17 Fevereiro 2011
A costa-riquenha Christiana Figueres assumiu faz sete meses um difícil desafio. Converteu-se na máxima representante na luta contra o aquecimento global da ONU – a secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática -, depois do fiasco do Encontro de Copenhague e do abandono do cargo por parte de Yvo de Boer. Como explica em entrevista ao El País, 17-02-2011, essa antropóloga neta de catalães, ainda que o panorama tenha mudado bastante depois do Encontro de Cancún em dezembro, não se avançará sem que os países mais desenvolvidos assumam compromissos maiores.
Eis a entrevista. A tradução é do Cepat.
Como estão as negociações do clima?
Cancún foi um grande passo para os países, mas muito pequeno para o planeta. Foi o maior esforço coletivo jamais feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a demonstração mais clara para os países em desenvolvimento. Além disso, deu um claro sinal para o setor privado de que precisamos avançar para uma economia de baixo carbono. Mas, lamentavelmente, a redução de emissões de 80 países que está sobre a mesa de negociação representa apenas 60% do que se necessita para conter o crescimento da temperatura em dois graus.
De onde virá então os 40% da redução que falta?
Uma possibilidade é buscar a redução em diferentes setores. Algumas das emissões que não estão contabilizadas são as do transporte marítimo e aéreo. Mas ainda que parássemos todos os aviões e barcos reduziríamos apenas 5% das emissões globais. As nações industrializadas terão que fazer um esforço maior. E logo os grandes países em desenvolvimento. Nenhuma nação pode estar insenta da responsabilidade moral de reduzir até onde possa. Temos o exemplo de países muito pequenos que têm apenas a responsabilidade de 0,01% das emissões globais e que mesmo assim estão fazendo os seus esforços como Maldivas ou Costa Rica.
É possível compromissos de redução vinculantes?
Isso ainda está no ar. O fato de ser legalmente vinculante te dá um pouco mais de certeza, mas tampouco garante que se vá avançar. Um exemplo: O Canadá não apenas assinou como também ratificou o Protocolo de Kioto e, portanto, o seu compromisso é legalmente vinculante. Mas, entretanto, não se fez nada.
Esperava mais dos EUA com a chegada de Obama?
Sim. Esperava que assumisse um compromisso proporcional a sua responsabilidade histórica e a sua capacidade tecnológica e que aprovasse uma legislação nesse sentido. Obama ofereceu em Copenhague uma redução de 17% com base em 2055 e em Cancún reiterou esse compromisso em que pese não ter uma legislação. Esperamos que a que está em curso sirva para avançar.
A União Européia perdeu peso nas negociações?
Não acredito. A UE tem sido importante com sua liderança empurrada por uma das populações mais conscientes do problema.
A crise fez com que a Espanha deixasse de ser uma das últimas nessa luta?
A crise financeira vai ajudar a muitos países cumprirem o Protocolo de Kioto, mas isso é apenas circunstancial. A longo prazo, a Espanha e todos os outros países da Europa precisam se dar conta que para além de ser uma responsabilidade, medidas contra as mudanças climáticas podem também favorecer a economia.
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"Cancún foi um passo muito pequeno para o Planeta" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU