11 Janeiro 2011
No próximo dia 8 de fevereiro, o Fórum Mundial de Teologia e Libertação - FMTL irá celebrar, dentro do Fórum Social Mundial - FSM, em Dakar, no Senegal, uma oficina sobre "Religiões e Paz: A visão/teologia necessária para tornar possível uma Aliança de Civilizações e de Religiões para o bem comum da humanidade e a vida no planeta". A organização da oficina é da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo - ASETT/EATWOT.
Para facilitar a participação e o debate, a EATWOT disponibilizou as conferências resumidas de vários especialistas que serão apresentadas sobre a temática proposta na oficina do ano que vem.
O sítio do IHU, em suas Notícias do Dia, está disponibilizando as principais conferências a respeito da temática. Veja abaixo, em "Para ler mais", a lista de textos já publicados.
Além disso, também foi publicada uma proposta de Agenda teológica 2011-2013, para ser debatida no seminário do FMTL.
No texto de hoje, Reinhard Kirste, do Interreligiöse Arbeitsstelle, na Alemanha, comenta que "uma teologia (cristã) do pluralismo religioso tenta reconhecer a validade de cada tradição religiosa e aceitá-las como caminhos independentes para a salvação". Por isso, é preciso "abandonar a ideia de que o outro é um estrangeiro e, por meio do encontro, a tomar consciência do que temos em comum e do que nos diferencia". A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Encontro entre as religiões
A teologia necessária para caminhar rumo à verdade da fé e à revelação para a salvação
Durante muitos séculos, os católicos mantiveram a chamada posição exclusivista ("fora da Igreja não há salvação"), cuja variante protestante era: "fora do cristianismo não há salvação". Isso ainda é cultivado parcialmente em uma perspectiva missionária, embora já não tão notoriamente sob as condições pós-coloniais.
No fim, a posição inclusivista é uma compreensão cristã que se considera superior às demais tradições de fé (Hans Küng e Walter J. Hollenweger, por exemplo, apesar de sua abertura dialógica). A expressão de Karl Rahner que chama as pessoas de outras religiões de "cristãos anônimos" é tão famosa quanto problemática. O principal obstáculo da posição inclusivista é constituído pelas exigências cristológicas impostas sobre as outras tradições de fé, embora elas se expressem em boas formas (quer se trate de uma forma de inclusivismo "estrita" ou "suave"). O inclusivismo continua considerando isso obrigatório para manter a superioridade do cristianismo, porque, do contrário, os outros não necessitariam da cruz e da ressurreição de Cristo para a sua salvação.
Por outro lado, uma teologia (cristã) do pluralismo religioso tenta reconhecer a validade de cada tradição religiosa e aceitá-las como caminhos independentes para a salvação. O teólogo Paul Schwarzenau, falecido em novembro de 2006, formulou isso assim:
"Todas as religiões precisam umas das outras, não apenas naquilo que têm em comum, mas também em suas diferenças. Dessa forma, elas se complementam. Em nossa própria religião, queremos nos sentir em casa, e na outra religião queremos nos sentir como hóspedes, não estrangeiros".
Assumir essa atitude de diálogo nos leva a abandonar a ideia de que o outro é um estrangeiro e, por meio do encontro, a tomar consciência do que temos em comum e do que nos diferencia, sem que isso se torne em obstáculo para os diferentes caminhos de salvação. O encontro, além disso, ocorre constantemente entre os seres humanos. Sua forma de ocorrer é muitas vezes um indicador mais preciso do que a teologia ou a filosofia. Quanto mais insistimos em posições dogmáticas, mais difícil é ter um encontro pacífico que leve a uma boa relação entre as religiões.
As posições pluralistas veem as religiões como fóruns, não no sentido de uma fé de acordo com o meu gosto, mas sim para facilitar a superação de fronteiras e para experimentar assim um enriquecimento mútuo. Devemos despertar deliberadamente uma consciência de tolerância e de reconciliação entre as religiões.
Para isso, as seguintes teses podem ajudar:
- O diálogo só pode ocorrer entre iguais.
- Pretensões absolutas de qualquer religião (incluindo o cristianismo) só podem ser válidas dentro dessa mesma fé. As proposições inclusivistas – quer sejam explícitas ou ocultas –, que consideram as outras tradições como inferiores, não são permitidas, nem as pretensões inclusivistas. Isso inclui considerar, por exemplo, os outros como "anônimos", quer sejam cristãos, budistas, muçulmanos...
- A missão (especialmente na fé cristã) deve ser, portanto, interpretada no sentido de um testemunho e compromisso pessoal, sem pretender converter o outro à minha própria expressão de fé.
- As diversas religiões não expressam a última verdade. São aproximações linguísticas, rituais e espirituais ao transcendente. Sua mensagem é de natureza temporária e precisa ser revisada e atualizada.
- As religiões fazem parte de várias culturas e de diferentes formas de pensar. Por isso, elas devem ser entendidas como caminhos diferentes para a salvação.
- Em um mundo globalizado, nenhuma religião pode viver para si mesma, mas somente em relação com as outras. Por isso, o encontro inter-religioso é tanto um desafio quanto, ao mesmo tempo, um enriquecimento. Em outras palavras: os pontos de vista das outras religiões é necessária, no sentido de que se complementam mutuamente.
Reinhard Kirste
Interreligiöse Arbeitsstelle (INTR°A), Alemanha
www.interrel.de
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Encontro entre as religiões: não ao inclusivismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU