Um padre do interior de Minas Gerais está em greve de fome desde o último dia 10 (sexta-feira), na tentativa de sensibilizar autoridades em relação ao despejo de 300 famílias de uma área na periferia de Itabira, a 107 quilômetros de Belo Horizonte. A área foi invadida há onze anos. O padre
José Geraldo de Melo, 49 anos, da paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, contou que não se alimenta desde a meia-noite do último dia 10.
A reportagem é de
Denise Motta e publicada pelo
IG, 14-06-2011.
Ele promete permanecer em jejum por tempo indeterminado, até que as autoridades resolvam a situação das famílias na periferia de Itabira. Elas moram na Comunidade Drummond, nome dado em homenagem ao poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade. A área possui 30 hectares, o equivalente a 30 campos de futebol.
“Na igreja não chamamos de greve de fome, mas de jejum permanente. É um jejum cristão, um jejum de solidariedade, um jejum em orações para sensibilizar as autoridades. Eu bebo água e recebo a comunhão. Estou bem de saúde, atendo à comunidade e não sinto fraqueza. Nem estou preocupado em perder peso. Estou preocupado com a omissão política”, explica o padre.
Em outras ocasiões, ele conta já ter ficado em jejum, como na Semana Santa, mas é a primeira vez que o padre passa cinco dias sem qualquer alimento.
A decisão de parar de se alimentar aconteceu depois que uma medida judicial impôs o despejo das famílias, em uma área considerada particular pela prefeitura e pela Justiça. O prazo para que as famílias deixem pacificamente a comunidade termina no dia 31 de junho. Caso o grupo permaneça, há possibilidade de uso da polícia para retirar as famílias do local.
Em 2005 e 2007, o bispo da Diocese de Barra, na Bahia, Dom
Luís Flávio Cappio, fez greve de fome em protesto contras as obras de transposição do rio São Francisco. Ele ficou aproximadamente um mês sem comer, passou muito mal e só encerrou o jejum após ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Invasão da prefeitura
Há vinte dias, cerca de 200 pessoas estão acampadas em frente à Prefeitura de Itabira, na tentativa de sensibilizar as autoridades. Um dos líderes do movimento,
Adilson Gualberto Campos, de 38 anos, conta que houve promessa de políticos no sentido de regularizar o terreno.
“Existem de 4 a 5 mil pessoas sem moradia decente em Itabira. O déficit habitacional é muito grande e a ocupação começou por orientação de políticos”, diz ele, que come às 18 horas e depois no dia seguinte, no horário do jantar, em um jejum mais brando que o do padre
José Geraldo.
O poder executivo alega ter apresentado propostas alternativas para que a área seja desocupada sem que as famílias fiquem desabrigadas. Entretanto, líderes da comunidade afirmam que as propostas não asseguram formalmente o direito à moradia. O prefeito da cidade,
João Izael (PR), foi procurado. Por meio de nota, informou que a área é propriedade particular e a desocupação foi determinada pela Justiça, em virtude de ação movida pelos donos do terreno.
Também disse não ser alheia aos problemas das famílias. “A Prefeitura continuará atuando, dentro dos limites da legalidade, para garantir o atendimento digno a todos os cidadãos. Mas não podemos tolerar atos de desordem, que prejudicam os trabalhos e colocam em risco os servidores e cidadãos”, conclui a nota.
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Padre faz greve de fome contra despejo de famílias em Minas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU