06 Agosto 2011
Em seu novo livro, o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt (foto), cristão luterano, chama novamente à memória dos europeus do século XXI um dos pontos fundamentais da história do século XX: a relação entre paz, democracia e o papel das religiões.
A opinião é de Massimo Faggioli, doutor em história da religião e professor de história do cristianismo no departamento de teologia da University of St. Thomas, em Minneapolis-St. Paul, nos EUA. O artigo foi publicado no jornal Europa, 04-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O massacre de Oslo do dia 22 de julho desencadeou, em ambos os lados do Atlântico, um debate sobre as possíveis semelhanças entre o terrorismo fundamentalista islâmico e uma cultura europeia de extrema direita que remonta à cultura da Cruzada e da reconquista contra o multiculturalismo e, em particular, contra a presença muçulmana na Europa contemporânea.
Uma reflexão sobre a "responsabilidade" da retórica pública das religiões deu lugar a uma paráfrase fácil do ditado de Croce sobre o assassino de Oslo: "Não podemos defini-lo como cristão".
Exatamente alguns meses antes, Helmut Schmidt, 92 anos, chanceler social-democrático da República Federal da Alemanha entre 1974 e 1982, havia publicado A religião responsável: perigos para a paz na era da globalização (Religion in der Verantwortung: Gefährdungen des Friedens im Zeitalter der Globalisierung, Berlim, 2011, 252 páginas).
Nessa série de artigos, Schmidt (ainda hoje um dos políticos mais influentes da Alemanha e, entre os ex, seguramente o mais presente na cena atual), cristão luterano que confessa pôr raramente os pés na igreja, chama novamente à memória dos europeus do século XXI um dos pontos fundamentais da história do século XX: a relação entre paz, democracia e o papel das religiões.
Schmidt era chanceler no ano da Conferência de Helskinki de 1975, em que as Igrejas católica e protestantes de um lado e de outro da Cortina de Ferro contribuíram para lançar as bases daquele discurso sobre os "direitos humanos" que a União Soviética e os seus satélites também não puderam recusar.
Esse momento representou o ponto alto no caminho da conscientização por parte das Igrejas europeus sobre as suas responsabilidades políticas para com o continente e o mundo inteiro: entre os capítulos do livro, "Construir pontes na Europa", "O objetivo é um teto comum ", "Sobre a necessidade do diálogo".
Impressiona notar que essas reflexões brotam em Schmidt a partir da amarga consciência de que a Alemanha cristã que saiu da Segunda Guerra Mundial não aprendeu tudo aquilo que devia aprender acerca dos resultados trágicos da impoliticidade das Igrejas nos anos 1930.
O cristianismo civil de um social-democrata como Schmidt nasceu como reação à Alemanha conformista dos anos 1950: justamente um modelo de "religião civil" à qual muitos, na Igreja hoje, olham com indisfarçável nostalgia.
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O cristianismo civil de Helmut Schmidt - Instituto Humanitas Unisinos - IHU