26 Agosto 2011
A morte de um estudante de 16 anos durante os protestos da noite de quinta-feira despertou comoção no Chile.
A reportagem é de Marcia Carmo e publicada pela BBC Brasil, 26-08-2011.
Manuel Gutiérrez Reinoso morreu no final de duas jornadas de manifestações organizadas pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e com o apoio do movimento estudantil do Chile.
Segundo seus familiares, ele foi atingido por um tiro no peito quando caminhava entre as localidades de Macul e Peñalolén, na região metropolitana de Santiago, ao lado de seu irmão, Gerson, de 22 anos. Manuel morreu no hospital.
"Escutamos três disparos que partiam dos furgões dos militares. Mas nós sequer participávamos das manifestações", disse à imprensa chilena Giusseppe Ramírez Atan, de 19 anos, amigo do jovem.
O subsecretário chileno de Interior, Rodrigo Ubilla, disse que só após uma investigação sobre o caso será possível determinar quem foram os responsáveis pela morte do estudante. Ubilla disse ainda que 1.394 pessoas foram presas durante os protestos no Chile, que deixaram também 53 civis e 153 militares feridos em vários pontos do país.
"Estamos profundamente tristes porque esses episódios mostram que aqui no Chile não podemos avançar de forma pacífica e organizada para resolver nossos problemas", afirmou o político. O porta-voz da Presidência, Andrés Chadwick, disse que o governo do presidente Sebastián Piñera "espera que o caso (Manuel) seja esclarecido o quanto antes" e que os militares já estão contribuindo com a investigação.
Já o general da força militar chilena, Sergio Gajardo, disse que os militares não participaram das ações nas quais o estudante foi morto.
"Descarto a participação dos militares. Por isso, no momento, descartamos a possibilidade de uma investigação interna para apurar essa especulação", afirmou Gajardo, agregando que falou com os comandantes da região e que todos "descartaram (terem usado) armas de fogo".
`Destruídos`
A irmã da vítima, Jacqueline, disse ao canal 13, do Chile, que a família está "destruída". "Meu irmão era religioso e um bom rapaz. Ele queria ser o primeiro formado (na universidade) da nossa família. Não temos ódio, mas queremos justiça."
Os protestos dos estudantes chilenos começaram há mais de três meses e deverão continuar nos próximos dias, segundo os organizadores do movimento estudantil, que conta com apoio de professores e pais de alunos. Na quinta-feira, o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, provocou polêmica ao dizer que somente uma estudante, Gloria Negrete, tinha feito greve de fome nos últimos 37 dias.
"Os outros estudantes (mais de 30) engordaram nos últimos dias. Então, não fizeram greve de fome", disse.
Negrete perdeu 11 quilos nesse período. Os pais dos estudantes reagiram dizendo diante das câmeras de televisão que seus filhos também "emagreceram" no último mês.
A greve de fome também fez parte dos protestos por melhorias na qualidade da educação e o acesso gratuito às universidades públicas do país.
Insatisfação
"Os protestos pela educação são apenas um sintoma da insatisfação popular", disse à rádio Cooperativa o cientista político Jorge Navarro, ligado ao partido opositor Democracia Cristiana (DC). Nesta madrugada, estudantes ocuparam mais um colégio na cidade de Concepción, impedindo assim a realização das aulas.
Ao mesmo tempo, a Justiça determinou que a líder estudantil Camila Vallejo, de 23 anos, continue com escolta policial, depois de ela ter sido ameaçada, no inicio do mês, pelo Twitter. Segundo ela, os protestos vão continuar até que o governo atenda às exigências dos estudantes. "Alguém disse que os trabalhadores (da CUT) pegaram carona no nosso movimento. Não é verdade. Nós sempre estivemos e estaremos juntos", afirmou.
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Morte de estudante em protesto provoca comoção no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU