13 Fevereiro 2011
Eles chamaram a si mesmos de "revolucionários 2.0". Eram cineastas, ativistas políticos e jovens entendidos em computadores - homens na casa dos 20 ou 30 anos que passaram a representar a arredia e informatizada juventude egípcia. Numa sala de estar no Cairo, esperavam notícias do levante que ajudaram a fomentar.
A reportagem é de Ned Parker e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 14-02-2011.
Tinham sido surpreendidos pelo discurso de Hosni Mubarak na noite anterior. Mesmo com a vitória parecendo tão próxima, o ditador anunciou que não deixaria o poder. Agora, no fim da tarde de sexta feira, se reuniam perto da televisão, sem tirar as mãos dos laptops. Parecia que outro discurso seria feito.
"Estamos vendo uma revolução sem paralelo na história. Ela tem dois lados", disse Khalid El-Baramawy, de 33 anos, editor do masrawy.com, popular site de notícias que se dedica à cobertura de casos de corrupção e violência policial. "O lado ruim é o fato de não podermos controlá-la. Não sabemos o que está ocorrendo do outro lado da rua." Do ponto de vista positivo, disse ele, "Mubarak não sabe como lidar conosco".
No grupo estava Wael Ghonim, o esguio jovem executivo do Google que ajudou a organizar os protestos por meio de uma página do Facebook que atraiu mais de 70 mil seguidores. A recente detenção de Ghonim nas mãos das forças de segurança o transformou num poderoso símbolo da oposição. Também estava Ahmed Maher, de 28 anos, engenheiro e organizador de protestos que atua na oposição egípcia desde 2002, suportando repetidas prisões. E Ahmed Salama, cineasta. Todos eram produto de um Egito que abriu suas portas ao comércio ocidental e à cultura da internet, trazendo imensas novidades para a atuação destas pessoas.
Todos pararam de digitar e se voltaram para a TV. A declaração do vice-presidente Omar Suleiman foi sucinta: Mubarak entregaria o poder às forças armadas. Eles pularam de suas cadeiras aos gritos de "Viva o Egito".
Se revoluções anteriores nasceram em mesquitas e cafés esfumaçados, esta nasceu online. Ao menos foi esta a sedutora narrativa adotada pelos jovens ativistas. Já existe um debate considerável quanto à real influência de sites como Facebook e Twitter na rebelião. O mais célebre dos céticos, Malcom Gladwell, da New Yorker, disse que tais formas de comunicação online não afetaram a natureza da revolução. "As pessoas organizavam manifestações e derrubavam governos muito antes da invenção do Facebook", escreveu ele na semana passada.
Mas outros argumentaram que a tecnologia amplificou a mensagem dos manifestantes, ajudando a reunir o apoio internacional em torno de sua causa. Ghonim conheceu Maher em abril durante um comício de Mohamed ElBaradei, político da oposição, ex-diplomata da ONU e ganhador do Prêmio Nobel. Por dois meses o grupo se reuniu uma vez por semana. A página que criaram no Facebook atraiu mais de 70 mil pessoas e serviu de ferramenta para o lançamento dos protesto na Praça Tahrir, no dia 25.
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Jovens ativistas e a "revolução 2.0" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU