17 Mai 2011
Para quem acha que a devastação ambiental e o trabalho escravo empregados nas fazendas ilegais de gado da Amazônia são problemas que só podem ser solucionados pelo poder público na região, a campanha Carne Legal mostrou que cidadãos de todo o país podem contribuir no combate a esses crimes ao optar por produtos feitos com matéria-prima de origem legal. Além da nossa alimentação e de sapatos, cintos, bolsas e outros itens, em um total de 49 segmentos industriais que dependem da pecuária para fabricar seus produtos, a carne legal pode ser utilizada até na alimentação dos animais de estimação.
A reportagem é do sítio do Ministério Público Federal - MPF, 17-05-2011.
Prova disso é a empresa Pet Delícia, localizada em Copacabana, Rio de Janeiro. Desde sua inauguração, em 2010, a empresa produz alimentos naturais cozidos para cães utilizando carne de origem comprovada. "Consultamos a lista disponível no site Carne Legal e vimos quais frigoríficos aceitavam as condições", explica Roberta Câmara, proprietária da Pet Delícia.
Segundo Roberta, muitos clientes conheceram a campanha Carne Legal na loja da Pet Delícia, e aprovaram. "Muitos adoram. Temos os fôlders da campanha na nossa loja e todos os clientes se interessam em saber do que se trata, se nós aderimos", relata.
Greenbest
A campanha Carne Legal, ação de comunicação do Ministério Público Federal (MPF) pela sustentabilidade na pecuária, é uma das finalistas do prêmio GreenBest, o primeiro concurso nacional para selecionar as empresas, produtos e projetos que mais contribuem para a sustentabilidade no país. A Carne Legal está entre as três iniciativas eleitas pelo júri acadêmico na categoria campanhas publicitárias. O resultado final será divulgado nesta terça-feira, 17 de maio.
Na votação do júri oficial, os concorrentes são avaliados nos quesitos iniciativa, inovação, sustentabilidade do negócio e/ou produto, impacto socioambiental e contribuição para o desenvolvimento da consciência e do mercado sustentável. Além da Carne Legal, entre as top três campanhas eleitas pelo júri estão as campanhas A Hora do Planeta, da WWF, e Xixi no Banho, da SOS Mata Atlântica.
A campanha
Lançada em junho de 2010, a campanha convida os consumidores a valorizar produtos de origem legal, ou seja, aqueles procedentes de propriedades rurais onde não ocorram desmatamento e trabalho escravo, entre outros crimes e irregularidades. O convite foi feito por meio de peças publicitárias para rádio e TV, cartazes, fôlderes e adesivos. A veiculação dos vídeos e dos spots foi inteiramente gratuita, apoiada por veículos de comunicação atentos à importância do tema.
Também foi lançado um site com informações em detalhes sobre a questão e um documentário em que são entrevistados produtores preocupados com a questão da sustentabilidade e que mudaram suas práticas em prol do meio ambiente e da responsabilidade social.
A iniciativa do MPF buscou inserir a preocupação no debate público. E a meta vem sendo atingida: após o lançamento da campanha, reportagens em jornais, Tvs, rádios e sites e artigos publicados em blogs discutiram como aliar os interesses econômicos de produtores rurais, frigoríficos, empresários dos setores calçadista e do varejo, por exemplo, aos direitos dos cidadão a informações sobre os produtos comercializados, à preservação ambiental e à garantia de que as mercadorias que ele leva para casa não foram produzidas a partir de violações de direitos de outras pessoas.
Pelo site da campanha, professores e outros profissionais puderam solicitar cópias do documentário, dar sua opinião e ajudar a divulgar as informações, inclusive por meio da exibição do documentário em salas de aula e eventos em empresas e instituições públicas.
Cadastro ambiental ampliado 58 vezes
Antes da atuação do MPF, no Pará haviam apenas cerca de 900 propriedades rurais inscritas no cadastro ambiental rural do Estado. Com os acordos promovidos pela instituição e com a campanha Carne Legal, esse total chegou, em abril de 2011, a 52,1 mil propriedades registradas. Dados como esses serviram como base para que outros órgãos públicos e a imprensa apontassem a atuação do MPF como um dos fatores fundamentais para que a Amazônia Legal tivesse, em 2010, a menor área desmatada já registrada na história do país, desde que o monitoramento passou a ser feito via satélite, em 1988.
Os lançamento de iniciativas semelhantes em seguida ao lançamento da Carne Legal também provou a importância da discussão do tema. Frigoríficos que assinaram acordos com o MPF passaram a divulgar seus produtos dizendo que "nossa carne é legal". Os três maiores frigoríficos do Brasil deixaram de comprar bovinos de mais de 200 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou próximas a áreas recém-desmatadas no bioma Amazônia. A imprensa ressaltou que a medida foi motivada pela pressão da sociedade e campanha do MPF.
O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) anunciou uma consulta pública para elaboração do Regulamento de Critérios de Sustentabilidade para Processos Produtivos em Geral. O objetivo da iniciativa, pioneira, é estimular a indústria e o agronegócio a conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e o bem-estar social. O documento será dirigido a fabricantes e produtores rurais interessados em saber quais são os princípios, critérios e os indicadores que a indústria brasileira deve seguir para identificar se o processo produtivo é sustentável ou não.
Grandes empresas do comércio varejista anunciaram o lançamento de programas de rastreabilidade que permitem aos clientes identificar a procedência dos produtos. Na Feicorte, a maior feira indoor de pecuária do mundo, pela primeira vez foi criado um espaço de debates em torno da pecuária sustentável.
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Carne Legal chega até aos alimentos para cães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU