O Departamento de Tesouro, que é o Ministério da Fazenda dos Estados Unidos, vai detalhar o que fará com os 100 milhões de cheques que emite todos os meses se o Congresso não aumentar o teto de endividamento público, e isso vai abrir a cortina de um plano mantido em segredo e que pode ter consequências dramáticas para a economia, a nota de crédito dos EUA e a situação política do país.
A reportagem é de
Damian Paletta, publicada pelo
The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornal Valor, 28-07-2011.
O governo
Barack Obama espera que essas decisões - isto é, quem pagar ou não - possam ser evitadas se um acordo para elevar o teto de endividamento antes de 2 de agosto for fechado, mas o prazo está acabando. Membros do governo ainda não decidiram quando divulgar o plano e podem reverter o curso se houver progresso nas negociações para aumentar o teto.
Se a turbulência nos mercados piorar esta semana, contudo, a Casa Branca pode divulgar os planos nos próximos dias. Pessoas do governo não quiseram dar detalhes sobre ele.
O
Federal Reserve, ou
Fed, como é conhecido o banco central americano, deve ter um papel importante qualquer que seja o plano do Tesouro, mas já avisou que não tem ferramentas especiais para resgatar o governo. O Fed pode optar por tentar acalmar o mercado financeiro garantindo que os bancos tenham dinheiro para continuar operando.
Executivos de Wall Street acreditam que o Tesouro vai reestruturar a maneira como paga suas contas, de modo que detentores de títulos de dívida, inclusive governos como o da China, tenham prioridade. Isso evitaria que o país ficasse inadimplente em seus títulos de dívida - algo que até a Grécia conseguiu evitar.
Terry Belton, diretor mundial de estratégia de renda fixa do
J.P. Morgan Chase, disse acreditar que há "chance virtualmente zero" de uma moratória em títulos de dívida americana, mesmo se o teto da dívida não for ampliado até 2 de agosto.
"O Tesouro tem outras coisas disponíveis que são bastante nocivas, mas são melhores do que deixar de fazer um pagamento de juros", disse ele. Pagar detentores de títulos antes de beneficiários da Previdência, por exemplo, pode gerar ira política e levar a processos na Justiça e turbulência nos mercados, além de um possível rebaixamento da nota de crédito.
O governo está sob pressão de detentores de dívida, cidadãos idosos, parlamentares e outros grupos para detalhar como vai priorizar os pagamentos. Detalhar seus planos poderia ajudar o Tesouro a conter a crescente incerteza nos mercados financeiros quanto ao que pode acontecer na semana que vem, mas também poderia abrir espaço para críticas políticas e poderia deflagrar um tipo de crise que ele existe para evitar.
Funcionários do governo acreditam que podem perder a capacidade de tomar dinheiro emprestado se o teto de endividamento não for suspenso. Embora a receita com impostos tenha sido maior do que o esperado nas últimas semanas, acredita-se que o Tesouro vai contrair radicalmente seus pagamentos depois de 2 de agosto para conservar caixa o máximo possível. O
Centro Político Bipartidário, um centro de estudos de Washington, estima que o Tesouro vai ter um déficit de cerca de US$ 130 bilhões em agosto e provavelmente não terá o dinheiro para cobrir todas as suas obrigações.
Autoridades de primeiro escalão do governo têm se reunido há semanas para traçar planos para operar depois de 2 de agosto, mas não divulgaram nenhuma de suas estratégias. Detalhes só circularam entre um grupo fechado de autoridades, entre elas o presidente Obama, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e um grupo de confidentes deste no ministério.
Dois auxiliares importantes são
Mary Miller e
Matthew Rutherford, ambos especialistas em mercados de dívida. Rutherford tem sido um conselheiro bem próximo de Geithner desde que ambos trabalharam juntos no filial do Fed em Nova York. Miller é uma especialista no mercado financeiro que passou 26 anos no fundo
T. Rowe Price Group.
Ex-membros do governo dizem que parece não haver resposta simples para como a equipe de
Geithner pode navegar uma situação como esta, e que a ideia de priorizar alguns pagamentos do governo sobre outros poderia ser um pesadelo técnico e logístico. Muitos pagamentos são computadorizados e não está claro quais sistemas poderiam ser reprogramados a tempo.
Isso já levou membros do governo a dizer, recentemente, que acham que estarão prontos para o que acontecerá depois de 2 de agosto, mas descreveram como "impensáveis" as decisões que teriam de tomar nesse caso.
"Então o que você diz? Quem você paga? Essa é uma situação impossível que este país nunca enfrentou, e nunca terá de enfrentar se o Congresso fizer o que foi eleito para fazer", disse o porta-voz da Casa Branca,
Jay Carney.
O senador
Orrin Hatch, do Partido Republicano e membro da comissão de finança do Senado, pediu a Geithner para especificar até às 17 horas de hoje, horário de Washington, seus planos de contingência. Ele também pediu detalhes sobre quanto dinheiro o Tesouro esperava receber e gastar entre o fim de julho e o fim de agosto, algo que o Tesouro ainda não fez.
"Muitos americanos e membros do Congresso estão, infelizmente, apoiando-se em estimativas e projeções de grandes instituições financeiras de Wall Street ou de organizações não-governamentais muitas vezes rotuladas de `centros de estudos`", escreveu
Hatch a
Geithner e outras autoridades financeiras. "A falta de informação é insatisfatória."
Embora a Casa Branca tenha tido o cuidado de não divulgar seus planos, ela tem sugerido que há coisas que ela não faria depois de 2 de agosto. Por exemplo, autoridades do governo já disseram que Obama não invocaria a 14ª emenda da Constituição, que diz que o teto de endividamento é anticonstitucional. Eles também já disseram que não planejam vender as reservas de ouro do país ou ativos parecidos para levantar dinheiro rapidamente.
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