25 Fevereiro 2011
O governo começou a cozinhar mais medidas a fim de conter a inflação e a descrença geral de que vai cortar gastos e conter a alta de preços. Não sabe bem o que, nem sabe conversar com o público a respeito. Mas deixou vazar a sua "preocupação", dados os últimos indicadores econômicos e o aumento da tensão na praça econômica global.
O comentário é de Vinicius Torres Freire em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 25-02-2011.
Os desconfortos mais recentes derivam da evidente descrença do mercado em relação ao controle rápido da inflação, do risco de choque do petróleo e do esgotamento de medidas heterodoxas de contenção de crédito e de consumo.
Em dezembro, o governo decidira que o Banco Central tomaria medidas a fim de reduzir a oferta de crédito, como se recorda. Recolheu dinheiro dos bancos com o objetivo de reduzir o dinheiro disponível para empréstimos. Induziu os bancos a reduzir os prazos de financiamento e a elevar as taxas de juros.
Eram as "medidas macroprudenciais". Em miúdos, normas que têm como objetivo primário evitar um excesso de empréstimos que acabe em calotes e problemas em bancos, mas que também servem para conter o consumo e a inflação.
As medidas tiveram o efeito mais ou menos esperado. A quantidade de dinheiro que os bancos têm de deixar "estacionada" no BC aumentou uns R$ 80 bilhões, para quase cerca de R$ 404 bilhões. Os prazos de financiamento pararam de aumentar, juros subiram bastante em janeiro. Se isso vai ter algum efeito na inflação, é cedo para saber.
Mas as "medidas macroprudenciais" não fizeram tanto mais efeito neste mês, segundo disse ontem o BC. Não sabemos se o BC esperava mais arrocho. Ainda assim, fica a dúvida a respeito do que farão BC e governo para esfriar a economia.
Haverá mais "medidas macroprudenciais", um tipo de política anti-inflacionária dita "heterodoxa" (a ortodoxa é elevar a taxa básica de juros, a Selic)? Faz duas semanas, os povos do mercado vinham palpitando que em março poderia haver nova rodada "macroprudencial". O pessoal do governo diz apenas que o assunto será "rediscutido" a partir da semana que vem. Março começa na terça-feira que vem.
Haverá mais aumento de juros? No mercado financeiro, a crença que se pode depreender das taxas de juros futuros na praça é a de que haverá aumento adicional de pelo menos dois pontos percentuais. Haverá novo e grande empréstimo do Tesouro (nós) para o BNDES, que empresta dinheiro a juro baixo, subsidiado para empresas? Faz sentido estimular o crédito via banca pública em momento de contração de gastos e de alta dos juros?
Sim, o ritmo de crescimento do crédito de bancos públicos enfim baixou. Em julho de 2009, o total de crédito dos bancos públicos (afora o BNDES) crescia a 40% sobre o ano anterior; o do BNDES também. No setor privado, a 10%.
Agora, o estoque de crédito dos bancos públicos (sem BNDES) cesce a 18%; mas o do BNDES ainda sobe a 24,5%; o da banca privada, a 20%, próximo da média geral. Haverá, enfim, o tal corte de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011, que ainda não colou na praça?
Haverá, enfim, reação "prudencial" do governo em relação ao risco de um "extra" na inflação devido à alta do preço do petróleo?
Dúvidas e dúvidas, e o governo conversa mal com a praça.
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Inflação. O governo está incomodado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU