27 Mai 2011
Uma frase que consta em um dos vídeos do kit anti-homofobia do Ministério da Educação (MEC) foi uma das razões que levou a presidente Dilma Rousseff a pedir, anteontem, a suspensão do material, que será reanalisado e pode ser lançado até o fim do ano. Segundo o ministro Fernando Haddad, Dilma considerou um trecho inadequado.
"Por exemplo, na opinião dela, está mal colocada aquela frase sobre aumentar sua probabilidade de não ficar sozinho", disse o ministro. Ele esteve ontem em São Paulo para a inauguração de um câmpus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A reportagem é de Mariana Mandelli e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 28-05-2011.
O vídeo em questão, denominado Probabilidade, trata do tema bissexualidade e tem as seguintes declarações: "Gostando dos dois (garotos e garotas), a probabilidade de encontrar alguém por quem sentisse atração era quase 50% maior" e "Tinha duas vezes mais chance de encontrar alguém".
Haddad disse concordar com a posição da presidente. "Isso não tem a ver com probabilidade. Ela (Dilma) disse que (a frase) é inadequada porque sugere que é uma coisa boa e nós não estamos entrando no mérito disso", disse. "Estamos dizendo que as pessoas têm direito e não podem ser discriminadas."
De acordo com Haddad, Dilma viu mais de um vídeo. "Ela descreveu um que não ia ser utilizado, aquele da mochila, e viu outro." Ele negou que a posição da presidente tenha sido baseada em vídeos que não serão utilizados ou que tenha a ver com a atual crise do governo, envolvendo denúncias contra o ministro Antonio Palocci. "Não houve recuo dela porque não havia movimento anterior. Ela tomou conhecimento da polêmica, viu uma parte do material, não concordou com algumas frases e soube que o comitê de publicações ainda nem havia avaliado", disse.
Por essa razão, a presidente pediu que a Secretaria de Comunicação da Presidente da República (Secom) também analise materiais que versem sobre valores e costumes sociais.
O kit "Escola sem Homofobia", que reúne três vídeos e um guia para professores, é voltado para 6 mil escolas públicas em que foram denunciados casos de homofobia. O conteúdo, voltado para o ensino médio, foi discutido entre o MEC e organizações não governamentais e havia sido aprovado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad).
Agora, o kit será reanalisado. O comitê de publicações do MEC deve nomear, ainda nesta semana, uma comissão que vai se debruçar sobre o material. Após essa fase, o kit volta para a Secad e será rediscutido com as ONGs, com as recomendações feitas. O grupo deve refazer os itens e reapresentá-los ao comitê, que, após aprová-los, enviará tudo à Secom.
O Estado apurou que o MEC vai defender a quantidade de três vídeos no kit e também que a cartilha não seja impressa, mas publicada na internet.
O secretário executivo do comitê, Nunzio Briguglio Filho, diz que pretende concluir o processo ainda neste ano. "Essa é uma questão urgente que precisa ser enfrentada", disse. "A violência homofóbica nas escolas públicas tem preocupado setores do MEC."
De acordo com Haddad, não haverá gasto extra - o convênio com ONGs custou R$ 1,8 milhão. "Não foi feito investimento na impressão e distribuição do material, mas na produção dos vídeos", explicou. "Quando há pedido para que seja refeito parcial ou totalmente, isso ocorre dentro do próprio convênio."
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Frase levou à suspensão do kit anti-homofobia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU