23 Agosto 2011
Trata-se de uma mensagem "arcaica" a do papa, disseram alguns teólogos espanhóis próximos da Igreja de base. A crítica se centra sobretudo no fato de que o pontífice "quase não fez questão de falar do desemprego, que é a primeira preocupação dos jovens: Joseph Ratzinger se fechou na defensiva com relação às novas gerações, que são cada vez mais seculares e permissivas".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 23-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em suma, "um papa, em poucas palavras, abstrato, indiferente e estranho à realidade e aos autênticos problemas dos jovens", segundo os teólogos e representantes dos movimentos cristãos de base espanhóis, que fazem referência à católica Fundação Santa Maria e ao Centro de Pesquisas Sociológicas. "Bento XVI acalcou sua mão sobre as posições mais ortodoxas e conservadoras da Igreja Católica para consolidar o seu séquito", acusaram. No entanto, a aceitação foi quase total.
A jornada que acaba de terminar em Madri foi, escreve a imprensa espanhola, a maior concentração católica da história do país. A maior parte era de jovens peregrinos que chegaram à capital espanhola de 193 países do mundo para a JMJ. Antes da missa de encerramento do pontífice, eles passaram uma noite praticamente insone, depois de um dia de espera no calor, sem água, na enorme extensão de campo ao redor da base aérea, esperando o retorno do papa, depois da Vigília de Oração na noite de sábado. E muitos eram fiéis espanhóis que quiseram participar daquela que o jornal El País chamou de a grande "festa do orgulho católico" de Madri.
A paixão levantada pelo papa durante a viagem na capital ibérica parece indicar que a Espanha "branca" está levantando a cabeça depois de oito anos de zapaterismo e de experimentação social que fizeram o Vaticano sentir calafrios. As pesquisas indicam que o Partido Popular do católico Mariano Rajoy será o vencedor das eleições políticas de novembro. Na primavera europeia, nas eleições regionais e administrativas, a Espanha já abandonou José Luis Zapatero (o que não aparece em novembro), dando ao partido de Rajoy boa parte do poder local. Em Madri, a enorme multidão de jovens que circundou Bento XVI de paixão e afeto foi convidada pelo papa a liderar a Igreja de amanhã (os "apóstolos da nova evangelização").
As "sentinelas" da JMJ são, disse o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, um "povo de jovens missionários enraizados e fundados em Cristo, firmes na fé, prontos para ir e testemunhar a sua fé até os confins da terra". A missão que lhes foi indicada pelo papa é derrotar o "relativismo" e o "secularismo", o materialismo desenfreado, a queda dos valores. Uma evangelização que encontra na Espanha, em breve "pós-zapateriana", o primeiro campo de confronto. A estratégia do Vaticano, analisa o jornal La Vanguardia, de reconquista de uma Espanha que continua se declarando 72% católica, embora pouco praticantes, foi projetada nos últimos anos pelo secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.
Uma linha que viu Bento XVI voltar à Espanha (o país mais visitado) três vezes nos primeiros seis anos do seu pontificado, e o próprio Bertone fazer mais de uma vez uma etapa na terra ibérica. O resultado foi o de reduzir a alta tensão dos primeiros anos entre bispos e poder socialista, de fazer com que Zapatero postergue "sine die" leis às quais Roma era hostil (eutanásia, abolição dos símbolos religiosos nos prédios públicos), reaproximando o episcopado ao PP de Rajoy.
Agora, a mudança de poder já está batendo à porta. E Bento XVI, na sua visita a Madri, evitou fazer referências explícitas à política espanhola e aos danos provocados pelo "descristianizador" Zapatero. Agora, Madri parece menos distante de Roma. No momento da partida, cantaram ao papa, sobre a ária de uma sevilhana: "No te vayas todavía, não te vayas por favor" (Não vá embora ainda, não vá embora por favor).
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Jornada Mundial da Juventude: um coro de consensos e algumas críticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU