19 Fevereiro 2011
"Depois de ter consultado meu diretor espiritual e após muita oração cheguei à conclusão de não estar em condições de promover em consciência a nova tradução. Estou certo que os bispos solicitam um orador que esclareça os aspectos positivos do Missal, mas isso exigiria fazer afirmações nas quais não creio", escreve Antony Ruff, monge beneditino, da Abadia de Saint John em Collegeville no Minnesota (EUA) e docente de liturgia e canto gregoriano, em carta aos bispos americanos, e publicada pela revista semanal inglesa The Tablet e pela revista semanal, dos jesuítas americanos, America, 07-02-2011.
O monge fez parte do Comitê que elaborou o documento de 2007 da Conferência Episcopal dos Estados Unidos "Cantai ao Senhor: a música na sagrada liturgia". É fundador do National Catholic Youth Choir e responsável do blog Pray Tell. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a carta.
Vossas Eminências, vossas Excelências:
É com o coração pesado que recentemente assumi uma decisão difícil referente à nova tradução inglesa do Missal Romano. Decidi especificamente anular todas as minhas intervenções para apresentação do novo Missal que eram programadas em giro pelos Estados Unidos. Depois de ter consultado meu diretor espiritual e após muita oração cheguei à conclusão de não estar em condições de promover em consciência a nova tradução. Estou certo que os bispos solicitam um orador que esclareça os aspectos positivos do Missal, mas isso exigiria fazer afirmações nas quais não creio.
Amo a Igreja, amo a sagrada liturgia, amo o canto em língua latina e aquele em língua inglesa, e tem sido para mim uma grande riqueza ter sido envolvido em tudo isso, como monge e como padre. Como tem sido para mim uma honra prestar o meu serviço até pouco tempo atrás como presidente da secção para a música da Comissão internacional para a Liturgia em língua inglesa (ICEL), a qual predispôs todos os cantos para o novo Missal.
Todavia, o meu envolvimento neste processo, como também minha reflexão sobre os motivos de escândalo da Santa Sé, progressivamente me abriram os olhos sobre os profundos problemas no interior das estruturas de poder da nossa igreja.
O Novo Missal é agora iminente, mas também isso faz parte de um esquema mais amplo de imposições baixadas do alto da parte de uma autoridade central que não se considera responsável por uma igreja maior. Quando penso em como tenha sido mantido em segredo todo o trabalho de tradução, e quanto tenha sido quase inexistente a consulta a padres e leigos, e como a Santa Sé tenha permitido a um grupo extremamente restrito de pessoas levarem a termo a redação final, e como tenha sido insatisfatório o texto licenciado, e como o texto tenha sido imposto uma vez mais do alto às conferências episcopais nacionais em violação de sua legítima autoridade, e de quantos erros tenham caracterizado este processo, e por acréscimo, quando penso nos ensinamentos de Nosso Senhor em termos de serviço, amor e unidade... me dá vontade de chorar.
Registro certa desilusão em relação à Igreja católica entre os meus amigos e conhecidos. Vejo que alguns a deixam com convicção, outros se afastam gradualmente, alguns aderem a outras confissões, alguns permanecem católicos não sem dificuldade. Meu propósito é o de permanecer nesta Igreja e fazer o melhor que possa para servi-la. Esta é a minha esperança, a ponto de exprimir o que penso, sempre com caridade e respeito. Asseguro minha disponibilidade em participar de futuros projetos em âmbito litúrgico, mas somente em presença de condições favoráveis.
Desagradam-me as dificuldades que estou causando a outros com minha retirada, mas estou convencido que esta seja para mim a coisa certa a ser feita. Rezarei por vós e por todos os responsáveis pela nossa igreja.
Paz em Cristo.
Fr. Antony Ruff, osb
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"Não posso promover em consciência a nova tradução inglesa do Missal Romano" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU