06 Setembro 2011
A dirigente universitária Camila Vallejo confirmou que vão continuar a negociar com La Moneda, mas sem interromper as mobilizações. E que na terça ou quarta-feira darão uma resposta oficial. Os temas centrais, como o fim do lucro, seguem pendentes.
A reportagem é de Christian Palma e está publicada no jornal argentino Página/12, 04-09-2011. A tradução é do Cepat.
O dia amanheceu estranho neste sábado no Chile. Um acidente aéreo, que envolveu rostos conhecidos, comoveu todo o país e tirou decibéis, ao menos na mídia, do conflito estudantil que, no sábado, aguardava um dia chave para acabar um conflito que já dura mais de três meses. Apesar da tristeza nacional, a reunião prevista para as 10h entre estudantes, o governo, professores e reitores das universidades, para consensuar pontos em comum e discutir abertamente as diferenças, foi realizada no palácio La Moneda.
Enquanto isso, um coro de mais de cem pessoas, entre elas os secundaristas da Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundaristas (ACES), que aglutina os estudantes mais periféricos e radicais e que não foram convocados para a reunião, junto com alguns pais, cantou e manifestou suas reivindicações nas imediações do palácio presidencial durante as quase quarto horas que durou a reunião. O já hino "E vai cair a educação de Pinochet" pôde ser ouvido novamente com força.
A essa hora, Camila Vallejo, representante da Universidade do Chile, e Giorgio Jackson, da Católica, junto com outros líderes estudantis como Rodrigo Rivera, um dos porta-vozes dos pinguins – que chegou com um uniforme de secundarista que dá origem ao apelido – tiveram um encontro pessoal com o presidente Sebastián Piñera e seu ministro da Educação, Felipe Bulnes.
O resultado não foi grande. As expectativas dos mais de cem jornalistas chilenos e estrangeiros que chegaram a La Moneda se reduziram quando se soube que as decisões foram postergadas para a semana que está entrando. Além de lamentar a tragédia aérea, Camila Vallejo confirmou em um dos pátios do palácio presidencial chileno que vão as negociações com o governo vão prosseguir, mas sem interromper as mobilizações.
Disse, além disso, que só na terça ou quarta-feira a Confederação de Estudantes do Chile (Confech) dará uma posição oficial ao governo.
"A reunião está no marco de uma primeira instância de diálogo onde foram apresentadas as reivindicações dos diferentes atores, embora estejamos conscientes de que faltam muitos outros. As ideias das autoridades do governo serão discutidas com nossas bases na segunda-feira e nossa opinião será entregue na terça-feira ou quarta-feira na primeira hora", disse a carismática dirigente. Acrescentou que "vamos preparar um relatório para que nossos companheiros decidam se convém o cenário de uma mesa de trabalho". E Vallejo insistiu: "O importante é que aqui existe vontade de avançar, que as posições foram apresentadas suficientemente e são nossos companheiros quem têm que tomar uma decisão".
Por sua vez, o presidente do Colégio de Professores, Jaime Gajardo, detalhou os temas centrais nos quais haverá mais dificuldades para avançar, dos doze propostos pelos estudantes e o magistério. "Há temas centrais que continuam sem resposta e que é preciso continuar a discutir, como a questão do fim do lucro, a desmunicipalização (que os colégios passem às mãos do Estado) e o fim do financiamento compartilhado (na educação secundarista).
Gajardo acrescentou que "evidentemente estamos ainda muito longe do que pode ser uma possível concordância com as autoridades". De passagem, reiterou o chamado a uma nova mobilização para a quinta-feira, 8 de setembro, dia em que se fará uma ação continental em apoio à educação pública chilena e haverá um encontro entre professores chilenos e argentinos no Paso Internacional Los Libertadores.
Pelo lado do governo, o ministro Bulnes assegurou que estão dadas todas as condições para que "a partir da segunda-feira comecemos a trabalhar neste calendário para construir os acordos e soluções que finalmente nos permitam destravar este conflito. Hoje se deu um grande passo no sentido de começar a construir as soluções", expressou.
Na opinião do secretário de Estado, existe uma grande quantidade de pontos, visões e objetivos com os estudantes, enquanto "se está buscando uma educação de melhor qualidade, fortalecer a educação pública, evitar abusos e, em definitiva, aumentar a cobertura e o acesso aos diferentes âmbitos da educação, estamos convencidos de que todos estão obrigados a chegar a um acordo".
Entretanto, o porta-voz dos secundaristas, Rodrigo Rivera, disse que o cronograma que o governo lhes enviará deverá ser debatido em todas as instâncias locais para só depois ser aprovado em nível nacional.
"A proposta dos secundaristas continua sendo que quando forem enviados os projetos de lei ao Congresso estes sejam apresentados em comum acordo com os atores mobilizados", concluiu.
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Piñera e estudantes sentam à mesma mesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU