28 Abril 2011
Lítio, telúrio, gálio, neodímio e selênio são os nomes estranhos de um conjunto de elementos químicos que a maioria dos mortais conhece apenas por ter decorado a Tabela Periódica nas aulas de Química. São utilizados em semicondutores ou baterias de última geração, encontrados em baixa concentração na natureza e cruciais para o desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis. O mundo, contudo, recicla menos de 1% deste tesouro, a despeito de seu alto valor e utilização em bens de alta tecnologia, de notebooks a trens-bala. Este é um exemplo dos caminhos inovadores, inteligentes e desafiadores que a conferência das Nações Unidas que o Rio de Janeiro sediará em junho de 2012 precisa trilhar. A Rio+20, como é chamado o megaevento, pode ser um marco na economia verde que o mundo começa a perseguir.
A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 29-04-2011.
A dica veio de Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que está no Brasil esta semana empenhado em um périplo de visitas a parlamentares, políticos, empresários e ambientalistas para ver se a Rio+20 deslancha.
"As baixas taxas de reciclagem destes metais contrastam com sua importância fundamental no desenvolvimento de indústrias limpas e de alta tecnologia", disse Steiner ontem, no Rio, em um encontro com representantes do governo e da sociedade civil, na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FDBS).
"Isto serve como um espelho para o tipo de políticas de curto prazo e predatórias dos recursos naturais que permeiam a atual economia global". Steiner completou: "Se formos 9 bilhões de pessoas em 2050 o mundo terá que aprender a ser muito mais eficiente e gastar menos os recursos naturais."
Economia verde é um dos grandes temas da Rio+20, a edição duas décadas depois da Rio 92 ou Eco 92, a grande conferência de meio ambiente e desenvolvimento que o Rio de Janeiro sediou em junho de 1992. Na ocasião, foram duas semanas de encontros e eventos, 108 líderes mundiais nos dias de cúpula e dois acordos fundamentais - a Convenção do Clima e a Convenção da Biodiversidade.
A Rio+20 durará três dias (de 4 a 6 de junho de 2012) e não terá caráter deliberativo, não promete este tipo de resultado final e tem que perseguir um objetivo forte para atrair líderes mundiais e ser considerada um sucesso. Ou corre o risco de reeditar a frustração com a cúpula de Copenhague, em 2009.
"Esta é uma conferência que não está presa ao passado. Ela olha para o futuro", disse Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, no mesmo evento. É mais do que uma frase de efeito. "O legado da Rio 92 não pode se perder", continuou. Izabella sinalizava que está mais que na hora de desenvolvimento sustentável decolar, mas também que o evento não será uma cobrança do que aconteceu, de concreto, nestes 20 anos, neste campo - uma agenda que os países desenvolvidos não se dispuseram a aceitar. "A Rio+20 não pode ser vista como uma conferência de segunda linha", prosseguiu a ministra.
O governo espera que entre 40 a 50 mil pessoas venham ao evento. "Esta não será uma conferência ambiental", disse o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, Subsecretário geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores. "Trata-se de uma conferência de desenvolvimento."
A agenda a reunião não está fechada. Uma das propostas é que na Rio+20 seja criada uma agência de Meio Ambiente da ONU, algo mais forte que apenas programas como o Pnuma. A ideia é defendida por países europeus, mas é vista com desconfiança pelos EUA (refratários a novos mecanismos e novos gastos internacionais) e por países em desenvolvimento, que temem mais ingerência em sua soberania.
Alguns desses países também desconfiam até conceito de economia verde, temendo que disfarce barreiras protecionistas dos países ricos. "Economia verde pode ser uma oportunidade para todos os países. O Brasil trabalha com esta perspectiva", diz Fernando Lyrio, chefe de assessoria internacional do Ministério do Meio Ambiente.
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Rio+20 quer ser marco para economia verde - Instituto Humanitas Unisinos - IHU