26 Julho 2011
Não é um gesto comum o que foi posto em campo hoje pela Santa Sé para responder às críticas duríssimas que chegaram nas últimas semanas da Irlanda, onde a publicação do relatório sobre os abusos de menores na diocese de Cloyne levou a indignação popular contra a Igreja a níveis sem precedentes. A Secretaria de Estado anunciou nesta manhã que convocou o Núncio Apostólico em Dublin, Dom Giuseppe Leanza (foto), "para consultas".
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 25-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O motivo oficial é a preparação da resposta vaticana, solicitada pelo governo irlandês sobre o Relatório Cloyne e particularmente a uma carta datada de 31 de janeiro de 1997 pelo então Núncio Apostólico, Dom Luciano Storero, aos bispos irlandeses, que se refere às "sérias reservas" do Vaticano sobre a obrigação de denunciar os padres pedófilos, contida nas diretrizes adotadas pela Conferência Episcopal dois anos antes.
Mas o vice-diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, padre Ciro Benedettini, explicando aos jornalistas o escasso comunicado que anunciava o chamado do embaixador, enfatizou que se trata de uma "medida da qual a Santa Sé raramente faz uso".
Na nota, "evidencia-se a seriedade da situação, a vontade da Santa Sé de enfrentá-la com objetividade e determinação", mas também uma "certa surpresa e pesar por algumas reações excessivas". A referência se dirige sobretudo às palavras do primeiro-ministro de Dublin, Enda Kenny, pronunciadas na quarta-feira passada durante um debate parlamentar. Nessa ocasião, Kenny acusou o Vaticano de ter tido uma posição "calculista e devastadora" sobre os abusos, de estar dominado por uma cultura sob a marca do "elitismo e do narcisismo", e de ter tentado "obstaculizar" a investigação de uma república soberana e democrática há apenas três anos.
O próprio Relatório Cloyne definia a reação do Vaticano perante os abusos de "nenhuma ajuda". No entanto, destacou o padre Benedittini, trata-se de um gesto que "deve ser interpretado na linha de uma vontade da Santa Sé com vistas a uma séria e efetiva cooperação". As palavras do primeiro-ministro foram consideradas "violentas" e "imprecisas" no Vaticano, especialmente porque ignoram os esforços feitos pela Santa Sé nos últimos anos para esclarecer seus próprios procedimentos e punir mais rapidamente os casos de abuso, e que também suscitaram um amplo debate na Irlanda.
Nos últimos dias, três bispos irlandeses – o de Down and Connor, Dom Noel Treanor, o de Dromore, Dom John McAreavey, e o auxiliar da arquidiocese de Armagh, Dom Gerard Clifford – distanciaram-se das palavras do primeiro-ministro, acrescentando, porém, que refletem bem a "raiva" e a "confusão" vividas pelos fiéis irlandeses diante dos fatos documentados no relatório.
Na semana passada, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, havia tomado posição sobre o assunto, esclarecendo que "a Santa Sé responderá oportunamente à demanda posta pelo governo irlandês a propósito do relatório sobre a diocese de Cloyne", acrescentando, no entanto, a esperança de que "o debate em curso sobre temas tão dramáticos se desenvolva com a necessária objetividade, de modo a contribuir com a causa que mais deve estar no coração de todos, isto é, a salvaguarda das crianças e dos jovens e a renovação de um clima de confiança e de colaboração para esse fim, na Igreja e na sociedade".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Vaticano-Irlanda: uma guerra (pouco) diplomática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU