28 Março 2011
Dez milhões de vezes acima do limite. É essa a avaliação dos níveis de radioatividade da central de Fukushima que chegou na manhã deste domingo, com as desculpas da Tepco, a gestora da instalação nuclear. À tarde, uma nova correção com novas desculpas: equivocamo-nos, ainda está 100 mil vezes acima do limite. O que significa essa dança dos números?
A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 28-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Respondo tomando – e supondo que não será desmentido – o dado fornecido pela Tepco de 1 sievert por hora", responde Roberto Moccaldi, do serviço de proteção e prevenção do CNR [Conselho Nacional de Pesquisa da Itália]. "É uma dose igual a cerca de 30 milhões de vezes a quantidade máxima aceitável para a população. Mas para os trabalhadores das centrais nucleares o limite é 20 vezes mais alto. Durante uma emergência, esse teto aumenta ainda mais e, no Japão, o elevaram posteriormente. Portanto, tudo depende do ponto de referência. Em todo o caso, são valores altos".
Eis a entrevista.
Que efeitos trazem?
Nesses níveis, em poucas horas de permanência dentro da central, atinge-se a dose letal chamada de 50/60, porque 50% das pessoas expostas morrem dentro de 60 dias por causa dos danos à medula óssea: perde-se a capacidade de produzir glóbulos vermelhos e glóbulos brancos. Os técnicos podem permanecer só poucos minutos dentro da central. E, portanto, o risco é de que a instabilidade dos reatores aumente.
E se aumentasse?
Poderia haver uma explosão mais grave do que as registradas até agora. Uma explosão que mande aos pedaços o recipiente primário, isto é, o escudo de aço que contém a radioatividade.
Como em Chernobyl?
Em Chernobyl, não havia propriamente um recipiente primário. Mas, substancialmente, o cenário é semelhante. Até agora, a grande diferença foi dada pelo fato de que a camada de contenção dos reatores limitou fortemente a fuga da radioatividade.
O que, no entanto, alarmou Tóquio. Que risco corre a população ao redor da área da central?
Em um raio de 30 quilômetros, a exposição, só respirando, superou o limite sugerido para a população, que é de 1 millisievert por ano. Para poder fazer um julgamento sobre o que ocorre em uma zona mais ampla, são necessários outros dados: é preciso entender quantos radionuclídeos entraram na cadeia alimentar e quantos alimentos contaminados foram efetivamente consumidos.
Mais uma vez, faltam os dados. A Tepco, que tem um longo currículo de reticências, de um lado se desculpa e, de outro, não parece colocar os especialistas da Aiea [Agência Internacional de Energia Atómica] em condições de fazer avaliações precisas.
Também é preciso dizer que é uma situação em contínua evolução. Repito, o que me preocupa mais é o nível de radiação que torna muito difícil esfriar o reator.
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"Agora, o risco-Chernobyl está mais perto" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU