08 Julho 2011
O jesuíta Pe. Paolo Dall’Oglio é conhecido não apenas na Itália, onde nasceu, nem apenas na Síria, onde vive como monge há mais de 30 anos, junto a uma comunidade islamo-cristã no mosteiro Deir Mar Musa.
Sua experiência de fé – que remonta a uma tradição de diálogo inter-religioso tão secular quanto o mosteiro onde reside, mas ao mesmo tempo tão inovadora no estilo e na proposta – chama a atenção de todos aqueles que se interessam pelo encontro entre as religiões. Em fevereiro deste ano, o Pe. Dall’Oglio passou por diversas universidades dos EUA – como Scranton, Boston College e Georgetown – para explicar justamente como é possível essa convivência tão próxima entre essas duas fés abraâmicas.
A IHU On-Line vem tentando entrevistar o Pe. Dall’Oglio desde abril deste ano. Nos primeiros contatos, o jesuíta explicava que não havia disponibilidade de tempo para responder e pedia que retomássemos a conversa em julho. Após um novo contato, recebemos uma nova resposta nesta sexta-feira. O cenário que se vislumbra a partir das breves palavras enviadas pelo jesuíta, monge nos desertos da Síria, é muito mais obscuro e entristecedor.
Suas palavras servem como um testemunho dos desafios que se apresentam nas complexas inter-relações entre o amplo quadro social em revolução na Síria (as revoltas sociais e os embates da política internacional) e a permanente vocação do jesuíta e de sua comunidade ao diálogo inter-religioso, na "boa vizinhança" do lugar – embora passando com graves dificuldades econômicas, que podem levar ao fechamento dessa inovadora experiência islamo-cristã.
Eis o depoimento.
Caríssimo,
É totalmente impossível para mim responder brevemente às suas interessantes questões. A nossa situação, especialmente a financeira e também a geral (e as duas estão ligadas), só permite pensar em buscar os fundos necessários para não dispensar a todos e mandar os monges para casa!
Permaneça, caro amigo, em contato... talvez simplesmente reenviando este e-mail e dando-me novos prazos... [para enviar as respostas] Eu prometo que quando eu recomeçar – se Deus quiser – a respirar... então vou tentar satisfazer o seu pedido. Desculpe-me por esta resposta um pouco angustiada, mas é que estamos muito angustiados!
Quanto ao resto, se você puder, convença o governo do Brasil a ajudar a Síria a superar esta crise dolorosa. Para nós, cristãos na Síria, a perspectiva da guerra civil e da divisão do país é simplesmente um pesadelo que, infelizmente, parece querer se tornar realidade. Nesse caso, não haveria mais espaço para os cristãos neste país, que, ao contrário, tem por vocação ser um exemplo magnífico da harmonia inter-religiosa e de boa vizinhança.
Que o Brasil seja o promotor de uma iniciativa negociada voltada a criar um novo acordo nacional que permita a constituição de uma democracia verdadeiramente consensual. O Brasil também pode tomar uma iniciativa em favor dos direitos humanos e da proteção física das oposições, sem ser acusado de se intrometer nos assuntos internos do país, com intenções de inimizade e de aliança com Israel, como, ao contrário, é o caso dos Estados Unidos da América e da União Europeia.
Saudações aos padres jesuítas da sua universidade, e peça-lhes que se interessem pelo nosso destino.
Seu no Senhor,
Pe. Paolo
(Por Moisés Sbardelotto)
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Jesuíta, monge na Síria, clama por ajuda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU