23 Julho 2011
Sete em cada dez das principais empresas nas quais o BNDES tinha participação acionária direta em 2010 estão entre as 300 maiores por faturamento no país. A história do BNDES como acionista - via BNDESPar, seu braço de participações - das empresas listadas em suas demonstrações financeiras de 2010 é relativamente longa. Em quase 40% dos casos, a BNDESPar figura como acionista das empresas há ao menos uma década.
A reportagem é de Érica Fraga e Leila Coimbra e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, 24-07-2011.
Os dados foram levantados pela Folha a partir da lista divulgada pela BNDESPar das 33 empresas nas quais seus investimentos somavam 85% do total da carteira de participações acionárias diretas do banco no ano passado. O fato de a BNDESPar entrar com recursos em empresas de grande porte e de algumas participações acionárias do banco se estenderem por muitos anos motiva críticas de especialistas.
Para analistas, o braço de participações do BNDES se distancia de seu mandato, que, segundo documento da própria empresa, é: "Apoiar o processo de capitalização e o desenvolvimento de empresas nacionais (...) principalmente através de participações de caráter minoritário e transitório, buscando oferecer apoio financeiro sob a forma de capital de risco".
"A BNDESPar vem se apresentando mais como uma fonte de recursos para as grandes empresas dos setores eleitos como prioritários pelo banco e menos como uma empresa que visa o fortalecimento do mercado de capitais", diz Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV. Sobreira também critica a participação de longa duração da BNDESPar em algumas empresas grandes, como Fibria, Copel, Eletrobras, Vale e Petrobras. "É uma longa transitoriedade", ironiza.
A atuação da BNDESPar no mercado de ações de forma global (considerando todas as compras e vendas de papéis) é elogiada por analistas do mercado financeiro. O executivo de uma corretora disse à Folha que os investimentos e as reduções ou vendas de participação (chamados desinvestimentos) têm seguido a boa prática de "vender na alta e comprar na baixa".
O problema, dizem analistas, é o fato de a BNDESPar manter participação significativa em grandes empresas por muitos anos. A ideia de participações transitórias -ressaltadas pela BNDESPar como parte de seus objetivos - segue a lógica de ajudar as empresas a se fortalecer em um primeiro momento e, depois, caminhar com as próprias pernas.
Segundo especialistas, a longa duração de investimentos - principalmente em empresas grandes - restringe a capacidade da BNDESpar de ajudar as empresas de menor porte, que têm mais dificuldade de se financiar. Segundo Ruy Quintans, economista do Ibmec, a BNDESPar perdeu sua função original de entrar como acionista em empresas não consolidadas para fortalecer o mercado de capitais.
Para ele, a BNDESPar (e o próprio BNDES) "privilegia setores e empresas escolhidos". "Essas escolhas não estão necessariamente sendo feitas com base no interesse da nação", diz Quintans.
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BNDES privilegia grandes empresas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU