11 Julho 2011
O presidente eleito do Peru quis enviar uma mensagem clara sobre suas intenções de manter boas relações com Washington. Relações que, disse, estarão marcadas, ao menos pelo lado peruano, pelo pragmatismo e não pela ideologia.
A reportagem é de Carlos Noriega e está publicada no jornal argentino Página/12, 11-07-2011. A tradução é do Cepat.
"Os Estados Unidos são um sócio importante para o Peru. É fundamental fortalecer as nossas relações com os Estados Unidos", assinalou o presidente eleito Ollanta Humala durante sua visita a Washington esta semana. Com estas palavras, e sua viagem aos Estados Unidos antes de assumir o poder, em 28 de julho, Humala – que venceu as eleições encabeçando a coalizão progressista Gana Perú e cuja candidatura apoiada pela esquerda nunca teve as simpatias da Embaixada norte-americana – quis enviar uma mensagem clara sobre suas intenções de manter boas relações com Washington. Relações que, disse, estarão marcadas, ao menos pelo lado peruano, pelo pragmatismo e não pela ideologia.
Durante sua passagem por Washington, Humala se reuniu com o presidente Barack Obama, a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o encarregado da segurança nacional da Casa Branca, Thomas Donilon. Com eles tratou temas como as relações comerciais entre ambos os países e o narcotráfico, dois assuntos potencialmente explosivos. O próximo presidente peruano também teve uma conversa com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, a quem disse que o seu governo apoiará o fortalecimento do organismo interamericano.
Na equipe de Humala foi muito bem recebido o gesto de Obama de se reunir com o eleito presidente peruano, embora o encontro não tivesse sido agendado. Humala e Obama conversaram durante aproximadamente 30 minutos na Casa Branca. O encontro não previsto se deu quando Obama entrou no salão da Casa Branca no qual Humala se reuniria com Thomas Donilon. "Foi um gesto de alta deferência política", disse o embaixador Luis Chuquihuara, membro da comitiva peruana, ao comentar a decisão de Obama de se reunir com Humala fora da agenda. "O diálogo com o presidente Obama – assinalou Chuquihuara – foi altamente apreciado pelo presidente eleito".
"(Barack Obama) olha com muita expectativa para o Peru e seu crescimento econômico, e concorda em que este crescimento tem que ser para todos; do contrário, se o crescimento econômico não se converter em desenvolvimento, obviamente a tarefa não está concluída", declarou Humala na saída de sua reunião com Obama.
O atual governo de Alan García foi um aliado incondicional de Washington, aspecto que na equipe política de Humala asseguram que mudará. "Com a eleição de Humala, os Estados Unidos perdem um aliado incondicional na região. Humala quer ter boas relações com os Estados Unidos, mas não será o aliado incondicional de Washington que Alan García foi. Seguramente, haverá pontos de tensão e negociação nessas relações", assinalou ao Página/12 Sinesio Lópes, sociólogo e membro da equipe técnica e política da coalizão Gana Perú que governará com Humala.
Os principais focos de tensão e negociação entre Estados Unidos e Peru serão o Tratado de Livre Comércio (TLC) – criticado por Humala, embora tenha baixado o tom nesses questionamentos – e a política antidrogas que a Administração norte-americana promove no Peru e que foi duramente criticada pelos especialistas da coalizão Gana Perú no assunto.
Sobre o TLC com os Estados Unidos, Humala assegurou em Washington que respeitará os tratados assinados pelo atual governo, deixando desta maneira claro que não tem a intenção de denunciar unilateralmente este tratado comercial, como em algum momento da campanha eleitoral se especulou que faria. Mas, sua equipe de governo não oculta seus questionamentos ao TLC, que assumiram como uma realidade inevitável, e coloca a necessidade de renegociar este acordo comercial.
"Vai se propor a renegociação de alguns pontos do TLC, como aquele que se refere aos direitos autorais e patentes, que é um tema central. Pelo que ficou estabelecido no TLC no tema das patentes, os remédios aumentaram de preço. Nisso, o próximo governo deve brigar por melhores condições para o nosso país. Este pode ser um fator de tensão nas relações com os Estados Unidos", disse Sinesio López.
No tema da luta contra as drogas, a equipe do Gana Perú propôs mudar a política antidrogas norte-americana, que agora está sendo aplicada no país e que concentra a repressão sobre os camponeses produtores de coca com a erradicação forçada das plantações de coca, através de uma política de alianças com os cocaleiros para trabalhar com eles em um programa de erradicação concertada. Duas visões distintas que poderão entrar em choque quando Humala assumir a presidência. Aqui, o próximo presidente peruano terá um tema complicado e um potencial ponto de conflito com Washington.
"A questão da Amazônia será outro tema complicado. Os Estados Unidos estão escanteando todos os países amazônicos e acreditam que eles são os únicos que podem proteger a Amazônia. O governo peruano vai defender seu direito sobre a Amazônia e seus recursos e biodiversidade. Esse será um ponto de tensão", assegura Sinesio López.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Humala, versão pragmática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU