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07 Março 2011

"Seja bem-vinda a nova interpretação do Papa Ratzinger ao controverso episódio, embora, é preciso dizer, a exegese histórica das Escrituras havia chegado há muito tempo a esse resultado."

A análise é de Corrado Augias, jornalista e político italiano, autor do livro Inchiesta su Gesù. Chi era l`uomo che ha cambiato il mondo [Investigação sobre Jesus, Quem era o homem que mudou o mundo], com coautoria de Mauro Pesce. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 05-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Sim, bem-vinda a nova interpretação do Papa Ratzinger ao controverso episódio, embora, seja preciso dizer, a exegese histórica das Escrituras havia chegado há muito tempo a esse resultado. O fato de que agora o Papa o escreve é obviamente de grande importância.

Segundo uma eminente corrente de estudiosos, todo o episódio de Pilatos seria uma invenção do texto atribuído a Marcos, o mais antissemita dos evangelhos. O procurador pergunta na praça: "'O que faço, portanto, com aquele que vocês chamam de o rei dos Judeus?'. E eles, de novo, gritaram: 'Crucifica-o!'. Mas Pilatos lhes dizia: 'Que mal ele fez?'. Então eles gritaram mais forte: 'Crucifica-o!'".

Um procurador romano jamais adotaria um procedimento desse tipo. Menos ainda Pilatos, funcionário zeloso e pouco perspicaz. Mateus escreve que, à pergunta de Pilatos, "Todo o povo" respondeu: "Crucifica-o". Das palavras "todo o povo" derivou-se a lenda dos judeus deicidas, fonte de infinitas feridas. Para dissipá-las, basta considerar que, diante do pretório, havia uma praça de dimensões reduzidas. Que as poucas pessoas que se manifestavam eram claramente incitadas pelos "altos sacerdotes" (hoje diríamos as hierarquias), que Barrabás era um bandido só no sentido em que os nazistas chamavam de Banditen os partidários combatentes.

Mauro Pesce, ilustre estudioso das Escrituras, diz: "Parece-me que o episódio de Barrabás é funcional à tendência dos evangelistas de acentuar as responsabilidades de algumas autoridades político-religiosas judaicas e do próprio 'povo' com relação às dos romanos. Desse ponto de vista, considero-a uma reconstrução lendária". Que bom que ela foi o menos possível reinterpretada.