10 Junho 2011
"Fukushima representou uma grande surpresa, porque evidenciou um descompasso entre as previsões e os fatos. Foi uma lição, e é perigoso não aprender com as lições Sobretudo para um país como a Itália, que, com o Japão, tem muitos problemas em comum: não só a sismicidade, mas também os tsunamis produzidos por um terremoto, como a onda gigante que destruiu Messina, em 1908. É razoável fazer uma central atômica na Sicília?".
A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 10-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Carlo Rubbia, prêmio Nobel que, na Itália, inventou o projeto-piloto para a energia solar termodinâmica, observa o panorama energético a três meses do início de um acidente nuclear que ainda não se concluiu.
Eis a entrevista.
Depois de Fukushima, todo o mundo se interroga sobre o futuro da energia nuclear, e países como a Alemanha e a Suíça decidiram sair do clube do átomo. O governo italiano, ao contrário, quer regressar. Parece-lhe uma boa escolha?
Não é possível responder com um sim ou com um não. É preciso examinar os problemas partindo de uma questão fundamental: quanto dinheiro é necessário e quem paga. Diz-se que uma central nuclear custa 4-5 bilhões de euros. Mas isso sem calcular os encargos de um lado e de outro, ou seja, as despesas necessárias para o enriquecimento do combustível e para a criação de um depósito geológico para os resíduos radioativos como o que os norte-americanos buscaram fazer, sem conseguirem, mas gastando 7 bilhões de dólares, em Yucca Mountain.
Em suma, quanto custaria o plano italiano, que visa a chegar a 25% de eletricidade produzida a partir do átomo?
Para atingir um objetivo como esse – e ou se atinge esse objetivo ou é inútil começar, porque senão tem-se só os problemas, sem as vantagens –, serão necessárias cerca de 20 centrais. Portanto, podemos imaginar um custo direto que gira em torno de 100 bilhões de euros. A questão, como dizia, é quem põe esse dinheiro sobre a mesa.
Em todo o mundo, os capitais privados tendem a ficar longe da energia nuclear. O risco os assusta.
Exatamente. Nos países que apostaram na energia nuclear, essa escolha foi financiada, de uma forma ou de outra, pelo Estado, muitas vezes, porque o Estado estava empenhado na construção de bombas atômicas. Por isso, as centrais francesas custaram três vezes menos do que as alemães: boa parte dos investimentos estruturais estavam a cargo da force de frappe. Ora, se na Itália existem – e seria uma novidade – agentes privados interessados em investir nesse setor, bem, sigam em frente. Senão, é preciso dizer com honestidade que o dinheiro será tirado dos impostos.
A Alemanha decidiu fechar as centrais nucleares, porque considera mais conveniente investir nas energias renováveis. Compartilha essa opinião?
Falei longamente com as pessoas que justamente tomaram essa decisão. Foi um passo importante, porque o futuro está aí, mas é preciso ter em mente os tempos da operação: as fontes renováveis, para manifestarem plenamente o seu potencial, chegando a subtrair cotas importantes dos combustíveis fósseis, precisam ainda de 10-15 anos. Então, é preciso pensar em uma transição.
Por isso, a centro-direita italiana falar de energia nuclear.
Não digamos disparates. Uma central nuclear aprovada hoje estaria pronta em 10-15 anos, no final do período de transição. Precisamos de instalações com um baixo impacto ambiental e tempos de construção rápidos. Penso em um mix em que o aumento de eficiência desempenha um importante. Sol e vento estão crescendo, e há espaço para duas fontes que podem produzir logo a custos baixos.
Quais?
Sobretudo o gás, que chegou a 60% de eficiência e produz uma quantidade de dióxido de carbono duas vezes e meia mais baixa do que o carvão: o quilowatt custa pouco, e as centrais são construídas em três anos. E depois há a energia geotérmica, que, no mundo, já hoje, faz uma contribuição igual a cinco usinas nucleares. A Itália tem uma potencialidade extraordinária na região entre a Toscana, o Lácio e a Campania e a explora de forma muito parcial: pode-se fazer mais a preços muito convenientes. Só do potencial geotérmico dessa região, pode-se obter a energia fornecida pelos quatro centrais nucleares previstas como primeiro passo do plano nuclear. Rapidamente e sem riscos.
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"A energia nuclear custa muito caro. A saída é o gás e a energia geotérmica" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU