01 Mai 2011
"Ao definir nas próximas semanas o novo arcebispo que presidirá os destinos da arquidiocese de Brasília, Roma precisará levar em conta o panorama auspicioso que marca no presente momento a capital de todos os brasileiros, escolhendo para esta arquidiocese um pastor capaz de administrar com sabedoria a herança do meio século que passou e com visão aberta para conduzir esta Igreja Particular ao novo porvir que a espera nas próximas décadas", propõe Raimundo Caramuru Barros, em artigo que tem como subtítulo "Administrando meio século de passado e transpondo o limiar de um novo porvir".
Raimundo Caramuru Barros trabalhou nos quadros da Ação Católica Brasileira e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; atuou na coordenação do Movimento Internacional da Juventude Agrícola e Rural Católica, quando acompanhou as atividades deste Movimento na Europa, África, América Latina e Canadá; cursou pós-graduação em economia nos Estados Unidos; publicou livros e artigos em periódicos especializados sobre assuntos relativos à atuação da Igreja Católica.
Eis o artigo.
Criada em 1960, concomitantemente com a instalação da nova capital do país no Planalto Central brasileiro, a arquidiocese de Brasília acaba de celebrar 51 anos de fundação. Durante este meio século para ela acorreram sacerdotes das mais diversas regiões do país e, sobretudo, numerosas ordens e congregações religiosas, tanto masculinas como femininas que, de um lado, desejavam assegurar uma referência presencial na nova Capital da República e, de outro lado, eram bem acolhidas pelos dois primeiros arcebispos de Brasília à medida que os ajudavam a prover as necessidades pastorais das populações católicas que passaram a residir permanente ou sazonalmente neste novo centro das decisões políticas do país.
No entanto, esses dois arcebispos tiveram de assumir ao mesmo tempo o ônus de administrar os conflitos de interesse gerados pela heterogeneidade desse tipo de colaboradores, ao mesmo tempo em que o Distrito Federal e seu Entorno começavam a enfrentar a proliferação desenfreada do sincretismo religioso, sobretudo nas camadas populacionais de menor poder aquisitivo.
Ao longo desses anos (1960-2011), a população da arquidiocese de Brasília foi trabalhada em todos os seus níveis pela prática deslavada dos mais diferentes tipos de fisiologismo, envolvendo distribuição de lotes, benesses concedidas a empreiteiras e companhias imobiliárias, sem falar da inexistência de uma classe política capaz de representar as aspirações legítimas da população e de promover o exercício da cidadania e o aperfeiçoamento do processo democrático, além de assegurar os valores de respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana.
No limiar do terceiro milênio, Brasília vê descortinar-se para os próximos 50 anos as perspectivas de um novo porvir, à medida que ela se torna de fato o centro nacional das decisões políticas de integração nacional, de integração sul-americana e de uma participação mais amadurecida do Brasil no cenário internacional, não mais como caudatário dos blocos geopolíticos hegemônicos do século XX, mas como parceiro de pleno direito nos novos blocos geopolíticos que emergem no alvorecer do século XXI.
Ao definir nas próximas semanas o novo arcebispo que presidirá os destinos desta arquidiocese, Roma precisará levar em conta este panorama auspicioso que marca no presente momento a capital de todos os brasileiros, escolhendo para esta arquidiocese um pastor capaz de administrar com sabedoria a herança do meio século que passou e com visão aberta para conduzir esta Igreja Particular ao novo porvir que a espera nas próximas décadas.
Dentro de todo esse contexto, torna-se evidente ser de fundamental importância que esta escolha selecione o candidato dotado dos seguintes carismas:
• Experiência pastoral comprovada em uma metrópole ou em uma cidade de grande porte.
• Habilidade no diálogo com autoridades políticas, desde o nível de base até o nível continental.
• Sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem sua sede na Capital da República.
• Fomentador de unidade e comunhão entre os presbíteros, diáconos e leigos que atuam nesta Igreja particular.
• Espírito de articulação colegiada em condições de atender todos os segmentos da sociedade brasiliense: os políticos em todos os seus níveis e escalões; os membros do Corpo Diplomático credenciado; os Altos Comandos das Forças Armadas; as classes médias que dão suporte à máquina governamental; as populações menos favorecidas espalhadas pelas cidades satélites surgidas na periferia do Distrito Federal ao longo das últimas décadas.
• Traquejo na colaboração com o Conselho Episcopal Latino- Americano – CELAM, dado o papel de destaque do Brasil no contexto atual deste continente.
O candidato pode não dispor de todas essas qualificações, mas precisa, ao menos, ser uma personalidade humana serena e equilibrada; ser capaz de atuar de maneira descentralizadora e colegiada; atuar com sabedoria para restaurar eventuais falhas ocorridas nos 51 anos que passaram e abraçar as novas perspectivas que se abrem para atuação da Igreja nas próximas décadas, fundamentando esse empreendimento com sólida base teológico-pastoral e alimentando-o com uma espiritualidade coerente com as bem-aventuranças evangélicas.
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Um novo arcebispo para Brasília - Instituto Humanitas Unisinos - IHU