17 Setembro 2011
O Pe. Roy Bourgeois recentemente deu mais um passo em sua luta para permanecer como membro dos Padres e Irmãos Maryknoll, quando pediu que seus superiores se procurem a assessoria de eólogos respeitáveis para reconsiderar as questões decorrentes do seu apoio à ordenação de mulheres.
A reportagem é de Tom Roberts, publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Apesar das ordens aparentemente claras da Congregação para a Doutrina da Fé e das normas relacionadas do direito canônico, a situação de Roy em geral é tudo menos clara e simples", escreveu o padre dominicano Thomas Doyle, canonista que representa Bourgeois, em uma carta do dia 16 de agosto ao Pe. Edward Dougherty, superior-geral dos Maryknoll. Doyle é mais conhecido pela sua defesa das vítimas de abuso sexual pelo clero.
Doyle afirma que a proibição da Igreja à ordenação feminina não é um ensinamento infalível e pede em sua carta "que a ajuda e a contribuição de teólogos respeitáveis sejam buscadas a fim de olhar muito mais profundamente" para duas questões centrais: a alegação da Igreja de que o ensinamento é infalível e o direito de um católico "de agir e pensar de acordo com os ditames de sua consciência", mesmo que as conclusões o coloquem em conflito com as mais altas autoridades da Igreja.
Doyle também argumenta que a punição de excomunhão e expulsão da congregação é desproporcional. Em comparação, ele observa que padres e bispos que abusaram sexualmente de crianças e/ou encobriram o abuso não foram excomungados.
Em resposta a uma pergunta, o porta-voz dos Maryknoll, Mike Virgintino, disse que a carta de Doyle havia sido recebida e que o Conselho Geral ainda não a havia respondido, "mas irá analisar a carta e irá lhe responder na primeira oportunidade".
Em outubro de 2008, a Congregação vaticana para a Doutrina da Fé deu a Bourgeois, que havia participado de uma cerimônia de ordenação sacerdotal de uma mulher, 30 dias para que ele se retratasse de sua "crença e declarações públicas em apoio à ordenação de mulheres" ou senão enfrentaria a excomunhão automática. Bourgeois nunca se retratou, dizendo que não poderia fazer isso em sã consciência.
Não está claro se o padre foi formalmente excomungado, porque o Vaticano nunca emitiu uma declaração pública nesse sentido. Ao mesmo tempo, embora nunca tendo respondido diretamente a Bourgeois, as autoridades da congregação doutrinária comunicaram-se com os Maryknoll, uma congregação fundada há 100 anos para formar sacerdotes para trabalhar em missões estrangeiras.
Em uma carta de 27 de julho para Bourgeois, Dougherty advertiu o padre uma segunda vez que, se ele continuasse sua "campanha em favor das mulheres-padre e não se retratasse publicamente de sua posição sobre o assunto", ele enfrentaria a dispensa da ordem. Bourgeois recebeu 15 dias, contados a partir da recepção da carta, para se retratar, senão os procedimentos de dispensa começariam. No entanto, a carta também observava que Bourgeois tinha o direito de se defender contra o aviso e a dispensa proposta.
Em uma entrevista com o NCR, Doyle disse que sua intenção em apresentar uma resposta junto a Dougherty era que a ordem "respirasse profundamente e desse um passo atrás com relação ao início do processo". Ele disse que havia questões substanciais que devem ser consideradas pelas lideranças e pelos e membros da congregação.
Consciência e infabilidade
Em um dos vários documentos arquivados junto a Dougherty entre os dias 15 e 30 de agosto, Doyle explica que a defesa de Bourgeois está baseada em duas justificativas: primeiro, o direito de Bourgeois de não violar a sua consciência e, segundo, a sua convicção de que a ordenação de mulheres não é um ensinamento infalível.
Doyle disse que Bourgeois acredita que o ensinamento não é "tão essencial para as crenças centrais dos cristãos católicos a ponto de que questioná-lo ou rejeitá-lo equivalha a uma rejeição dos ensinamentos fundamentais de Jesus Cristo, que formam o núcleo do catolicismo como Povo de Deus".
A opinião de Bourgeois sobre a ordenação feminina "é compartilhada por inúmeros outros, incluindo biblistas, teólogos e historiadores da Igreja das fileiras do laicato, do sacerdócio e do episcopado", disse Doyle.
Bourgeois formou suas opiniões, disse Doyle, "de uma forma altruísta e honesta, bem consciente das consequências de tomar uma posição que é contrária aos papas atual e passado, assim como à maioria (pelo menos) da Cúria Vaticana". Ao mesmo tempo, argumenta Doyle, "não há nenhuma evidência de qualquer consenso ou unanimidade entre os teólogos, biblistas e bispos" de que a proibição da ordenação de mulheres é "solidamente fundamentada" em qualquer tradição ou ensinamento da Igreja, como afirmado pelo falecido Papa João Paulo II em sua carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis de 1994.
"Há um conjunto maciço de trabalhos acadêmicos", escreve Doyle, "que desafiam de forma confiável a afirmação de que Jesus tenha ordenado qualquer pessoa como sacerdote e um conjunto igualmente confiável e persuasivo de trabalhos acadêmicos que não encontram nenhuma tradição teológica consistente e contínua que apoie a preclusão de mulheres das ordens sagradas, além da tradição de que o poder oficial na Igreja tem sido mantido por homens".
Doyle também contestou a imposição da punição de excomunhão automática, dizendo que ela não está em conformidade com os requisitos do direito canônica nesse caso, porque as ações de Bourgeois não envolvem uma "desconsideração maliciosa" da autoridade da Igreja, mas sim a sua crença de que "agir contra aos ditames da sua consciência [...] seria o equivalente a um pecado grave de sua parte".
Em um documento em separado, Doyle submeteu uma lista de citações de São Tomás de Aquino, de documentos do Vaticano e do Evangelho de Mateus que sustentam a primazia da consciência na doutrina católica.
Na mesma linha, disse Doyle, as ações de Bourgeois não "ofenderam [ninguém] gravemente", e ninguém perdeu a sua crença em Deus nem foi "física ou emocionalmente ferido/a a ponto de ser privado/a da capacidade de levar uma vida feliz e produtiva vida" por causa das convicções ou ações de Bourgeois.
Punição aos pedófilos
Por outro lado, Doyle aponta que fontes confiáveis confirmaram que cerca de 20 membros da hierarquia dos Estados Unidos, 15 da Europa e três do Canadá, incluindo alguns cardeais, "cometeram o delito canônico citado no cânone 1.395,2, ou seja, o abuso sexual de menores, ou o crime mencionado no capítulo V da Instrução Papal Crimen Sollicitationis, em vigor até 18 de maio de 2001, ou seja, o sexo com homens".
Essas infrações, disse Doyle, acarretam uma punição que inclui até a demissão do estado clerical.
No entanto, nenhum membro da hierarquia até hoje não sofreu nem mesmo uma investigação papal, disse Doyle, "muito menos qualquer forma de sanção penal. [...] Até hoje, nenhum arcebispo, cardeal ou bispo que violou o direito canônico e a lei civil por ter dado proteção a conhecidos abusadores sexuais entre o clero ou por atribuir conscientemente novas funções a abusadores conhecidos, quando poderiam e, muitas vezes, continuaram violando os mais vulneráveis, foram solicitados a renunciar, muito menos enfrentaram uma investigação e processo canônicos justificados".
Mesmo entre os milhares de padres de todo o mundo que foram confiavelmente acusados de molestar menores ou condenados em processos penais, nenhum deles foi excomungado, disse Doyle, embora a maioria tenha sido removida das fileiras do clero.
"O contraste é gritante: 38 bispos que cometeram graves crimes sexuais, que resultaram em danos emocionais e espirituais graves a católicos inocentes, não enfrentaram nenhuma ação disciplinar, enquanto quatro bispos que seguiram suas consciências e questionaram publicamente as práticas ou a doutrina vaticanas por se preocuparem com o bem-estar espiritual dos fiéis não só foram humilhados, mas também removidos do ofício".
Doyle conclui pedindo, em nome de Bourgeois, que o processo que chegou a um ultimato "seja reavaliado seriamente e sem medo" por teólogos externos sobre o pano de fundo das preocupações manifestadas em sua correspondência.
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Canonista questiona medida da ordem Maryknoll contra Bourgeois - Instituto Humanitas Unisinos - IHU