Depois de julgar insustentável a sua permanência no governo, o ministro da Agricultura,
Wagner Rossi, pediu demissão do cargo no início da noite de ontem. Foi o quarto ministro do governo
Dilma Rousseff a cair em menos de oito meses de gestão. Até o fechamento desta edição, seu substituto não havia sido escolhido. (Nota da IHU On-Line: veja a nota acima).
A reportagem é de
Cristiano Romero e publicada pelo jornal
Valor,18-08-2011.
Dois nomes estão cotados para substituir
Rossi: o líder do governo no Congresso, deputado
Mendes Ribeiro (PMDB-RS); e o ex-deputado
Silas Brasileiro, do PMDB de Minas Gerais.
Gerardo Fonteles, ex-assessor especial de Rossi nomeado na terça-feira secretário-executivo do ministério, assumirá interinamente.
Nas últimas semanas,
Rossi foi alvo de inúmeras denúncias de irregularidade, consideradas por ele "falsas". "(...) Durante os últimos 30 dias, tenho enfrentado uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova, nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública", declarou o ministro numa longa carta de demissão. "Tudo falso, tudo rebatido. Mas a campanha insidiosa não parava."
Demonstrando amargura e rancor, na carta o ex-ministro critica a imprensa e diz saber de onde partiu a "campanha" contra ele. Segundo
Rossi, a motivação foi política e estaria relacionada à disputa eleitoral em São Paulo. De acordo com relato de pessoa próxima ao ex-ministro, ele se refere na carta a
José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República em 2010. Por meio de sua assessoria, Serra informou que não se pronunciaria sobre a carta de Rossi.
"Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente
Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios", afirma Rossi no documento.
A razão para acreditar que
Serra estaria por trás da suposta campanha contra ele, revelou uma fonte, estaria relacionada à hipotética influência do tucano em órgãos de imprensa. Rossi acredita que o que motivou a referida "campanha" teria sido o crescimento do PMDB em São Paulo, onde a sigla é presidida pelo filho do ex-ministro,
Baleia Rossi.
Rossi passou a manhã em sua residência, em Brasília, redigindo a carta de demissão com a ajuda de sua mulher. No início da tarde, reuniu-se com assessores no ministério e avaliou que "ficaria sangrando". Ele teria sido informado que havia repórteres fazendo investigações em sua fazenda em Ribeirão Preto (SP).
O ministro ficou irritado também com a informação de que a Polícia Federal estaria abrindo investigação contra ele. "Estou com um carimbo de corrupto na testa e eu não fiz nada", disse
Rossi, segundo assessores. A gota d`água para a decisão de deixar o governo foi o envolvimento de seus familiares nas denúncias. Na carta, ele diz que sua esposa e seus filhos lhe fizeram "carinhosamente um ultimato" para abandonar o governo. "Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares", acusou
Rossi.
No meio da tarde de ontem, o ex-ministro comunicou a assessores mais próximos a sua decisão. Sem avisar previamente a nenhum de seus colegas do PMDB,
Wagner Rossi foi, às 17h, para o Palácio do Planalto e informou sua intenção ao vice-presidente
Michel Temer, que o indicou para o cargo de ministro ainda no governo Lula.
Os dois esperaram pela volta da presidente Dilma da
Marcha das Margaridas, o que ocorreu no início da noite. Por volta das 19h, o ex-ministro apresentou oficialmente o pedido de demissão à presidente Dilma, que resistiu a esse desenlace até o último momento. A presidente, segundo assessores, ficou "muito abatida" com a decisão e tentou convencer
Rossi a voltar atrás. Inconformada, ela chegou a pedir a
Temer para demover o ex-ministro da decisão.
Dilma ficou ao lado de
Rossi desde o início da publicação das denúncias. No fim de semana, os dois se falaram por telefone depois da publicação, pela revista `Veja`, de que ele teria cobrado propina de R$ 2 milhões numa licitação; participado de fraude eleitoral na Paraíba; e de ter usado dinheiro público, quando comandava o
Porto de Santos, para quitar dívidas de empresas privadas.
A presidente considerou satisfatórias todas as explicações dadas pelo então ministro. Os dois voltaram a se falar na segunda e na terça-feira e, novamente,
Dilma reiterou a confiança no auxiliar. Ontem, ele confirmou informação, publicada pela `Folha de S.Paulo`, de que teria viajado num avião da Ourofino Agronegócio, uma empresa privada. Mais uma vez, a presidente não viu nada de errado na conduta do ministro.
"Lamento que o ministro não tenha contado com o princípio da presunção da inocência diante de denúncias contra ele desferidas", declarou a presidente, em nota oficial.
Na oposição, a saída do ministro da Agricultura foi atribuída à estratégia do PMDB de blindar Temer, de quem Rossi é amigo há 50 anos.
O sucessor de Rossi será indicado pelo vice-presidente
Michel Temer. Antes de Rossi, deixaram o governo Dilma Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa). Considerando todas as mudanças de ministério - Ideli Salvatti e Luiz Sérgio trocaram de ministério -, já são oito.
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Rossi é o 4º ministro a deixar o governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU