Os números dos empréstimos intercompanhia das multinacionais brasileiras podem estar refletindo gestão de caixa dessas empresas, e não operações efetivas de investimento no exterior, para
Darwin Dib, economista do Itaú, especializado na análise das contas externas.
A reportagem é de
Fernando Dantas e publicada pelo jornal
O Estado de S.Paulo, 18-07-2011.
Ele nota que há uma alta variação entre fluxos positivos e negativos quando se analisam os empréstimos intercompanhia (componente do investimento direto brasileiro no exterior), o que não é normal, na sua interpretação.
No balanço de pagamentos, os investimentos das multinacionais brasileiras em outros países entram como valores negativos, já que significam saídas de capital. Caso haja uma repatriação de capital - isto é, se as empresas brasileiras trouxerem de volta ao País mais recursos do que estão investindo no exterior -, o resultado aparece como positivo no balanço de pagamentos.
Dib, porém, estranha as muitas variações mensais entre negativo e positivo no investimento direto brasileiro no exterior. Em termos anuais, também há oscilações difíceis de entender. Por exemplo, segundo os números do Banco Central (BC), as empresas brasileiras investiram liquidamente US$ 11,5 bilhões no exterior em 2010, e, em 2011, até maio, já repatriaram US$ 10,3 bilhões.
"A melhor explicação que eu encontro para o investimento brasileiro no exterior ter esse comportamento anômalo é que isso aí reflete em grande parte administração de caixa dessas empresas", diz o economista.
Ele nota que, entre os dois componentes do investimento direto brasileiro no exterior - participação no capital e empréstimos intecompanhia -, são estes últimos que têm um comportamento muito errático, e que acabam explicando a volatilidade do fluxo como um todo. As participações de capital, por sua vez, são mais estáveis.
Para
Dib, os empréstimos intercompanhia das empresas brasileiras no exterior não sugerem que se trate efetivamente de fluxo de recursos entre matriz e filial para viabilizar investimentos em outros países, como ampliação de capacidade instalada, etc. Ele acredita que sejam mais operações de gestão de caixa, em função de variações de taxa de câmbio, juros, etc.
As multinacionais brasileiras são discretas em relação ao tema dos empréstimos intercompanhia. Procuradas pelo Estado para comentar sua estratégia nessa área, a Petrobrás e a Vale declinaram de se pronunciar. Do ponto de vista tributário, os empréstimos intercompanhia são taxados de forma igual a de outras formas de captação, como a emissão de bônus.
Uma fonte da equipe econômica não concorda com a visão de que a trajetória dos empréstimos intercompanhia das multinacionais brasileiras tenha um componente importante de gestão de caixa ou de arbitragem de juros. Na sua opinião, o que está acontecendo reflete um movimento real do investimento direto no exterior, que teve o seu deslanche por volta de 2004, quando empresas de setores como bebidas, metalurgia, bancos, etc. buscaram estratégias de internacionalização.
Ele nota que, em termos líquidos, quase US$ 70 bilhões saíram do Brasil de 2004 a 2008 naquele movimento de decolagem do investimento externo de empresas brasileiras. "Com a crise de 2008 e 2009, muitas intenções se frustraram, o Brasil começou a oferecer condições bem melhores do que as daqueles países, e os fluxos começaram a se reverter de forma bem expressiva."
Para
Nathan Blanche, sócio-diretor da Consultoria Tendências, o salto dos empréstimos intercompanhia das filiais de multinacionais brasileiras para as suas matrizes não é um "fato isolado", e reflete uma tendência mais geral de influxos de capital para o Brasil. Ele acha que os rumores sobre novas medidas de controle de entrada de capitais podem reforçar essa tendência.
"Parte deste movimento eu atribuo a uma antecipação defensiva dos agentes econômicos", ele diz.
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Variação entre fluxos não é normal, diz economista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU