26 Junho 2011
Uma pílula fingida pode reduzir as dores crônicas, a asma, a pressão alta, as doenças do coração? Sim. É o efeito placebo. Um milagre laico, justamente para não confundir muito as ideias em um momento de beatificações. A eficácia está em crer em um fármaco, não sabendo que, na realidade, não há fármaco. E, se os resultados existem, não se pode falar de sugestão, visto que, nos experimentos, nem os médicos sabem o que estão administrando.
A reportagem é de Mario Pappagallo, publicada no jornal Corriere della Sera, 24-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E se o segredo das curas inexplicáveis estivesse justamente no organismo humano? Em seu DNA, nos seus mecanismos celulares, na função ainda a ser descoberta das células-tronco, no poder ainda desconhecido do cérebro? Afinal, o milagre é o ser humano, os seus mecanismos biológicos. Criado à imagem e semelhança... O segredo das curas inexplicáveis também poderia estar aí.
À parte do efeito placebo, não é raro que o prognóstico infausto de uma doença incurável se revele, inexplicavelmente, errado nos modos e nos tempos. Nas histórias de importantes oncologistas, sente-se ainda o espanto dos seus pacientes que, depois de anos, ainda convivem com o seu tumor enquanto não deveriam ter vivido mais do que alguns meses. Casos de remissões espontâneas, inexplicáveis diante da ciência, por ainda não serem interpretáveis com base nos conhecimentos atuais.
Un miracolo nella mia vita [Um milagre na minha vida] (Ed. Sperling & Kupfer), de Margherita Enrico, examina exatamente os testemunhos de "condenados pela ciência, salvos pela fé: histórias de curas impossíveis". Uma homenagem à beatificação de João Paulo II.
Margherita Enrico, jornalista e escritora, conheceu o papa polonês juntamente com o Prêmio Nobel de Medicina Luc Montagnier, ateu. Uma coincidência? Talvez não. Montagnier comenta: "O livro de Enrico fala de curas extraordinárias não explicadas pela ciência. Curas de natureza misteriosa como os milagres que ocorrem em Lourdes, e dos quais eu sempre me interessei, até a estudá-los. Nesse sentido, considero que, quando um fenômeno é inexplicável, e é confirmada a sua boa-fé, não adianta negá-lo. Muitos cientistas cometem o erro de rejeitar aquilo que não compreendem, mas eu não compartilho essa atitude e cito muitas vezes as palavras do astrofísico Carl Sagan: a ausência de prova não é prova de ausência".
Muitos cientistas que não acreditam nas curas milagrosas costumam repetir muitas vezes uma frase de Felix Michaud: "Creria nos milagres só se me demonstrassem que uma perna amputada cresceu de novo. Mas isso não aconteceu e nunca vai acontecer". Mas a resposta a Michaud vem de Vittorio Messori, em seu livro Il miracolo. Messori relata nos mínimos detalhes o excepcional crescimento de um membro amputado de um jovem agricultor. "Recrescimento" ocorrido em um vilarejo de Aragão em 1640.
Em Calanda, relata Messori, na noite do dia 29 de março de 1640, ao jovem Miguel Juan Pellicer, reapareceu de repente a perna direita, amputada mais de dois anos antes no hospital de Saragoça, depois de um acidente. O fato ocorreu por intercessão de Nossa Senhora do Pilar, venerada em Saragoça. O prodígio da perna teria sido atestado depois de apenas três dias por um protocolo de cartório e depois por um processo eclesiástico, com dezenas de testemunhas oculares. Conhecidos, médicos, sacerdotes, todos confirmam que, sim, trata-se justamente de Miguel, que tinha antes uma perna cortada e agora a tinha novamente no lugar: um pouco contraída nos primeiros dias, mas depois igual à de antes. Até com as mesmas cicatrizes e um sinal vermelho circular debaixo do joelho, onde havia sido operada a "solda" milagrosa. O evento era conhecido em toda a Europa, e Pellicer se dirigiu até a uma audiência em Madri, pelo rei Filipe IV, que quis beijar a perna restituída. Depois, caiu o silêncio sobre o evento. Interrompido só por Messori.
Mas os milagres não são apanágio apenas do mundo católico. No livro de Enrico, são contados milagres que aconteceram com fiéis muçulmanos, ortodoxos, com não crentes. Ou assumidos como tal.
Placebo
E se fala do efeito placebo. Também nesse caso, parte dos médicos mostra ceticismo, duvida do diagnóstico inicial. No entanto, o "não fármaco" às vezes é quase tão eficaz quanto o "verdadeiro" remédio. E, para a maior confusão dos céticos, pode ocorrer um efeito placebo até em quem não acredita na terapia à qual está se submetendo.
Não só isso: nas experiências, quem toma o placebo muitas vezes também pode acusar colaterais desagradáveis (náuseas, tonturas, eczemas). Fala-se então de efeito "nocebo" e até de um "efeito de bruxa". Assim como quando pensamos que fomos atingidos por uma maldição, pelo "mau olhado" ou por um "trabalho": sentimo-nos muito mal, até chegar a consequências trágicas ditadas pela ansiedade e pelo medo.
É difícil não se espantar diante do que parece ser um mecanismo de autocuidado. Um botão de reset a ser usado no momento oportuno. A ser descoberto como ativar.
A propósito de águas milagrosas, de sugestões terapêuticas. No início do século XVII, um índio peruano, tomado por uma fortíssima febre de malária, buscava chegar à sua aldeia atravessando uma área inacessível dos Andes. As forças o estavam abandonando, a febre e a sede o atormentavam.
Ele estava convencido de que não conseguiria chegar, quando encontrou uma poça d`água. Atirou-se para beber, mas se deu conta de que, na água, havia um grande ramo da árvore quina-quina, considerada venenosa na época. Arriscou, já que não tinha nada a perder. A água era muito amarga, porque o ramo, apodrecendo, soltava uma substância amarga, mas não venenosa. Ou melhor, antimalárica: o quinino. Mas o índio não sabia que estava experimentando, por puro acaso, uma cura para a malária. Desmaiou, exausto pelo cansaço. Ao acordar, a febre havia desaparecido, e ele estava bem.
Na aldeia, relatou as mágicas virtudes daquela poça d`água. A notícia chegou aos jesuítas de Lima, que descobriram o quinino. E certamente não pensaram em um milagre...
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Efeito placebo e milagres: os mistérios da não ciência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU