15 Fevereiro 2011
“O país adia outra vez a possibilidade de mudar de patamar no ritmo e na qualidade do crescimento”. O comentário é de Vinicius Torres Freire em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 16-02-2011.
Eis o artigo.
A paisagem da economia no primeiro biênio de Dilma Rousseff será mais cinzenta que a do espetáculo circense do crescimento no ano final de Lula. Pelo menos tal é a estimativa dos economistas do Itaú.
O pessoal do banco acaba de revisar para baixo sua projeção de crescimento para 2011 e 2012, antes em 4,3% em cada ano, para 4% e 3,8%. A inflação ficaria em altos 5,8% em 2011 e quase voltaria à meta oficial em 2012, para 4,7%.
"Serão dois anos de ajuste, provavelmente, consequência do que ocorreu nos dois anos finais do governo Lula, de expansionismo fiscal e inflação em alta", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú.
A economia deve ter crescido em torno de 7,5% no ano passado. Assim, teria crescido em média 4,6% sob Lula 2 e 3,5% sob Lula 1. Pela estimativa do Itaú Unibanco, pois, o primeiro biênio de Dilma estaria na média luliana. A projeção inicial do governo era, porém, de crescimento de 5,9% ao ano de 2011 a 2014.
A taxa de juro básica, Selic, terminaria este ano em 12,5% e em 11,5% no seguinte, ambas revisadas para cima. A taxa de juro real seria de uns 6% no final do biênio, com dólar ainda a R$ 1,70, e deficit em conta- -corrente em incômodos 4% do PIB.
Para Goldfajn, o Banco Central não vai se limitar a conter a inflação com juros, só. Viriam mais medidas administrativas a fim de limitar a oferta e os prazos de financiamento. Quando e quanto mais? "Não tem muita ciência nesse mix [de política monetária]. Eles precisam observar o efeito das medidas macroprudenciais já adotadas. Talvez o final do primeiro trimestre seja um bom momento para avaliar o que precisa ser feito", diz o economista, que foi diretor do Banco Central (2000-2003).
A alta de juros, o arrocho de crédito e a contenção de gasto público talvez tenham de ser mais fortes caso o preço das commodities (comida, minério, metais, combustíveis) suba além do previsto, o que tem ocorrido desde o final de 2010.
O "ajuste cíclico" é uma espécie de dieta de janeiro, pós-festas de final de ano - o gasto do final de Lula seria o equivalente da comilança. Além de juros maiores, a dieta de Dilma teria um superavit primário de 2,5% em 2011 e de 1,9% em 2012, quando a dívida pública cairia a 38% do PIB (dos atuais 40,6%).
Goldfajn acredita que o crescimento real do gasto do governo vá a uns 5% no ano que vem. Afora os anos de crise, o gasto federal subiu em torno de 9% sob Lula. Neste ano, caso se confirmem os cortes anunciados, cresceria uns 2%.
De mais positivo, o economista diz ter uma "percepção" de que Dilma vai gastar menos em salário e em custeio e mais em investimento. Depois da dieta bienal de Dilma, o crescimento poderia ficar nuns 5% "por vários anos", diz Goldfajn.
Não parece ruim. Porém, o país adia outra vez a possibilidade de mudar de patamar no ritmo e na qualidade do crescimento. Isso demanda dívida pública, juros e impostos menores. Na campanha, Dilma disse que pretendia terminar seu governo com juros reais de até 3% e dívida em 30% do PIB; faria ainda a reforma tributária, ora inviável.
A serem certeiras as estimativas do Itaú, um ajuste apenas "cíclico" não bastará para levar os indicadores macroeconômicos básicos a esse nível desejável e desejado por Dilma. Não será bastante para fazer o país crescer mais rápido.
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A dieta de Dilma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU