01 Março 2011
"Eu e você não dá mais, né?" De acordo com fontes ouvidas pela Folha, tal frase teria selado o fim da relação entre a ministra Ana de Hollanda e o sociólogo Emir Sader. Até o fechamento desta edição, no entanto, Sader continuava indicado para assumir a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa.
A observação da ministra sucedeu a entrevista, publicada na Folha, na qual Sader, ao comentar cortes orçamentários, adjetivou a superior como "meio autista".
A reportagem é de Ana Paula Sousa e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 02-03-2011.
No próprio domingo, durante conversa telefônica, Hollanda pediu que Sader se retratasse. O postulante ao comando de uma das mais importantes instituições culturais do país disse que a frase a ele "atribuída" fora publicada fora de contexto. Mas o estrago estava feito.
Ontem, o áudio foi posto pela Folha.com na internet (folha.com.br/is882679).
Assessores ligados à ministra recomendaram a exoneração - que, se acontecer, antecederá sua posse efetiva. "É o teste para ela como ministra", disse, em off, um gestor do Ministério da Cultura.
Há, por outro lado, o constrangimento junto ao PT. Sader articulou, durante o segundo turno das eleições, o encontro que deu origem ao abaixo-assinado de artistas e intelectuais a favor de Dilma Rousseff. É, além disso, ligado a Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e a Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência.
A resolução final sobre o assunto estaria na dependência, inclusive, de uma conversa entre Carvalho e a presidente Dilma.
Sader, que daria início hoje ao processo de transição da Casa de Rui Barbosa, não irá mais à suposta futura casa. Esperará a resolução. Ana de Hollanda, anteontem, manifestou o desejo de manter no cargo o atual presidente, José Almino de Alencar.
INCÔMODO PETISTA
A voz crítica de Sader, de acordo com funcionários e ex-funcionários do MinC, seria também a voz de parte do PT, que está descontente com os rumos da pasta.
O próprio Sader, depois de saber da última mudança feita na pasta, na Diretoria de Direitos Intelectuais do MinC, teria dito, a conhecidos, que estaria "mais cômodo saindo do que ficando".
É que a troca de comando nessa diretoria trouxe à tona, mais uma vez, a polêmica questão da reforma na lei do direito autoral, levada a cabo nos anos Lula e freada quando Hollanda assumiu.
A reforma é, porém, defendida, pelo setor cultura do PT. O próprio líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira, posiciona-se sobre o assunto. "Não cabe a mim avaliar ministros. Mas a reforma que vinha sendo conduzida era fundamental, em face da atual legislação draconiana", diz Teixeira.
A substituição de Marcos Souza na diretoria de Direitos Autorais por Márcia Regina Barbosa vinda da Advocacia Geral da União, também provocou reações negativas em parte do setor musical.
"Foi uma atitude precipitada", diz Jorge Vercillo. "O MinC deveria ser o primeiro a querer a reforma da lei. E os direitos autorais têm que ser vistos como um assunto técnico, não político."
Vitor Ortiz, secretário-executivo do Ministério, argumenta que a ministra tem a liberdade de montar uma nova equipe e refutou as acusações de que a nova responsável pelos direitos autorais tem ligações com o Escritório Central de Arrecadação de Direitos (Ecad).
"Essa ilação é totalmente falaciosa", afirma. Parte da equipe técnica de Souza deve, porém, colocar seus cargos à disposição em solidariedade ao ex-chefe.
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Diretos autorais e críticas de Sader a ministra abrem crise na Cultura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU