03 Dezembro 2012
"É cedo para declarar que o Brasil se desindustrializou, e um conjunto de fatores sugere a necessidade de sermos mais cautelosos", analisa Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília e assessor econômico do BNDES, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-12-2012.
Eis o artigo.
Um dos assuntos que mais têm atraído a atenção no Brasil são os destinos da indústria. Vários analistas, políticos e líderes empresariais argumentam que o Brasil está se desindustrializando.
Utilizam, para isso, estatísticas de queda da participação do valor adicionado da indústria no PIB, queda da criação de emprego industrial, queda das exportações e crescente deficit comercial industrial, entre outras.
Sem dúvida, esses indicadores sugerem, no mínimo, tendência de estagnação.
Mas ainda é cedo para declarar que o Brasil se desindustrializou, e um conjunto de fatores sugere a necessidade de sermos mais cautelosos. Primeiro, indicadores mais sofisticados, como o de densidade industrial, e comparações internacionais sugerem que é preciso uma análise mais rigorosa. Baixa participação no PIB ou no emprego nem sempre implicam que a indústria seja marginal, tal como atestam os EUA.
Segundo, desindustrialização é um fenômeno de países nos quais outros setores econômicos ganharam proeminência como polos dinâmicos. O setor primário ou de serviços ainda não cumpre esse papel no Brasil, e a indústria ainda é quem mais gera impostos, impactos em outros setores e inovação.
Terceiro, a indústria brasileira passou por vários ciclos nas últimas décadas e mostrou fantástica capacidade de recuperação quando as condições melhoraram.
Quarto, as competências, infraestruturas, diversificação produtiva, capitais e instituições políticas de representação e de ensino profissional -condições para recuperar o dinamismo- ainda estão fortes e presentes.
Quinto, vêm emergindo e continuarão a surgir oportunidades para o desenvolvimento industrial, como pré-sal, PAC e Minha Casa, Minha Vida, sem falar no crescimento do mercado de consumo.
Além disso, políticas públicas voltadas para custos do capital e insumos, infraestruturas, tributos, treinamento e inovação influenciarão a competitividade da indústria.
Parece-nos assim mais razoável concluir que as estatísticas sugerem mais perda de dinamismo que desindustrialização.
A produção industrial mensal será divulgada nesta semana. É improvável que vejamos alguma mudança significativa na tendência. O acompanhamento do desempenho da indústria requer um conjunto mais amplo de indicadores, incluindo investimento, produtividade, atratividade dos empregos, rotatividade, inovação e comércio intraindústria. Quando esses estagnarem ou piorarem por um período longo, então será a hora de colocarmos as barbas de molho.
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Brasil vive desindustrialização ou perda de dinamismo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU