05 Abril 2011
Na tarde dessa terça-feira, as militantes do MAB presentes no Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens debateram sobre a violação dos direitos humanos sofrida pelas populações atingidas por barragens. Os participantes da mesa, o militante do MAB membro da Comissão Especial "Atingidos por Barragens", Leandro Scalabrin e a coordenadora nacional do MAB, Ivanei Dalla Costa, ressaltaram que as mulheres são as mais prejudicadas pelo processo de implantação das barragens, mas que esse fato é invisibilizado.
A reportagem é do portal do MAB, 05-04-2011.
Durante o painel, as participantes receberam cartilhas com a síntese do relatório da Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. O relatório, feito a partir de denúncias do movimento, confirmou a existência de 16 direitos humanos sistematicamente violados em construção de barragens.
Scalabrin destacou a importância do relatório: "É como se tivéssemos uma sentença de um juiz que reconhece que as barragens são culpadas pela violação dos direitos dos atingidos".
Ele também afirmou que as mulheres são mais afetadas pela construção de barragens do que os homens. Como elas estão em empregos mais precários que eles, sofrem mais para se reestabelecer economicamente quando há o deslocamento causado pela obra. Também são as mais afetadas pela degradação do meio ambiente. Além disso, são vítimas da exploração sexual em áreas de construção de barragens, como é o caso nas usinas do Rio Madeira.
"Se nós pegarmos os relatórios de impacto feitos pelas construtoras de barragens, parece que as violações de direitos de homens e mulheres são as mesmas. Há uma invisibilização dos impactos específicos que só as mulheres sofrem", diz.
A coordenadora do MAB, Ivanei Dalla Costa, reforçou que, além dos direitos de ter casa, terra, comida de qualidade, saúde, transporte e amor, as mulheres têm direito de participar das decisões políticas em todas as instâncias: seja dentro de casa, seja na comunidade, e assim por diante. Esse direito foi retirado das mulheres na história da sociedade.
"Nós precisamos compreender quem são as pessoas que estão violando nossos direitos. Elas não pensam no direito do ser humano, mas em acumular capital, com muita ganância, às custas da classe trabalhadora desse país inteiro. Nós temos que fazer a luta contra quem está tirando esses direitos da gente. Temos que estar num coletivo porque de forma individual somos muito fracos."
Ivanei afirmou que, com a construção das barragens, há perda das terras, mas também de postos de trabalho, do acesso à escola e o rompimento dos laços comunitários, além do aumento da violência sexual. "Também existe uma violência subjetiva, que não pode ser escrita no papel, e a insegurança. Não existe dinheiro que pague isso na vida de uma mulher."
Depoimentos
Depois das falas de Leandro Scalabrin e Ivanei Dalla Costa, foi a vez de militantes de várias regiões de luta do movimento darem seus depoimentos.
Cleonira dos Santos, atingida pela barragem de Barra Grande (SC/RS), lembrou das dificuldades da luta, que custou "muita lágrima e até gota de sangue". Mas também relatou as conquistas. Dilma Ferreira, atingida pela barragem de Tucuruí (PA), afirmou que quando houve a construção da barragem, a empresa prometeu desenvolvimento para a comunidade, mas o que houve na verdade foram muitos casos de prostituição, perda de terras, muitos acidentes e doenças – males que nunca foram reparados.
Flávia Lessa Ribas, ameaçada pela barragem de Itaguari (BA), reforçou que a barragem ainda não foi implantada graças à resistência e a luta das populações atingidas do local. Aldimeire dos Santos, ameaçada pela construção de Belo Monte (PA), falou sobre a violência que recai sobre as mulheres quando se instala o canteiro de obras, devido à presença de um elevado número de operários vivendo em situações precárias.
Miriam Gimenez, militante da luta contra barragens no México, ressaltou a importância da solidariedade internacional entre os atingidos por barragens. Tairene Rodrigues, da região do Tapajós, reforçou a importância do rio na vida das comunidades e destacou que a vida das mulheres piora quando têm que deixar suas terras e ir para a cidade.
Laila de Oliveira Costa, atingida pela barragem de Sobradinho, afirmou que, após a construção da barragem, a maioria das pessoas foi deslocada para lugares de difícil acesso à água, energia, educação e moradia. Creuza da Silva, atingida pela barragem de Samuel (RO), falou sobre o tráfico de mulheres que ocorre para as áreas das barragens com conhecimento e conivência das construtoras.
Marta Caetano, atingida pela barragem de Fumaça (MG) encerrou as falas dizendo que as mulheres de sua região tiveram um avanço porque no processo de luta contra a barragem descobriram os direitos que tinham. "Quando olhamos as matas verdes do reassentamento, sabemos que ali tem lágrima de sangue de companheiro e de companheira".
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"Os impactos sofridos pelas atingidas são invisibilizados" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU