Frugivoria é o ato de se alimentar de frutos deixando as sementes intactas. Os animais que se alimentam de frutos são considerados frugívoros. Podem ser palavras incomuns no cotidiano, mas o conteúdo é importantíssimo, tanto para entender as relações biológicas entre as espécies, quanto por ser tratar de um mecanismo chave no ciclo de crescimento florestal. Por exemplo, nas florestas tropicais a porcentagem de dispersão das plantas pelos frugívoros é de 90%.
A reportagem é do
Diário do Pará, 19-09-2011.
É um processo importante, mas com poucos estudos na Região Amazônica. Por isso, desde 2008, o
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), por iniciativa da Dra.
Maria Luiza Videira, Coordenação de Zoologia (CZO) e da Msc.
Andreza Gomes, bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI), desenvolve uma pesquisa sobre o consumo de frutos pela família
Pipridae na Estação Cientifica Ferreira Penna (ECFPn), localizada na
Floresta Nacional de Caxiaunã, nos municípios de
Melgaço e
Portel.
Segundo
Maria Luiza, a ideia da pesquisa surgiu após a defesa de dissertação de
Andreza sobre a interação mutualística (espécie de relação que envolve colaboração de ambos os lados e todos são beneficiados pela interação) entre aves e plantas realizada no
Parque Ecológico do Gunma, na região metropolitana de Belém. Nessa pesquisa, “foram avaliados os potenciais agentes dispersores da avifauna de sub-bosque, sendo que a família
Pipridae foi significativamente importante na área, portanto surgiu o interesse em estudar o comportamento alimentar desta família na
Floresta Nacional de Caxiuanã”.
AVES
Dentre as aves que vivem nos estratos mais baixos na floresta (sub-bosque), a família
Pipridae se destaca no consumo de frutos, sendo considerada o dispersor legítimo dessa parte florestal. É uma família típica da região neotropical (que compreende a América do Sul, Antilhas e América Central abaixo do planalto Mexicano), ocorrendo do México até a Argentina. Tanto a planta, quando a ave, se beneficiam da frugivoria. Os animais obtêm principalmente água e nutrientes dos frutos que consomem para suprir suas necessidades metabólicas, ao passo que as plantas, têm suas sementes dispersas para áreas distantes da planta-mãe, reduzindo, dessa maneira, a competição pelos recursos essenciais e a predação.
Redes e muita caminhada
Para desenvolver o estudo, que já dura 18 meses e ainda está em curso, foram utilizados dois métodos: a observação visual e a coleta com redes ornitológicas. “Para a observação visual utilizamos trilhas que foram percorridas das 6h às 11h. Quando um piprídeo (ave que pertence à família estudada) era avistado consumindo os frutos, era registrada a espécie da ave e a espécie do vegetal. Quando não foi possível a identificação da planta na área, realizou-se a coleta do material vegetal e, posteriormente, enviou se ao laboratório de botânica do MPEG”, descreveu
Maria Luiza.
A captura das aves foi feita com redes e, posteriormente, em sacos de algodão. Essa captura deveria durar cerca de 30 minutos, tempo necessário para se colher as fezes do animal. Assim como as espécies vegetais, o material recolhido foi enviado ao laboratório do Museu para identificação das sementes.
RESULTADOS
A pesquisa já permitiu o registro de três espécies potencialmente dispersoras da
família Pipridae: Manacus manacus (rendeira-branca),
Pipra rubrocapilla (uirapuru-de-cabeça-encarnada) e
Dixiphia pipra (uirapuru-de-cabeça-branca). A
Dixiphia pipra e a
Pipra rubrocapilla são as espécies da família
Pipridae mais comuns no Pará.
Já as espécies vegetais presentes na dieta dessas aves são
Tapirira guianensis (peito-de-pomba);
Euterpe oleracea (açaí);
Miconia ciliata (maria-preta);
Ouratea polygyna (ouratea);
Psychotria sessilis (cafezinho-do-mato); e
Trema micrantha (crindiúva).
Para
Maria Luiza, “a análise dos resultados revelou que as relações mutualísticas evidenciadas mostram um papel fundamental dos piprídeos e plantas de sub-bosque na Região Amazônica, participando dos processos que geram a organização e estrutura dos vegetais, principalmente no sub-bosque. Além disso, a
Miconia ciliata se destaca como espécie chave para manutenção das aves desta família na área de estudo, sendo uma importante fonte de alimento disponível ao longo do ano, principalmente na época mais seca devido à escassez de recursos, funcionando, então, como recurso chave para as aves frugívoras da região”.
Devido a essa relação intricada, qualquer alteração na composição da fauna de aves que se alimenta de frutas ou nas espécies vegetais, acarretaria perda na integridade das relações bióticas, interferindo, inclusive, na própria regeneração florestal.
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Relação entre pássaros e plantas vira estudo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU