11 Março 2009
De tempos em tempos, desde que foi eleito, o governo Yeda Crusius vem recebendo denúncias sobre sua gestão e coordenação dos recursos do Rio Grande do Sul. Um verdadeiro choque de gestão, como dizia a campanha de Yeda, pois movimentos sociais travam uma luta com o governo, que, por sua vez, os ignora, os investimentos sociais foram drasticamente reduzidos e empresas que só visam usufruir das riquezas do estado saem ganhando, como é o caso das papeleiras. “Esse choque de gestão é lema que foi colocado com um atrativo eleitoral, e que de fato aconteceu, mas no sentido da declinação das políticas públicas, da declinação do desempenho de recursos para sanar as contas públicas e, ainda, da destinação de recursos para fins que estavam de acordo somente com o governo”, comenta o professor Aloísio Ruscheinsky na entrevista que concedeu, por telefone, à IHU On-Line. Ruscheinsky traz aqui reflexões importantes para que possamos repensar o estado do Rio Grande do Sul, seu desenvolvimento e seu retrocesso em termos de gestão.
Aloísio Ruscheinsky é professor de Ciência Política na Unisinos, onde, em 1978, graduou-se em Ciências Sociais. É mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e doutor em Sociologia, pela Universidade de São Paulo. Ele é professor e pesquisador do PPG em Ciências Sociais da Unisinos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – De tempos em tempos, o governo Yeda passa por novas denúncias e escândalos. Que governo é esse que está sendo feito por Yeda Crusius?
IHU On-Line – Como o senhor analisa a dificuldade de diálogo do governo Yeda com os movimentos sociais?
Aloísio Ruscheinsky – Essa questão de não dialogar com os movimentos sociais não é uma novidade. A novidade é, pelo menos eu não conhecia, a face personalista e autoritária da própria figura da governadora. Eu desconhecia essa face antidemocrática, que fazia parte da sua personalidade política. O fato de não negociar com os movimentos populares tem a ver com o conjunto de partidos que apoiam Yeda, pois grande parte deles também é contra os movimentos sociais. Uma das grandes faces da não-negociação com os movimentos se deu no que diz respeito ao licenciamento ambiental. Há dois anos, Yeda vem demonstrando que seu governo não negocia com movimentos populares. Trocou, por exemplo, um secretário que entendia de questões ambientais para colocar alguém no lugar alguém favorável às grandes corporações. Então, portanto, esse foi um dos marcos desse governo, ou seja, virar as costas para os movimentos e para a sociedade civil, a fim de se colocar a favor das grandes empresas e dos prováveis financiadores de sua campanha. A não-negociação com os movimentos sociais teve, recentemente, mais um dos grandes episódios, quando um conjunto de movimentos sociais e sindicatos tentaram mover uma campanha em função dessa não-negociação. Essa face vem se aperfeiçoando ao longo desses anos. Não estou querendo fazer um discurso contra esse governo que foi democraticamente eleito. Esse grito, se não for bem sustentado, pode ser de um naipe também autoritário, por isso é importante enumerar as razões pela quais as manifestações podem ser justificadas.
IHU On-Line – A partir das medidas implementadas pelo governo Yeda, podemos dizer que o Rio Grande do Sul está redesenhando o seu mapa econômico?
Aloísio Ruscheinsky – Eu diria que essa gestão de fato não reverteu algo que seja notável do ponto de vista social. Ela pode ter investido do ponto de vista de corte de investimentos públicos em áreas sociais. Então, portanto, o déficit zero é antes um marco retórico do que um feito que possa orgulhar o cidadão gaúcho comum que precisa dos serviços prestados pelos órgãos públicos. Então, nesse sentido de rever as contas, o que de fato ocorreu são os cortes nas áreas mais sensíveis, ou seja, para a população que mais necessita no estado. Afinal, os financiamentos para as empresas, para aquilo que sustenta um governo (no sentido eleitoral, na mídia), não foram cortados. Pelo contrário, o que sei é que essas verbas para publicidade têm uma ascensão vertiginosa nesse governo. O choque de gestão só funciona como um choque de investimentos de legitimação através do uso intensivo da mídia. É algo como a compra da capacidade de opinião dos meios de comunicação, tanto que os grandes veículos de comunicação estão aleijados na sua capacidade de divergência em função desses substantivos investimentos que têm sido feitos nessa área de propaganda.
IHU On-Line – Como o senhor vê a forma como o governo do Rio Grande do Sul está tratando as consequências da crise financeira?
Aloísio Ruscheinsky – Eu diria que essa não é uma questão que os governos locais tratam de forma direita e imediata. Eu diria, antes, que isso dá impactos indiretos, pois quem mais trata do reordenamento da economia são as empresas e o governo federal. Em minha opinião, o governo do Estado não tem tomado medidas que se pautem a partir dessa questão.
IHU On-Line – A crise política expõe fragilidades em que setores do governo gaúcho?
Aloísio Ruscheinsky – A fragilidade política é um assunto sério no tocante à construção da legitimidade, ou seja, de uma hegemonia que possa estar de fato exercendo o poder. O traço autoritário, que anteriormente citei, tem a ver exatamente com essa dificuldade de constituir uma legitimidade entre seus próprios pares. Não é só a dificuldade de ter um governo legitimo e dialógico com os movimentos populares, pois este governo também tem dificuldade de organizar sua própria base de sustentação. Em parte, em função das inúmeras denúncias; em parte, pelos interesses divergentes que circulam na sua própria base de apoio. Essa base poderia contribuir para uma confluência de forças no sentido de empreender o projeto, se é que se pode chamar desta forma esta gestão, que não é um projeto que aglutine de fato aquilo que a base quer do governo do estado. A questão das denúncias tem a ver com o que hoje se caracteriza pela busca por financiamento para manutenção prolongada do poder.
IHU On-Line – Quais são os possíveis rumos do governo do Rio Grande do Sul a partir de agora?
Aloísio Ruscheinsky – Eu diria que essa pergunta tem um certo grau de humor, porque o governo não tem um rumo que possa ser digno de alguma coisa. O único rumo é o de sustentar forças políticas, conservadoras e que estão pautadas a serviço de algumas empresas, como é o caso da questão do florestamento. Do ponto de vista de políticas públicas e atendimento aos movimentos sociais, não há rumo. É provável que continue do mesmo jeito daqui para frente.
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Governo Yeda: um verdadeiro choque no Rio Grande do Sul. Entrevista especial com Aloísio Ruscheinsky - Instituto Humanitas Unisinos - IHU