23 Agosto 2011
A ascensão da nova classe média no país foi acompanhada pela redução do número de católicos, que chegou ao menor percentual já registrado no Brasil, e pelo crescimento dos evangélicos tradicionais, com o freio à ampliação dos pentecostais. De acordo com pesquisa elaborada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o catolicismo concentra-se nos extremos das classes sociais, entre os mais ricos e os mais pobres. Já os evangélicos estão, sobretudo, nas camadas intermediárias, nas classes C e D.
A reportagem é de Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 24-08-2011.
Segundo o estudo "Novo Mapa das Religiões", feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV com dados do IBGE de 2009, o catolicismo continua como a religião predominante no país, seguida por 68,43% da população, cerca de 130 milhões de pessoas. O percentual, no entanto, revela que o número de católicos voltou a cair.
Em 1872, quase toda a população do Brasil declarava-se católica (99,72%). Esse percentual começou a se reduzir de forma significativa a partir da década de 70 até os anos 2000, quando chegou a 73,89%. A proporção de católicos manteve-se constante no início da década passada, mas caiu no fim da década. Segundo o estudo da FGV, divulgado ontem, a queda de 7,3% entre 2003 e 2009 foi combinada com o aumento dos evangélicos, que cresceram 13,13% nesse período. Eles passaram de 17,88% da população para 20,23%. Outro grupo que cresceu foi o dos que não seguem uma religião, que foram de 5,13% para 6,72%.
Responsável pelo estudo, o economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Côrtes Neri, destaca que nesse período de forte crescimento econômico quem mais ganhou foram os evangélicos tradicionais. "Nas décadas perdidas [em relação à economia], os ganhadores foram os evangélicos pentecostais. A nova pobreza aderiu em massa aos pentecostais. Agora eles ficaram estáveis e quem mais cresceu foram os evangélicos tradicionais", analisa Neri. Os evangélicos tradicionais cresceram de 5,39% para 7,47% e os pentecostais mantiveram-se nos 12%.
Nos últimos anos, o discurso evangélico teve boa aceitação sobretudo das mulheres, dos jovens, da classe média e dos moradores de Estados do Sudeste, região menos católica do país.
O crescimento de evangélicos e a redução de católicos se dá principalmente entre os mais jovens, na faixa de 10 a 19 anos. A Igreja Católica está de olho nessa população e investe em ações como a Jornada Mundial da Juventude. Em 2013, o Rio de Janeiro sediará o encontro de católicos com o papa Bento XVI. O percentual de evangélicos nessa faixa etária passou de 17,72% para 21,59%, enquanto o de católicos caiu de 74,13%, em 2003, para 67,48%, em 2009.
As mulheres são mais religiosas que os homens, mas não no catolicismo: há mais homens do que mulheres seguidores da crença. É uma exceção. Segundo o estudo, das 25 religiões analisadas, a presença feminina é predominante em 23, menos em dois segmentos católicos, o apostólico romano e o apostólico brasileiro.
De acordo com o estudo, os católicos estão mais presentes nas classes AB e E. Nessas mesmas faixas, concentram-se também os que não seguem uma religião. Os evangélicos destacam-se na classe C, mas há uma divisão: os tradicionais têm boa aceitação na classe AB, enquanto os pentecostais têm mais força na classe D.
Há uma concentração regional entre os religiosos. Os nordestinos são os mais católicos e o Piauí é o Estado com mais seguidores do catolicismo: 87,93%. Já na região Sudeste, a menos católica, o Rio de Janeiro tem o maior percentual de seguidores de religiões espíritas (3,37%) e afro-brasileiras (1,61%). É o segundo Estado com menos católicos, atrás de Roraima.
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Expansão dos pentecostais perde força - Instituto Humanitas Unisinos - IHU