12 Agosto 2011
Os organizadores presumem um custo zero para o contribuinte espanhol. Não há subvenção direta, mas sim reduções no transporte e cessão de prédios públicos.
A reportagem é de N. Galarraga e P. Álvarez, publicada no jornal El País, 11-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Organizar a visita do papa e do milhão de pessoas que a hierarquia católica espera reunir em Madri do dia 16 ao 21 é "como montar um casamento impetuosamente", segundo o diretor financeiro da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Fernando Giménez Barriocanal. Custa muito dinheiro.
Giménez assegura que, com os 31,5 milhões de euros das inscrições dos 456.380 peregrinos e dos 30 mil voluntários, os 16,5 milhões de euros dos patrocínios de grandes empresas espanholas (que obtêm deduções porque o governo declarou o evento como de "excepcional interesse público") e os 2,5 milhões de euros das doações individuais, eles poderão gastar 50 milhões de euros, que é o que eles orçaram.
Giménez, que também administra o dinheiro da Conferência Episcopal e é o conselheiro delegado da Cope, repete como um mantra que o encontro de Bento XVI com os jovens católicos "não custará um único euro ao contribuinte". As autoridades não lhes deram subvenções diretas. Mas o fato de não existirem, não significa que não haja gasto público.
Por exemplo, os inscritos têm um passe especial para o transporte público (ônibus, metrô e trem) que custa 80% menos do que o passe para os turistas, o que significa uma perda de receitas aos cofres públicos de 20 milhões de euros. Em um agosto típico só são vendidos 700 passes. A JMJ comprou 600 mil (e poderá devolver os que não utilizar).
Outra gasto quantificável: o metrô vai exigir ao menos uma centena de trabalhadores extra diariamente, de acordo com estimativas sindicais, que cobrarão um plus de 100 euros por dia por cabeça. Total: 60 mil euros a mais.
Outros gastos são difíceis de quantificar, como a água, a luz e a manutenção dos 693 estabelecimentos públicos (colégios, institutos, ginásios...) onde os peregrinos passarão a noite (que pagam de 30 a 210 euros) e os voluntários (que pagam de 30 a 90 euros). Somam 337 mil lugares. "Vamos usar recursos públicos, como todo mundo usa, mas não vamos consumir fundos públicos", reafirmou Giménez.
Mas o impacto sobre o tráfego de Madri é inédito na história da capital: o centro, incluindo a Gran Via ou o Paseo de Recoletos, será fechado ao tráfego durante os seis dias da visita. O presidente da Europa Laica, Francisco Delgado, critica "a mistura de Igreja e Estado" que a visita de Bento XVI significa para Madri.
Yago de la Cierva, diretor executivo da JMJ, declarou-se encantando que, entre os representantes dos poderes públicos que pediram entradas, "há muitos ministros".
Graças ao fato de o governo ter declarado a JMJ (e outros 14 eventos neste ano) como de interesse público, as empresas doadoras podem deduzir 15% do custo com o limite de 90% do valor contribuído, explica a professora de direito tributário da Universidade Complutense Rosa Galán. Isto é, o Estado deixará de receber "13-16 milhões de euros", explica o diretor financeiro do encontro, uma fração menor do que os 263 milhões de euros da diminuição arrecadatória representada pelos 15 eventos (como o Mundobasket ou o 300º aniversário da Biblioteca Nacional).
O banco Santander, por exemplo, projetou e doou à JMJ o sistema de informática que quase meio milhão de participantes tiveram que usar se inscrever pela Internet.
As pessoas físicas podem deduzir 40% da doação.
Giménez afirma que "os impostos diretos e indiretos" gerados por essa visita do papa contribuirão com "30-40 milhões de euros" para os cofres públicos. O Ministério da Economia não fez nenhuma estimativa a respeito, segundo um porta-voz. E a professora Galán explica que "a perda de arrecadação é direta; o outro será ou não será, depende do que consumirem: consumirão muitíssimo ou virão com sanduíches".
Boa parte dos inscritos dormirão em locais públicos e comerão em um dos 2.132 restaurantes, bares e cafeterias associados.
O responsável econômico da JMJ dá outro dado que, afirma, "serve para se ter uma primeira ideia" do impacto econômico. "No ano passado, a Espanha recebeu 53 milhões de turistas que deixaram 53 mil milhões de euros. E, este ano, 1% dos turistas que vêm à Espanha o fará por causa da JMJ". E acrescenta, "longe de ser um custo para a sociedade, significa um benefício".
Os organizadores asseguram que a recepção a Bento XVI significará uma renda de mais de 100 milhões de euros para a Espanha – cujo colapso não foi especificado. Eles defendem ainda que a visita, retransmitida pelos canais de televisão de todo o mundo (4.700 jornalistas se credenciaram), irá significar "uma importante projeção para a marca Madri e a marca Espanha", segundo Yago de la Cierva, diretor executivo da JMJ.
Os gastos do encontro incluem questões tão diversas como a montagem de cenários para os atos centrais – uma missa na Praça de Cibeles, a grande missa com o papa no aeródromo Cuatro Vientos ou uma Via Crucis em Recoletos –, 100 confessionários portáteis instalados no parque de El Retiro (como o da foto ao lado), as mochilas que serão entregues a cada um dos quase meio milhão de inscritos, a instalação de tendas ou de banheiros químicos.
Os organizadores convocaram concursos de fornecedores para fazer parte de suas compras. De qualquer forma, a JMJ contratou a consultoria PriceWaterhouseCoopers para auditar as contas do evento e irá medir o impacto econômico. Giménez espera ter esses dados até setembro, porque, se demorasse muito, "perderia a graça".
Os grandes números da JMJ
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A visita do Papa não sai de graça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU