
Toda a oposição, da centro-esquerda até a direita, se mobilizou em uma campanha pelo voto nulo, na eleição que era obrigatória.
O
Movimento Sem Medo (MSM, centro-esquerda) reiterou nas últimas horas suas críticas ao processo eleitoral, dizendo que desde o início ocorreram falhas, como a pré-seleção de candidatos no Congresso, controlado pelo governo, que minimizou a meritocracia na qualificação dos aspirantes.
O líder do MSM,
Juan del Granado, ex-aliado do presidente
Evo Morales, reiterou também que o presidente do Tribunal Eleitoral,
Wilfredo Obando, é aliado do governo, e portanto sua independência está em dúvida.
"As autoridades judiciais que serão eleitas terão a responsabilidade de viver para a justiça, de fazer justiça e não de manipular a justiça", declarou o presidente
Evo Morales, que votou na região cocaleira de Chapare (centro), seu reduto.
Cerca de 5,2 milhões de pessoas, dos 10 milhões de habitantes da Bolívia, foram convocados para eleger juízes titulares e suplentes do Supremo Tribunal, do Tribunal Constitucional, do Tribunal Agroambiental e do Conselho da Magistratura (disciplinar).
Um total de 122 candidatos foram escolhidos por maioria simples.
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Presidente boliviano sofre seu primeiro revés em eleição do Judiciário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU