08 Junho 2011
Como reagirá a recém-empossada ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, diante de um possível impasse envolvendo adversários? Terá jogo de cintura para dialogar com diferentes setores da sociedade? Em busca de respostas para perguntas como essas, Zero Hora procurou personagens que acompanharam momentos-chave da história pessoal e da trajetória política da mais nova gerente do governo Dilma. Foram entrevistados educadores, colegas de bancada e antigos chefes, no Paraná e em Brasília, que ajudam a reconstituir episódios importantes da vida da ministra e fornecem pistas de como ela reagiu e se posicionou frente a seus principais desafios.
A reportagem é de Fábio Prikladnicki e Juliana Bublitz e publicada pelo jornal Zero Hora, 09-06-2011.
Vocação para freira
Até completar 14 anos, quando era aluna da Escola Nossa Senhora da Esperança, em Curitiba, Gleisi tinha um pensamento fixo: queria seguir a vocação de suas professoras, as irmãs franciscanas bernardinas. Determinada, chamou o pai para uma conversa:
– Quero ser freira, pai. Vou para o convento.
O problema é que o destino escolhido era Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. E a resposta, em função disso, foi não. Anos depois, em 2008, Gleisi voltou à antiga escola para relembrar os velhos tempos – e turbinar a campanha eleitoral.
– Ela veio aqui gravar um programa para a campanha. Disse que tinha muito orgulho do passado. Agora, nós é que estamos orgulhosos – diz a diretora, Santina Brandalize, 49 anos.
O professor gaúcho
Aos 15 anos, Gleisi cursava o Ensino Médio no Colégio Medianeira, dos jesuítas, em Curitiba, quando começou a mostrar talento para a política. Natural de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, o então vice-diretor, Rudi Rabuske, acompanhou tudo.
– Logo notamos que a Gleisi tinha liderança – lembra o gaúcho, hoje com 64 anos.
Certo dia, decidiu reativar o grêmio estudantil. Organizou eleições, montou chapa e abriu votação para a escolha de um novo nome para o grupo. Agitou a escola. Tempos depois, foi a um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em São Paulo.
– Os pais não deixaram, mas ela disse que ia dormir na casa de uma amiga e pegou o ônibus. Sempre foi determinada – conta a mulher de Rudi, Sheila Rabuske, então orientadora educacional da escola.
"A Dilma da Dilma"
A bagagem adquirida na militância estudantil foi a marca do início de Gleisi na carreira política propriamente dita. Entre o final dos anos 1980 e meados da década seguinte, trabalhou como assessora jurídica de Jorge Samek, então vereador de Curitiba, eleito em 1988 – hoje diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, onde Gleisi viria a ser diretora financeira.
– Ela tinha um profundo senso de justiça social, característica que ainda conserva. Onde havia luta pelos pobres, briga por creches, pelo direito à moradia, questões das mulheres e dos negros, você encontrava a Gleisi por lá – lembra Samek.
A nova chefe da Casa Civil "sempre foi uma líder":
– Se a presidente quer uma "Dilma da Dilma", ela terá.
Secretária simpática
Em 1999, convidada pelo então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, Gleisi teve a primeira grande experiência como gestora. Tornou-se secretária de Administração. O governo amargava dívidas e devia quatro folhas de pagamento ao funcionalismo.
– A Gleisi chegou e botou ordem. Mas fez isso chamando todo mundo para o diálogo. A primeira coisa foi a valorização dos servidores. Ela criou uma política de cargos e salários e, a partir dali, a coisa andou – afirma Zeca do PT.
Nas reuniões com representantes de diferentes setores, a secretária era firme nas negociações, mas usava a simpatia para convencer os interlocutores. Foi ela, também, a responsável pela criação da Caixa de Assistência dos Servidores Públicos.
Surge a gerentona
Pouco antes de ser chamada para integrar a equipe de transição de Lula, em 2002, Gleisi foi secretária de gestão da prefeitura de Londrina (PR), cargo assumido em 2001. Destacou-se pela implementação do pregão eletrônico, que agiliza e barateia processos de licitação. No curto período em que esteve na pasta, ficou conhecida pela firmeza na tomada de decisões.
– A fama dela é de muita austeridade. É uma gerentona. Ela não gosta de atrasos, mas nunca a vi destemperada – afirma Sidnei Santos Silva, presidente do PT em Londrina.
Foi presidente do diretório estadual do PT no Paraná de 2007 a 2010.
– É uma grande gestora pública que tem capacidade de articulação política – diz o deputado estadual Enio Verri.
Gleisi vira gestora
Gleisi assumiu a direção financeira da Itaipu Binacional, em 2003, como uma das responsáveis pela tarefa de ampliar a missão da empresa, assumindo compromissos com questões sociais. Criou um grupo de trabalho, na área da saúde, voltado para moradores da fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
Gerenciando um orçamento acima de US$ 3 bilhões, foi uma diretora financeira com facilidade para delegar, preocupada em fornecer condições de trabalho, mas igualmente diligente para cobrar resultados.
– É uma pessoa metódica e comprometida. A qualidade na gestão, a profissionalização e a valorização da equipe são suas principais marcas – observa Joel de Lima, que foi chefe de gabinete de Gleisi na empresa.
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