25 Julho 2011
A verdade de Anders Behring Breivik não está nas 1.500 páginas da sua Declaração de Independência Europeia – 2083, que ele teve o cuidado de colocar online no momento da sua ação. Não só porque é uma cópia do memorial do Unabomber.
A análise é do jornalista e escritor italiano Adriano Sofri, publicada no jornal La Repubblica, 25-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Às metas essenciais do terrorista norte-americano Theodore Kaczinsky, a tecnologia e o leftism, Breivik acrescenta confusamente o multiculturalismo, o relativismo, a Eurábia e a aquiescência ao Islã; e, ao apelo a uma existência segundo a natureza, o apelo aos cruzados e aos seus ornamentos e honrarias.
Kaczynski era – é, porque está vivo em uma prisão cujas chaves foram jogadas fora – algo muito próximo do que chamamos de um gênio, incluindo a loucura. Breivik parece ser, ao contrário, o breviário de uma massa indigesta de subculturas místicas e técnicas, cujas versões espetaculares tiveram uma grande sorte nos nossos anos.
Se quisermos encontrar um traço comum na brecha abissal entre o original e a cópia, ele estará no desastre ao qual, no entanto, se condena a pretensão de endireitar o "pau torto" da humanidade. Para a leitura apropriada do manifesto desse repugnante assassino, haverá tempo e competências. E os competentes deverão reconhecer que indivíduos orgulhosos por terem feito a si mesmos e orgulhosos pela sua própria missão superior estão prontos a unir os ingredientes mais óbvios e os mais extravagantes, porque neles as ideias devem servir ao fato, e não vice-versa. Perversão que Breivik quer dirigir em seu próprio favor quando comunica solenemente ao advogado que a sua obra foi "atroz, mas necessária", e finge não gostar da violência, mas de se sacrificar em sua prática pela causa superior do ideal.
Leram com horror e repugnância o manifesto do assassino aqueles que, pensando primeiramente em um terrorista islamista – como era plausível –, se embriagaram com a ideia de engrossar a sua própria intolerância e se depararam com um padrinho de ideais repugnantes. E aqueles que o aplaudiram como terrorista islamista e se depararam com um criminoso que, em ódio a eles, faz um massacre do seu próprio país e lhe apresenta o terrorismo – foi a primeira vez da Noruega.
O ponto que eu quero enfatizar, ao contrário, é outro. Breivik, autor de uma premeditação das mais longas e repugnantes – viver anos na expectativa e na preparação meticulosa de um massacre de inocentes –, também pretendeu armar a interpretação autêntica de si mesmo e do seu gesto, com a assinatura autoral. Para induzir os outros, as pessoas "normais" atônitas a ponto de buscar uma explicação àquilo que só deve levar ao horror e ao desprezo, a buscá-la na exegese dos seus escritos anteriores e nos discursos que ele ainda se dispõe a fazer, uma vez que quis sair vivo do seu grande dia.
Não tenho vontade de cair nessa tentação. Ele é um covarde nojento. Escolheu com cuidado a ilha tradicional dos jovens próximos ao partido trabalhista – algum símbolo ele quer nos fazer ver –, porque era o lugar onde ele poderia matar mais impunemente, como um grande jogo de caça em um galinheiro. Além das "armas de destruição em massa" que o seu manifesto nos ensina a empunhar.
Uma carnificina de jovens inermes a ser executada à mão livre. Era essa a força de um contra cem mil ineptos, citada no início do seu texto deformando um pensador liberal.
E ainda: ele optou por não morrer, ou pelo menos não optou por morrer. Não porque não estivesse pronto: um canalha como ele se orgulha de estar pronto para se imolar quando coloca em ação a imolação alheia. Mas ele não é qualquer fanático suicida, daqueles que fazem o seu filmezinho com a faixa sobre o rosto antes de ir se explodir. Ele preferiu ver o filme em pessoa, com o seu rosto no meio das primeiras páginas do mundo. "O maior monstro da Noruega depois da Segunda Guerra Mundial". O adjetivo "grande" não se nega a ninguém. O homem do recorde. Em Oklahoma City, de modo algum eram mortos um por um. O seu texto não é, portanto, um "testamento ideológico". É o discurso de um vaidoso ao extremo, que ainda vai falar muito em um país que não tem pena de morte (nem de direito nem de fato), nem prisão perpétua.
Vocês já leram o relato de um dos rapazes fugitivos, que lhe implorou para economizá-lo, e ele não sabe se o fez deliberadamente ou por distração. Um mínimo resíduo de humanidade, alguém poderá dizer: ao contrário, o aperfeiçoamento da desumanidade. A onipotência de quem tira a vida necessita do seu complemento marginal, de conceder-lhe, salva, uma vida, a seu gosto. A pena máxima para Breivik é de 21 anos. Ele sairia, na pior das situações, aos 53 anos. Seria bom que ele procurasse no próximo o olhar do jovem agraciado.
É preciso conhecer esse homem, é claro, para que não haja outros como ele. Mas o modo certo para reconhecê-lo é olhá-lo através das suas jovens vítimas. Gro Harlam Brundtland, grande mulher que foi primeira-ministra e depois chefe da Organização Mundial da Saúde e havia ido falar em Utoya com os jovens do acampamento poucas horas antes do massacre, recordou "esses jovens entusiastas, tão preocupados com a sua época, o seu país e o mundo". Eis, portanto: esse cruzado foi aterrorizar, escandalizar e exterminar esses jovens inermes tão preocupados com o mundo do seu tempo e do nosso.
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Na cabeça do carnífice - Instituto Humanitas Unisinos - IHU