02 Março 2011
José Mujica completou nesta terça-feira o seu primeiro ano de governo. O vice-presidente Danilo Astori foi quem fez o balanço da gestão e ressaltou o alto crescimento e o baixo desemprego que o governo conseguiu nestes meses. Os sindicatos, por sua vez, denunciaram que ainda falta muito para erradicar a pobreza e que a maior dívida do governo da Frente Ampla (FA) é a vigência da Lei de Caducidade, que deixa impunes os repressores da passada ditadura uruguaia.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 02-03-2011. A tradução é do Cepat.
É tempo de fazer contas e de ver quanto se avançou desde a posse do novo presidente uruguaio. "Eu estou bastante satisfeito, mas não totalmente", confessou nesta quarta-feira Mujica diante das câmeras de televisão. Mas para demonstrar que no governo se trabalha em equipe, o ex-militante tupamaro cedeu a vez a Astori para que explicasse quais foram os pontos fortes deste ano. Segundo o vice-presidente, o governo deu maior atenção à moradia, à infra-estrutura e à segurança. "O desemprego em 5,4% é o melhor balanço deste primeiro ano", destacou. Também destacou o diálogo com a oposição, que tem participação nos meios estatais.
Assim mesmo, Astori explicou que é preciso desenvolver políticas integrais para assegurar o crescimento. "A prioridade são as pessoas e o compromisso desta administração é com os uruguaios que trabalham, produzem e criam, com os que investem e arriscam, com os que inovam, com os que educam e curam, com os que trabalharam e contribuíram para o desenvolvimento nacional, com uma atenção especial para os que estudam e se preparam para trabalhar, mas também para ser bons cidadãos e para fazer da cultura a grande alavanca da mudança e da ascensão social", resumiu.
Analistas uruguaios explicam que, na realidade, o verdadeiro governo de Mujica começa agora, porque entra em vigor o Orçamento Quinquenal. "O objetivo principal do orçamento é aumentar o gasto social e os investimentos do Estado em seus principais objetivos: a educação, a segurança, a moradia para os setores mais humildes e a infra-estrutura que necessitamos como o pão para continuar crescendo", coincidiu Astori. Mesmo que tivesse que reconhecer que a pobreza continua sendo uma dívida do Executivo. "Ainda resta muito por fazer e, por isso, reforçaremos todas as políticas sociais", afirmou.
O Plenário Intersindical de Trabalhadores e Convenção Nacional de Trabalhadores (PIT CNT) enfatizou que o governo de Mujica é uma continuidade do exitoso governo de Tabaré Vázquez. "Estamos em uma etapa com muitas conquistas dos dois governos de esquerda, mas o grande déficit tem a ver com a pobreza", disse Gustavo Signorelli, secretário de Imprensa do PIT CNT. "Ainda que estejamos em uma nova etapa de bonança econômica, segue havendo bolsões de pobreza e houve setores empresariais que se enriqueceram demais", disse o presidente do sindicato.
"Sem dúvida, a vigência da Lei de Caducidade é a maior dívida do governo", ressaltou Signorelli. Organizações sindicais, políticas e de direitos humanos convocaram para um ano de mobilização para exigir a eliminação da lei aprovada em 1986. "Temos a expectativa de que haja verdade e justiça e que essa lei de impunidade seja anulada", disse o dirigente da central operária uruguaia.
Atualmente, existe um projeto "interpretativo" para deixá-la sem efeito. Em outubro do ano passado, essa proposta obteve a sanção da Câmara de Deputados, mas está travada no Senado, onde três parlamentares da Frente Ampla se negam a acompanhá-la com seu voto. A Mesa Política da FA resolveu convocar nesta quarta-feira esses três senadores para que expliquem sua postura.
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Governo Mujica está em dívida com a anistia em seu país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU