O afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes por suspeita de corrupção pela
presidente Dilma Rousseff no final de semana deixou o ministro
Alfredo Nascimento (PR) em posição insustentável no comando da pasta, na avaliação de aliados do Planalto. A queda do ministro é esperada em breve por governistas e a oposição avalia a apresentação de um pedido de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso.
A reportagem é de
Denise Madueño e
Rosa Costa e publicada pelo jornal
O Estado de S.Paulo, 04-07-2011.
A rapidez com que
Dilma atuou no episódio levantou ressentimentos na base. Parlamentares aliados previam, ontem, dificuldades futuras para a presidente na relação com os partidos que a apoiam no Legislativo. Eles sustentam que a presidente humilhou o PR, que comanda o Ministério dos Transportes, e fragilizou a confiança com a base pela forma com que agiu.
Dilma anunciou o afastamento assim que a revista
Veja começou a circular com a denúncia sobre um esquema de cobrança de propinas na pasta, na manhã de sábado, sem dar chance ou prazo para explicações ao ministro
Alfredo Nascimento. Esses fatos, avaliam governistas, revelam que
Dilma já pretendia fazer mudanças no ministério e aproveitou a oportunidade.
Nos bastidores, as desconfianças com a presidente vão além. Setores da base afirmam não ter dúvidas de que as informações sobre o suposto esquema foram passadas à revista por integrantes do próprio governo.
Reportagem publicada pela revista revela um esquema montado nos Transportes baseado na cobrança de propinas de 4% das empreiteiras e de 5% das empresas de consultoria que elaboram os projetos de obras em rodovias e ferrovias.
Foram afastados pelo governo o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit),
Luiz Antônio Pagot, o presidente da Valec Engenharia,
José Francisco das Neves, o chefe de gabinete do ministério,
Mauro Barbosa Silva, e o assessor
Luís Tito Bonvini.
"Ao afastar, como fez, os suspeitos, a presidente legitimou as denúncias, que não traziam nenhuma prova. Ela criou uma oportunidade para a abertura de uma CPI", avaliou um deputado da base de
Dilma. "A presidente vai ter uma crise política com o PR, que vai dar o troco."
Oposição
Ao mesmo tempo em que aplaudiu a atitude de
Dilma, a oposição quer mais investigações. O PSDB avalia a criação de uma CPI. O líder do partido na Câmara,
Duarte Nogueira (SP), afirmou que vai entrar com um pedido de investigação no Ministério Público Federal, com um requerimento à Polícia Federal e com uma solicitação de auditoria especial para o Tribunal de Contas da União (TCU). Um requerimento de convocação do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU),
Jorge Hage, será apresentado nesta semana em uma comissão da Câmara.
"Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas", disse o tucano.
O senador
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) cobrou a demissão do ministro Alfredo Nascimento junto com a equipe. "Será que ele não sabia? A ser verdade a diatribe contra o pessoal do ministério, a presidente tinha obrigação de demitir todos", disse.
O líder do DEM no Senado,
Demóstenes Torres (GO ), considerou que
Dilma deu uma resposta imediata. "Espero que ela continue nesta linha", disse. "O ministro também deve entrar na linha de tiro da presidente. Torcemos para que o surto moralizador vá adiante", completou.
SUCESSÃO DE PROBLEMAS
Após a 1ª queda no ministério, nova articulação
Queda
Com a saída de Antonio Palocci da Casa Civil, Dilma refez a articulação política com Ideli Salvatti à frente do Ministério das Relações Institucionais
Pressão
Para agradar ao PMDB e evitar novas crises, Dilma confirmou o deputado Mendes Ribeiro, do PMDB-RS, como líder do governo no Congresso
Tensão na base
Quando testa a nova articulação política, Dilma afasta 4 integrantes dos Transportes e abre novo foco de tensão na base aliada, desta vez com o PR
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Denúncia de corrupção ameaça ministro dos Transportes e abre nova crise na base - Instituto Humanitas Unisinos - IHU