16 Abril 2011
A autenticidade é a primeira qualidade da pessoa. Autêntico equivale a verdadeiro.
A reflexão é de Arturo Paoli, padre e missionário italiano da Congregação dos Pequenos Irmãos de Jesus, em entrevista a Silvia Pettiti, publicada no sítio da Fraternità di Romena, 11-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A jornalista publicou recentemente uma bela biografia de Arturo Paoli contando os seus 98 anos de vida gastos pelos outros, especialmente pelos pobres das favelas da América do Sul. O livro intitula-se Ne valeva la pena (Ed. Paoline).
Eis a entrevista.
O que significa ser autêntico?
A autenticidade é a primeira qualidade da pessoa. Autêntico equivale a verdadeiro. Desde a infância, a realidade nos inclina a adaptações: a mãe é uma mulher frágil e, portanto, quando quero obter alguma coisa dela, eu sei como fazer para que o "não" torne-se "sim". O pai é um homem que se enraivece e chega a me bater. Assim, aprendo a lhe esconder o que eu penso, digo e faço. Crescendo, dou-me conta de que essa é a lei do viver social. Aproximo-me da autenticidade quando um grande ideal dirige as minhas energias interiores e as concentra em um ponto. Não conheço uma definição da pessoa autêntica melhor do que a que foi dada por Paulo na carta aos Efésios (4, 15): fazer a verdade no amor.
Como se educa para a autenticidade?
Educa-se por meio da fidelidade. Eu acredito que a autenticidade é um valor religioso no sentido de que devemos ter a primeira coerência com Deus, que não se pode enganar. Isso não quer dizer não cometer pecados, porque devemos sempre reconhecer a nossa fragilidade e a nossa fraqueza, mas quando não há coerência entre o que somos e o que aparece de nós é a prova de que não amamos seriamente as pessoas que nos circundam. É o fracasso da vida, e, infelizmente, isso acontece frequentemente.
Mas existe a possibilidade de mudar?
Penso que a Igreja afasta as pessoas pela sua excessiva intransigência com relação a certos princípios que a pessoa não está em condições de seguir. Não significa deixar que as coisas continuem como estão, mas sim aceitar a fraqueza da pessoa humana, ao invés de recusá-la por meio da afirmação intransigente dos princípios cristãos. O nosso irmão Giorgio Gonella, no seu livro sobre o deserto, escreveu um belíssimo capítulo sobre a misericórdia de Deus: Deus não diz "está tudo bem", mas a sua atitude é manifestada perfeitamente no episódio de Jesus na casa do fariseu, quando entra a mulher pecadora. O fariseu se escandaliza e lhe diz: "Se tu conhecesses essa mulher...". Jesus, com efeito, a conhece, mas conhece também a sua dor, o seu sofrimento, o seu pranto que tem uma força de conversão e de transformação da sua vida que ela mesma não esperava. Certamente, há ambientes em que facilmente somos arrastados pelo negativo, mas sempre há a possibilidade do retorno que apaga o passado, uma possibilidade de mudança.
A propósito dos lugares onde buscar a própria autenticidade: o senhor esteve várias vezes na Fraternidade de Romena. Que impressão o senhor teve?
Uma ótima impressão, porque a força de agregação que o Pe. Gigi [Luigi Verdi] tem é singular, e ela se deve à sua amplitude de visões, à sua liberdade de acolhida pela qual a pessoa se sente em um lugar que não a obriga a assumir formas inautênticas. Como ele, sempre desejei que as pessoas venham, vejam que não sejam obrigadas a assumir atitudes diferentes das da sua vida cotidiana. Entre as muitas iniciativas que propõe, há uma muito bonita, que conheci há pouco, que é consolar as pessoas que tiveram lutos graves, perdas dilacerantes, e que recebem realmente muito conforto.
Qual contribuição uma realidade como Romena pode oferecer à Igreja e à sociedade?
A Igreja pode receber uma grande riqueza: o renascimento da fé por parte de muitas pessoas que viveram por muitos anos ignorando a fé e que se reaproximam porque encontram um ambiente familiar, feito de simplicidade e autenticidade ao qual podem aderir com entusiasmo.
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