08 Junho 2011
O candidato nacionalista recebeu a visita de sua rival Fujimori, que venceu com 51,5% dos votos contra 48,5%. Humala anunciou que convocará técnicos e intelectuais independentes para formar um governo de unidade.
A reportagem é de Carlos Noriega e está publicada no jornal argentino Página/12, 07-06-2011. A tradução é do Cepat.
Ollanta Humala passou seu primeiro dia como presidente eleito no hotel Los Delfines, no bairro de San Isidro, com vista ao campo de golfe, convertido em seu centro de operações desde o dia das eleições. Não deu declarações. À tarde, recebeu a visita de Keiko Fujimori, que pouco antes havia, finalmente, reconhecido sua derrota. Nesse momento, com mais de 90% dos votos apurados pela Oficina Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), já estava ratificava a vitória de Humala anunciada no domingo pelos resultados de boca de urna e a contagem rápida. Os números dão 51,5% a Humala e 48,5% a Keiko, uma diferença de cerca de 500 mil votos. Humala e Keiko posaram para as câmeras, deram-se a mão, sorriram, mas nenhum dos dois fez declarações. Durante o dia, o presidente eleito recebeu os cumprimentos de vários presidentes latino-americanos, entre eles a de Cristina Kirchner.
Antes de saudar o candidato vencedor, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori leu, em sua casa, uma breve declaração, mas não aceitou responder a perguntas da imprensa. "Reconheço seu triunfo, saúdo sua vitória e lhe desejo sorte", leu Keiko Fujimori. Foi a admissão de sua derrota que se esperava desde a noite de domingo, mas que só chegou na tarde da segunda-feira. Falou em estender pontes, de diálogo e anunciou que o fujimorismo será oposição e defenderá a continuidade do modelo econômico neoliberal. A derrotada candidata apareceu acompanhada dos deputados eleitos de seu partido. Havia caras amarradas, decepção. O presidente Alan García, que na campanha não havia ocultado sua simpatia por Keiko Fujimori, falou brevemente sobre a vitória de Humala. "Desejo todo o sucesso possível ao presidente porque será o sucesso do Peru", disse.
Em sua primeira declaração como presidente eleito na noite de domingo, Humala anunciou "um governo de concertação nacional". À meia-noite do domingo, o presidente eleito chegou à praça central Dos de Mayo para comemorar a vitória com a multidão que enchia a praça. Foi uma noite de festa, de entusiasmo, de esperança, de vitória. "Nesta noite renovo meu compromisso com o povo peruano de crescimento econômico com inclusão social", começou Humala, e a abarrotada praça explodiu em aplausos e vivas. Anunciou que convocaria técnicos e intelectuais independentes para compor um governo de unidade nacional. Colocou o acento em anunciar uma "luta sem trégua" contra a corrupção, levar o Estado a todo o país, fortalecer o mercado interno, promover a agricultura e a indústria nacional, cortar a exportação de gás para destiná-lo ao consumo interno. Ofereceu melhorar a educação e a saúde que, disse, "agora são um privilégio e não um direito de todos". Dedicou alguns segundos à política exterior, um tema ausente na campanha, para dizer que terá uma política de "unidade latino-americana". A festa popular se prolongou até a madrugada em várias cidades do país.
Passada a euforia da vitória e da comemoração, começaram as negociações para formar o governo. A segunda-feira começou com uma forte queda da Bolsa de Valores. O establisment econômico culpou a vitória de Humala pela queda e durante todo o dia se sucederam vozes exigindo que nomeie o mais rápido possível um chefe de gabinete e um ministro da Economia que "tranquilize os mercados". Nas fileiras humalistas se pediu calma aos agentes econômicos. Kurt Burneo, assessor econômico de Humala e um dos nomes cogitados para ser o ministro da Economia, disse que "não há nenhuma razão para temer". Anunciou uma política macroeconômica prudente que cuide do equilíbrio fiscal e disse que serão promovidos os investimentos privados.
O vice-presidente de Humala, Omar Chehade, anunciou que entre esta e a próxima semana serão conhecidos os nomes do gabinete de governo que assumirá no dia 28 de julho para um período de cinco anos. Para a pasta da Economia cogita-se, além de Kurt Burneo, vice-ministro de Economia no governo de centro-direita de Alejandro Toledo e agora colaborador de Humala, os nomes de Oscar Dancourt, economista que vem da esquerda e que foi presidente do Banco Central de Reserva na presidência de Toledo, e Félix Jiménez, ex-assessor econômico de Humala e chefe de seu plano de governo. Dos três, Jiménez é o que tem as maiores resistências entre o empresariado e o setor financeiro por considerá-lo a cabeça das posturas mais críticas ao modelo neoliberal dentro do humalismo. Para a chefia do gabinete fala-se no nome de Beatriz Merino, até a pouco tempo atrás defensora do Povo e com uma boa aceitação entre o empresariado e diferentes setores políticos. Para Relações Exteriores, uma fonte vinculada a Humala comentou que possíveis nomes são: Diego García Sayán, chanceler de Toledo e atual presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Manuel Rodríguez Cuadros, também chanceler com Toledo; Oswaldo de Rivero, diplomata que foi representante do Peru na ONU; e Alberto Adrianzén, responsável pelo capítulo internacional do plano de governo de Humala. Adiantou-se que para os ministérios da Defesa e do Interior serão nomeados civis.
Humala venceu em 17 regiões do país e Keiko em sete, inclusive em Lima. O nacionalista conseguiu sua maior votação na região andina de Puno, fronteira com a Bolívia, onde ultrapassou os 77%. Humala assumirá a presidência sem maioria parlamentar. Tem 47 dos 130 representantes no Congresso. Construir maioria será seu primeiro desafio. Sua aproximação com Perú Posible, o partido de Toledo, que tem 21 representantes, lhe daria a maioria de que necessita.
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