30 Março 2011
O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, convidou o vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), José Lopez Feijóo, para trabalhar em sua assessoria pessoal no Palácio do Planalto. O convite ocorre no momento de maior tensão no relacionamento da CUT com a Força Sindical, sua principal oponente no meio trabalhista, e de "braços cruzados" nos canteiros de obras do PAC.
A reportagem é de Raymundo Costa e publicada pelo jornal Valor, 31-03-2011.
Feijóo já dirigiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a seção estadual da CUT de São Paulo. É do grupo mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu amigo. Em mais de uma ocasião Lula se referiu a Feijóo como o sindicalista "mais preparado" do país, "extremamente inteligente", um "intelectual" bem informado. No governo de Lula, a CUT tinha "canal direto com o ouvido do presidente", segundo definição de interlocutores da central. Agora, achava-se um tanto quanto equiparada com a Força Sindical, para dizer o menos.
Atualmente, o presidente da CUT, Arthur Henrique, já não esconde que a central encontra-se em avançado processo de ruptura com a Força, sua principal oponente no movimento sindical. Ele julga que já se esgotou a agenda que levou à parceria entre as duas centrais, no governo do presidente Lula, que, entre outras coisas, levou ao estabelecimento de um critério para o reajuste do salário mínimo (variação do PIB mais inflação) e a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) nos quatro últimos anos do segundo mandato do petista.
Entre as atuais diferenças destacadas pela central está o fim do Imposto Sindical, cuja manutenção é defendida pela Força Sindical. Na realidade, o mais provável é que o imposto seja derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e as duas centrais entrem em entendimento em torno de uma contribuição voluntária dos trabalhadores, a qual a CUT chama de "contribuição negocial". A maior oposição ao acordo, por enquanto, é da parte patronal, cujas confederações também recebem parcela do imposto.
Na disputa com a Força Sindical, a CUT não admite ficar atrás. No governo Lula, sempre que se sentia de alguma forma "vítima" de alguma armação da Força, no Ministério do Trabalho, ou de Paulinho, no Congresso, acionava o "canal direto" com Lula. Feijóo é a volta da CUT ao coração do Palácio do Planalto.
No governo da presidente Dilma Rousseff, as duas centrais julgam ter motivos para queixas, mas a CUT, especialmente, queixa-se de ter sido inteiramente alijada do Ministério do Trabalho, desde o segundo mandato de Lula em mãos do PDT do ministro Carlos Lupi e do deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Antes de Lupi, passaram pelo Ministério do Trabalho o deputado Ricardo Berzoini, o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o ex-presidente da CUT e prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Todos do PT e com passagens pelo movimento sindical na direção da CUT.
Na negociação do salário mínimo, a CUT gaba-se de ter defendido até o final o reajuste para R$ 580,00, enquanto a Força Sindical teria sido "ingênua" ao negociar com DEM e PSDB a votação de um salário de R$ 560,00, para, ao final, ser traída pela oposição, que em boa parte votou com a proposta do governo. Governista, de fato a CUT desde o início ficou imobilizada com a decisão de Dilma de não negociar os R$ 545,00 que o governo propôs ao Congresso.
O início do governo Dilma não foi o que esperavam as centrais, acostumadas a rodadas de negociações na era Lula, embora de antemão fosse conhecido o resultado das discussões. Todas sentiram-se agora "atropeladas" por Dilma não só na negociação do salário mínimo, como também na correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A CUT insiste que a correção da tabela do Imposto de Renda em 4,5% ao ano é aceitável, desde que ocorra uma revisão se a inflação for superior ao centro da meta no final do período (a reivindicação original era de 6,47%). A medida provisória baixada por Dilma não prevê nenhuma revisão.
O contencioso do momento é a paralisação de trabalhadores nas obras do PAC, um movimento em cadeia em cujo pano de fundo o governo federal, no início, via uma disputa de base entre a CUT e a Força Sindical. A versão foi desmentida pela CUT que, efetivamente, desde 2007 acionou diferentes setores do governo, especialmente o Ministério do Trabalho, com advertências sobre as relações de trabalho nas obras do PAC. A CUT afinal aplaudiu a formação de uma comissão tripartite - governo, empreiteiras e trabalhadores - para discutir a situação, mas não é bem vista em todo o PT.
Setores do partido avaliam que Gilberto Carvalho levou para dentro do Palácio do Planalto uma "agenda negativa" que não é do governo, ao referendar a expressão "canteiros do PAC". Segundo esse raciocínio, o governo não é parte, é o contratante, o que cabe a ele é exigir das empreiteiras o cumprimento da legislação trabalhista.
Trata-se de uma situação bem à feição de Feijóo, que aceitou o convite do ministro Gilberto Carvalho. Segundo fontes ouvidas pelo Valor na Secretaria-Geral da Presidência, o sindicalista já aceitou o convite e apenas aguarda a desincompatibilização de suas funções na central para assumir o cargo no Planalto. A CUT também espera pela publicação da nomeação no Diário Oficial, antes de se pronunciar. O fato é que os amigos de Feijóo, em São Paulo, já estão organizando um jantar em homenagem ao sindicalista para amanhã, sexta-feira.
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Dirigente da CUT ganha cargo na Secretaria Geral da Presidência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU