19 Julho 2011
O arcebispo Charles Chaput, de Denver, visto em geral tanto como um líder da ala conservadora da Igreja e um duro administrador com uma forte ética de trabalho, foi nomeado pelo Papa Bento XVI como o novo arcebispo da Filadélfia.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 18-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fontes confirmaram a nomeação para o NCR, que está programada para ser anunciada pelo Vaticano amanhã. Chaput substitui o cardeal Justin Rigali, 76 anos, que liderou a arquidiocese da Filadélfia desde 2003.
Chaput, 66 anos, assume uma arquidiocese em turbulência devido à crise dos abusos sexuais.
Em fevereiro, um relatório do Grande Júri afirmou que 37 padres da Filadélfia que enfrentavam acusações confiáveis de abuso sexual permaneceram no ministério na Filadélfia, apesar das promessas por parte dos bispos dos EUA de "tolerância zero". Rigali imediatamente suspendeu três desses padres e depois suspendeu mais 21. Rigali também comissionou um ex-promotor público contra abusos infantis para realizar uma investigação, que atualmente está em curso.
Também como resultado do relatório do Grande Júri, uma ex-autoridade da arquidiocese, Mons. William Lynn, enfrenta agora acusações criminais – a primeira instância nos Estados Unidos de uma autoridade católica indiciada não por cometer abusos, mas sim por fracassar em impedi-los.
Enquanto os católicos da Filadélfia conhecem seu novo líder, o contraste com Rigali em geral – conhecido como um mediador de bastidores, que prefere manter um perfil público bastante baixo – pode ser chocante.
Muito mais franco, Chaput se destacou ao longo dos anos como um proeminente pararraios de polêmicas. Ele é visto como uma voz forte para a ortodoxia doutrinal e advoga um papel robusto para as pessoas de fé na vida política.
Entre outras batalhas, Chaput entrou em conflito com os políticos católicos "pro-choice" [que defendem o direito de abortar], criticou publicamente a Universidade de Notre Dame por conceder um doutorado honorário ao presidente Barack Obama e tem sido uma grande força nos debates nacionais acerca do casamento gay e da pesquisa com células-tronco embrionárias.
Chaput também tem chamado rigorosamente os católicos a aderirem ao ensino da Igreja. Em um recente discurso a um grupo de assistentes sociais católicos, por exemplo, ele insistiu que as instituições de caridade filiadas à Igreja "têm o dever de encarnar fielmente as crenças católicas sobre o casamento, a família, a justiça social, a sexualidade, o aborto e outras questões importantes".
Antes das eleições de 2008, Chaput publicou um livro intitulado Render unto Caesar [Dai a César], afirmando que "as pessoas que levam Deus a sério não permanecerão em silêncio sobre sua fé". Dado que a Pensilvânia é um dos principais Estados na disputa da política norte-americana, a visibilidade e a influência de Chaput provavelmente irão crescer.
À luz da crise na Filadélfia, o histórico de Chaput no fronte dos abusos sexuais provavelmente também irá atrair um exame especialmente minucioso.
Admiradores dizem que Chaput tem uma abordagem sensata acerca da disciplina sacerdotal e não se esconder atrás do privilégio clerical. Robert Brancato, uma vítima de abuso e ex-morador de Denver, é membro da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres (SNAP, na sigla em inglês), um grupo normalmente entre os críticos mais severos dos bispos dos EUA. No entanto, Brancato, agora residente em Dakota do Sul, fez elogios à linha dura de Chaput.
"Uma das primeiras coisas que Chaput me disse foi para se desculpar pelo que aconteceu comigo", disse Brancato a um jornal de Rapid City em março.
Na ocasião, no entanto, o SNAP e grupos afins destruíram Chaput, não só pela forma como lidou com denúncias específicas, mas também por combater os esforços para suspender o estatuto das limitações no Colorado para processar a Igreja Católica a partir das denúncias de abuso.
Apesar do fato de Chaput ser considerado um candidato de destaque para praticamente qualquer grande oportunidade na Igreja norte-americana nos últimos anos, sua nomeação para a Filadélfia, no entanto, chega como uma surpresa.
Fontes disseram ao NCR que Chaput foi uma escolha muito pessoal do Papa Bento XVI. A maioria dos íntimos consideravam Chaput como uma possibilidade remota para a Filadélfia, em comparação com o arcebispo Joseph Kurtz, de Louisville, Kentucky, natural da Pensilvânia e um prelado com uma reputação de compromisso com a mediação, considerado como o favorito.
Bento XVI, no entanto, indicou Chaput, solidificando seu perfil como um favorito papal.
Nos últimos anos, Bento XVI voltou-se para Chaput para lidar com duas outras atribuições sensíveis: Chaput fez parte de uma equipe de bispos encarregada de realizar uma revisão dos Legionários de Cristo e também foi incumbido de uma visitação à diocese em Toowoomba, na Austrália, guiada pelo bispo William Morris.
Essa última investigação levou à decisão de Bento XVI de remover Morris, em parte porque este sugeriu a abertura às presbíteras em uma carta pastoral.
Chaput será instalado na Filadélfia no dia 8 de setembro. Fontes disseram ao NCR que Rigali, depois da transição, pode se estabelecer na diocese de Knoxville, Tennessee, onde seu antigo amigo e protegido, Dom Richard Stika, preparou uma residência.
Embora Chaput seja natural de Concordia, Kansas, e tenha atuado como bispo em duas dioceses ocidentais – Rapid City e Denver –, ele tem ligações com a Pensilvânia. Ele estudou em um colégio dos capuchinhos no oeste da Pensilvânia em meados dos anos 1960 e mais tarde trabalhou para os capuchinhos em Pittsburgh durante a década de 1970.
Chaput também tem um interesse especial pelas questões dos nativos norte-americanos, dado que sua mãe, que morreu em 2007, era membro da tribo Potawatomi.
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Papa indica Charles Chaput para a Filadélfia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU