26 Mai 2011
Pe. Roy Bourgeois durante sua fala na assembleia maryknoll |
O padre Roy Bourgeois, que o Vaticano diz ter se excomungado automaticamente ao defender a ordenação sacerdotal de mulheres e que enfrenta agora a dispensa de sua congregação religiosa, conversou com seus colegas padres e irmãos Maryknoll durante uma reunião improvisada na assembleia regional da ordem nos EUA nesta terça-feira.
A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada no sítio National Catholic Reporter, com informações do blog Knollnews, 25-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele não tinha muita novidade a dizer, mas os comentários de outros maryknolls falam por si mesmos. O evento, que contou com a presença de 38 membros da comunidade, foi noticiado pelo padre Joe Veneroso, um jornalista aposentado, no blog maryknoll Knollnews.
Depoimento
Pe. Bourgeois começou falando sobre como ele se envolveu na questão da ordenação de mulheres na Igreja Católica. Ele associou isso ao seu próprio processo de discernimento da vocação sacerdotal. Em seguida, falou sobre o seu trabalho pelo fechamento da Escola das Américas - SOA em Fort Benning, Georgia. Nos últimos dez anos, ao percorrer o país para falar sobre as injustiças na América Central, ele se tornou mais consciente da injustiça dentro da Igreja, especialmente das fiéis católicas mulheres que se sentem chamadas ao sacerdócio, mas cuja vocação lhes é negada.
Até os anos 1960, a segregação racial era uma tradição aceita nos EUA, especialmente no Sul, até que foi justamente desafiada e superada. Da mesma forma, Roy sente que a exclusão das mulheres do sacerdócio católico é uma tradição inaceitável e injusta. "Quem somos nós (homens) para dizer que o nosso chamado é autêntico e válido, mas o de vocês (mulheres) não é?", questionou. Ele sentiu em seu coração e consciência que não podia mais ficar calado sobre essa questão.
Então, veio a carta dos líderes da ordem Maryknoll pedindo-lhe que se retratasse ou enfrentaria a dispensa da congregação. Essa carta foi mais devastadora, afirmou, do que a ameaça de excomunhão. Ele manifestou tristeza porque agora "eu estou com um grande problema".
Ao concluir, disse estar encontrando um grande apoio em todo o país para a ordenação de mulheres e que saber que não se pode nem falar sobre isso é altamente ofensivo. Ele disse esperar que as pessoas deem um passo à frente para participar desse importante debate. Para Roy, essa é uma questão de justiça e de consciência.
Às perguntas e comentários dos presentes, Roy respondeu que muitos, muitos católicos estão abandonando a Igreja com raiva, especialmente por causa da sua discriminação contra as mulheres, gays e lésbicas. Ele disse que o papa e alguns bispos estão tentando desfazer o progresso do Vaticano II.
Roy também disse que sua consciência o impele a continuar se pronunciando e fazendo perguntas básicas, assim como as pessoas fizeram durante a guerra do Vietnã. O debate ou a discussão não vão parar, afirmou Roy, assim como a oposição à abolição da escravidão e ao sufrágio feminino não puderam acabar com esses movimentos.
O contraponto
Alguns padres que falaram admitiram concordar com Bourgeois sobre a injustiça de que a ordenação é negada às mulheres na Igreja Católica – o que não surpreendente, talvez, vindo de uma ordem centrada na justiça como a Maryknoll. Ainda assim, fiquei um pouco surpreso ao ver padres dispostos a se pronunciar sobre essa questão, especialmente considerando o que está acontecendo com um dos seus próprios membros.
Mas muitos outros pareciam preocupados sobre como as ações de Bourgeois afetam a ordem Maryknoll. Um deles usou a analogia de um homem que decide por si só a se mudar para outro país e espera que sua família vá com ele, sem consulta. O ex-superior-geral, padre John Sivalon, observou que houve mais consultas com a administração anterior. E questionou: "Como podemos continuar vivendo em harmonia como irmãos e irmãs em Maryknoll?". Outros, porém, se perguntavam por que uma discussão mais ampla e aberta sobre essa questão não poderia acontecer dentro da ordem.
Na opinião de Veneroso, Bourgeois não respondeu totalmente às perguntas e às preocupações sobre como suas ações afetam a comunidade mais ampla dos maryknolls. Ao contrário, ele continuou enfatizando que ele deve seguir sua consciência. "Nós [maryknolls] estamos no lado errado da história sobre esta questão", disse ele. "Se não mudarmos, vamos morrer".
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Bourgeois se encontra com seus colegas maryknolls - Instituto Humanitas Unisinos - IHU